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Postado às 14h00 | 19 Abr 2020 | Redação Baraúnas celebra nesta segunda-feira os 15 anos dos 3 a 0 sobre o Vasco no São Januário

Crédito da foto: Reprodução Zagueiro Nildo marcou o tetracampeão Romário

JORNAL DE FATO

20 de abril de 2005. Estádio de São Januário, Rio de Janeiro. Em campo, o todo poderoso Vasco da Gama, dono da casa. Do outro lado, o pequeno Baraúnas, desconhecido do Brasil. Era o jogo de volta pelas oitavas-de-final da Copa do Brasil. No primeiro confronto, uma semana antes, as duas equipes haviam empatado em 2 a 2 no Estádio Manoel Leonardo Nogueira, o Nogueirão, em Mossoró.

A diferença entre Vasco e Baraúnas, que era e é enorme, desapareceu quando a bola rolou. E o tricolor mossoroense construiu a sua história na Copa do Brasil, a competição mais democrática do futebol brasileiro, ao golear o time cruzmaltino por 3 a 0.

O feito ficou ainda maior porque o Vasco tinha em campo o tetracampeão Romário, terror de qualquer zaga adversária. Coube aos zagueiros Pedroza e Nildo segurarem o baixinho. E a história ganhou ainda mais dimensão porque o Baraúnas tinha em campo o quarentão Cícero Ramalho, de barriga saliente, mas com faro de gol impressionante. Ele marcou um dos gols do “chocolate”. Os outros dois gols foram marcados por Toni e Henrique.

 

ESCOLA EUROPEIA

A “zebra” desmontou o Vasco naquele ano. O presidente Eurico Miranda demitiu o técnico Joel Santana e mandou para a “geladeira” alguns jogadores que não jogaram, absolutamente nada, diante do Baraúnas. A imprensa carioca considerou o “chocolate” por 3 a 0 como uma “humilhação” e comentaristas exigiram mudança de comportamento do time de São Januário.

Em Mossoró, recebido em festa, com direito a passeata na Avenida Presidente Dutra, o elenco tricolor, apesar das limitações, não se mostrou surpreso com o que é considerado o maior feito na história do clube.

Em entrevista ao globoesporte.com em 2015, na passagem de dez anos da goleada sobre o Vasco, o aposentado Cícero Ramalho contou que o estilo de jogo implantado pelo técnico Miluir Macedo surpreendeu o adversário. Um estilo europeu, considerou Ramalho, que não era visto no futebol brasileiro.

“Muitos deles (jogadores do Vasco) se admiraram por Miluir ter uma filosofia europeia. Ele trabalhou muito tempo em Portugal, e eu também joguei na Espanha, e realmente existe esse costume. O Miluir fez isso (treinar no dia do jogo) e, como aqui não existia essa cultura, eles ficaram impressionados. Mas, era só um treino relaxante para você suar e ficar mais esperto. Realmente, o Miluir sempre fazia isso”, declarou Ramalho, em entrevista ao jornalista Carlos Cruz.

O ex-goleiro Isaías, um dos heróis daquele feito, reforçou o que disse Cícero Ramalho:

- O time, com Miluir, treinou às 10h da manhã, em São Januário, no dia do jogo. Enquanto a gente treinava, os jogadores do Vasco, que estavam concentrados lá mesmo, não acreditaram que era o time que ia jogar na mesmo noite contra eles.”

Antes de encarar o Vasco, o Baraúnas havia eliminado o América, de Minas Gerais, e o Vitória, da Bahia. Depois do Vasco, o tricolor mossoroense caiu nas quarta-de-final diante do Cruzeiro, perdendo os dois jogos por 7 x 3 no Nogueirão em Mossoró, e de 5 x 0 no Mineirão em Belo Horizonte.

 

FICHA TÉCNICA

O Baraúnas jogou com Isaías; Da Silva, Pedroza, Nildo e Agnaldo; Célio, Val, Amarildo (Edinho) e Toni; Cícero Ramalho (Henrique) e Álvaro (Hermano). Técnico: Miluir Macedo.

O Vasco atuou com Fabiano Borges; Coutinho, Adriano, Marcos e Jorginho Paulista; Osmar (Diego), Ygor, Allann Delon (Rubens) e Róbson Luiz (Gustavo); Romário e Alex Dias Técnico: Joel Santana.

