Por Gabriela Moreira, Martín Fernandez e Sérgio Rangel / globoesporte.com
Três semanas após o ge ter publicado a denúncia que resultou no afastamento de Rogério Caboclo da presidência da CBF, o clima na entidade é de total incerteza. Em caso de destituição do presidente afastado, os vice-presidentes chegaram a um consenso: não desejam a permanência do interino, Antônio Carlos Nunes, o Coronel Nunes. Porém, Caboclo disse a interlocutores nos últimos dias que tem votos suficientes para voltar ao cargo.
Com bastidores agitados, a CBF se prepara para enfrentar nas próximas semanas três momentos decisivos para o futuro da entidade.
1) A Comissão de Ética tem até o dia 7 de julho para concluir a investigação contra Caboclo, acusado por uma funcionária de assédio sexual e moral. Esse prazo pode ser ampliado;
2) Com base nessa conclusão, a Assembleia Geral (formada por 27 presidentes de federações estaduais) deve votar a destituição ou a recondução de Caboclo à presidência;
3) Em caso de destituição, uma nova eleição deve ser marcada dentro de um prazo de 30 dias, para um mandato-tampão que termina em abril de 2023. Só podem se candidatar os oito vice-presidentes da CBF, e dessa votação participam as 27 federações estaduais (cujos votos têm peso 3), os 20 clubes da Série A (peso 2) e os 20 clubes da Série B (peso 1).
Esse resultado será decisivo para a eleição seguinte, a ser realizada em 2022, cujo vencedor comandará a CBF a partir de 2023, quando terminar o mandato-tampão do escolhido entre os oito vices.
A destituição
Segundo as regras da CBF, decisões da Comissão de Ética devem ser aprovadas por 3/4 de Assembleia Geral. Ou seja: é preciso que 21 das 27 federações ratifiquem uma eventual destituição. Assim, Rogério Caboclo precisa do apoio de sete federações estaduais para voltar à presidência da CBF.
Dirigentes da confederação e de federações estaduais ouvidos pela reportagem consideram "quase impossível" que Caboclo consiga tantos apoios. Mas o presidente afastado da CBF tem dito a interlocutores que tem os votos necessários para qualquer situação.
Rogério Caboclo também partiu para o ataque contra Marco Polo Del Nero, que o escolheu como sucessor (e de quem sempre foi muito próximo), mas que agora identifica como o responsável por um suposto complô que resultou no seu afastamento da presidência.
Ao declarar guerra contra seu ex-padrinho político, Caboclo tenta direcionar os holofotes para Del Nero, que há três anos foi expulso do futebol pela Fifa – mas manteve sua influência sobre a CBF comandada por Caboclo.
A estratégia do presidente afastado é fazer parecer que sua destituição significaria a volta de Marco Polo Del Nero ao comando da CBF. O que é curioso, afinal o próprio Caboclo só chegou à presidência da entidade por ter sido indicado por Del Nero.
Desde o afastamento de Rogério Caboclo, no dia 6 de junho, a CBF é comandada interinamente por Antônio Carlos Nunes, o Coronel Nunes, vice-presidente mais velho. Em caso de destituição de Caboclo, uma nova eleição será convocada, da qual só podem participar os oito vices. São eles:
- Antônio Carlos Nunes, 82 anos, policial militar reformado, ex-presidente da Federação Paraense e presidente interino da CBF entre 2017 e 2019
- Antônio Aquino, 74 anos, presidente da Federação do Acre desde 1984, tem mandato até 2023.
- Castellar Guimarães, 38 anos. advogado, foi presidente da Federação Mineira entre 2014 e 2018.
- Ednaldo Rodrigues, 66, contador, foi presidente da Federação Baiana entre 2001 e 2019
- Fernando Sarney, 65 anos, empresário, filho do ex-presidente José Sarney, integra o Conselho da Fifa desde 2015
- Francisco Noveletto, 66 anos, empresário, foi presidente da Federação Gaúcha de 2004 a 2020
- Marcus Vicente, 67 anos, deputado federal por cinco mandatos, foi presidente da Federação do Espírito Santo de 1994 a 2015
- Gustavo Feijó, 52 anos, ex-prefeito de Boca da Mata (AL) e ex-presidente da Federação de Alagoas de 2008 a 2015
Na última quarta-feira, todos os vice-presidentes que não se chamam Coronel Nunes se reuniram no Rio de Janeiro – seis deles presencialmente e Marcus Vicente de maneira remota. Ali, decidiram que topam apoiar Nunes enquanto a destituição de Rogério Caboclo não for consumada. Mas também acordaram que não topam uma recondução de Nunes na eleição entre os vices. Embora não morem no Rio, todos os vices têm dado expediente semanalmente na CBF, com exceção de Vicente, que é secretário de Saneamento do Espírito Santo.
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