O Censo 2022 foi finalizado em mais de 30% dos setores (pedaços do território) do Rio Grande do Norte. Os recenseadores avançam por cada recanto do Brasil para ajudar a montar o mosaico da sociedade. Um desses lugares é o bairro de Natal com menor população segundo o Censo 2010: Salinas.
Apesar de ter mais de 10 mil metros quadrados, a maior parte das casas está espremida entre a linha férrea e viveiros de camarão. É nesse ambiente com ares rurais, mas localizado na região mais populosa da capital, que o recenseador Raphael Nascimento, de 20 anos, trabalha atualmente.
“É um setor pequeno e as pessoas estão muito receptivas. Elas geralmente convidam pra entrar, oferecem água e estão muito mais abertas a responder. A desconfiança que tinha no início do Censo tá bem menor”, disse em comparação ao setor de trabalho anterior.
Chegar até uma casa no meio das fazendas de camarão é quase uma aventura. Embora esteja a alguns metros da Ponte de Igapó, a Rua Siqueira Campos, no bairro Salinas, não lembra em nada as filas intermináveis de carros que cruzam o rio em horários de pico.
Encontros no caminho
No percurso estreito de areia clara e conchinhas, o recenseador só viu a passagem de dois carros. “Tem mais casa lá pra dentro”, avisou um dos motoristas apontando na direção do Rio Potengi.
Sem muita gente no caminho, Raphael encontrou cachorrinhos amistosos, goiamuns (sempre) tímidos e garças em busca de comida fácil. O recenseador só paralisou ao ser encarado por uma vaca. Por sorte, o olhar potencialmente ameaçador, era só zelo com a cria que estava por perto.
Quando finalmente Raphael encontrou uma casa habitada, o caseiro estava num dos momentos–chave da produção: a despesca, ou “colheita” das fazendas de camarão. “Anotei o número dele pra fazer a entrevista depois por telefone mesmo”, disse.
Além do telefone, o Censo 2022 também pode ser respondido pela internet. Nessas duas situações, o recenseador precisa primeiro ter o contato com o morador. Não é possível responder à pesquisa pela internet sem o código passado pelo recenseador.
Abraçados por rios
A Rua Siqueira Campos é uma das principais do bairro. A via atravessa as fazendas de camarão na parte central de Salinas. Mais ao norte, a rua é dividida ao meio pela linha férrea. É por lá que vive o carpinteiro José Cardoso, de 82 anos, desde pequeno. “Vim de São Gonçalo pra cá. Já era um ‘cabazinho’ que corria pra todo canto”, lembrou.
Ao lado da mulher Lindomar de Abreu, de 75 anos, o casal atendeu o recenseador Raphael no quintal, ampliado informalmente até um dos símbolos do estado: o rio Potengi. Junto com o Jaguaribe, os dois cursos de água dão um “abraço geográfico” no bairro.
O carpinteiro resume como Salinas temperou a sua vida, dos banhos na maré ainda criança até hoje. “Trabalhei muito em viveiro [de camarão]. Aí foi indo, muito camarada mocinho. Eles botavam aqueles moços pra tirar os caba mais ‘vei’. Depois comecei a bater prego”, contou Cardoso.
Ele mudou a profissão, mas a matéria-prima do ofício, passado para filhos e netos, ainda vem da natureza em torno do Potengi. “Ontem fui tirar uns paus lá e passei o dia todinho. É 82 anos, mas não tem esse negócio de ficar em casa, não”, destacou.
Foi nessa atmosfera de “casa dos avós” que Raphael encerrou o dia de trabalho. Por sorte, o jovem estudante de Edificações do IFRN nunca passou por situação difíceis em campo.
Ele sabe que retratar um Brasil tão diverso – com contrastes dentro de um mesmo bairro – pode ter desafios inesperados, mas não se resume a isso. “São culturas diferentes, pessoas diferentes e a gente aprende a lidar com elas. Isso vale pra o âmbito pessoal e profissional. Pra experiências futuras, vai ser muito agregador”, finalizou Raphael.
Salinas no Censo 2010
O nome do bairro tem origem na extração de sal que existia na região. Também é símbolo do Projeto Camarão, iniciativa do governo do RN, da década de 1970, para estimular a produção do crustáceo que está na identidade dos norte-rio-grandenses. O primeiro registro histórico do local é do ano de 1.748. Hoje faz parte da Zona de Proteção Ambiental (ZPA) 8, que abarca o estuário do rio Potengi e manguezal.
População: 1.177 pessoas.
Domicílios: 331.
Limites: bairros Potengi e Redinha ao norte; rio Potengi a leste e sul; e Igapó a oeste.
Área: 10,31 quilômetros quadrados (km²).
Saneamento: 103 casas ligadas a rede de esgoto ou rede pluvial.
Abastecimento de água: 327 casas recebem água da rede da companhia de água.
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