Gols: Cícero Ramalho, aos 26min do primeiro tempo; Álvaro, aos 10min, e Henrique, aos 22min do segundo tempo

Local: Estádio de São Januário, no Rio de Janeiro

Renda: R$11.260,00

Público: 2.254 pagantes

Árbitro: Édson Esperidião (ES)

Auxiliares: Marcos Antônio Collodetti (ES) e Eurivaldo Lima (RJ)

Cartões amarelos: Osmar (V), Amarildo (B) e Pedrosa (B)

 

“Cícero Romário” ganhou o desafio

Antes mesmo de a bola rolar no São Januário, a chamada grande imprensa valorizou o jogo Vasco X Baraúnas, em virtude do confronto de dois artilheiros veteranos: Romário, o famoso, e Cícero Ramalho, o desconhecido do grande público. O baixinho, 39 anos, caminhava para os últimos passos da carreira; Cícero, com 40 anos, havia encerrado a carreira e voltado aos campos para ajudar ao tricolor mossoroense.

Antes de entrar em campo, Romário alertou: "É um jogador que a gente viu jogando no primeiro jogo, é perigoso e a gente tem que ter atenção nele".

- Como eu tinha 40 anos e Romário também tinha perto disso, a mídia criou aquele duelo. Antes do jogo, ele foi muito atencioso comigo, me cumprimentou e me desejou sorte. Por tudo que ele fez no futebol, as pessoas podem ter uma ideia que ele é meio marrento, mas comigo foi muito tranquilo”, disse Cícero na entrevista ao jornalista Carlos Cruz.

Após o apito final do árbitro Édson Esperidião (ES), os jornalistas se dividiram entre Romário e Cícero. O camisa 11 do Vasco foi chamado para explicar a “humilhação” em pleno São Januário; e Cícero Ramalho, para contar como foi possível o pequeno derrubar o “Gigante da Colina”.

No dia seguinte, os jornais do Rio estamparam manchetes: “Humilhação no São Januário”. E rotularam o veterano artilheiro do Baraúnas de “Cícero Romário”.

 

Baraúnas está longe dos gramados há dois anos

O Baraúnas tenta se reinventar 15 depois do feito histórico no São Januário. Afastado dos gramados desde 2018, o tricolor mossoroense se reestrutura para voltar à elite do futebol do Rio Grande do Norte, embora ainda seja uma incerteza devido à crise provocada pela pandemia do novo coronavírus.

A missão de voltar aos campos está nas mãos da jovem presidente Bárbara Freitas. Ela foi eleita para conduzir o clube pelos próximos dois anos. O desafio é, juntamente com um grupo de abnegados, reunir as condições financeiras ideais para reativar o departamento de futebol profissional.

Bárbara Freitas, 29 anos, é professora de Bioquímica do curso de Medicina da Facene. Ela é filha do ex-jogador Jacozinho, que defendeu o tricolor no memorável time do Campeonato Estadual de 1988 que tinha, além dele, Nonato, Wilson Caneco (goleiro), Doca, Demair e outros.

“A minha ligação com o Baraúnas é desde o nascimento, o meu pai foi jogador do clube e minha mãe sempre foi torcedora e me levava aos estádios para acompanhar o Leão. Isso acendeu a minha paixão pelo clube”, ressaltou Bárbara em entrevista ao jornalista Marcos Santos, sobre o desejo de o time voltar aos gramados no segundo semestre deste ano.

“O nosso trabalho será para retornar o mais breve possível, contudo, não seremos irresponsáveis em colocar o time sem uma renda fixa. Temos o intuito de retornar, porém, de forma organizada e correta. Não vamos colocar de qualquer jeito, mas com profissionalismo. Vamos procurar reativar primeiro o time de base, e buscar cativar o torcedor”.

O seu pensamento é criar o futebol feminino do Baraúnas, mas esse projeto será a médio ou longo prazo.“De fato, há sim um interesse no futebol feminino por sua visibilidade e apelo social. Contudo, somos conscientes da necessidade imediata da instituição, que é o retorno do time aos gramados. A criação do futebol feminino viria na sequência, com um tempo.”

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