Por Wilson Galvão – UFRN
A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e o Instituto Federal De Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) desenvolveram um novo dispositivo médico capaz de qualificar o diagnóstico da osteoporose de maneira precoce, promovendo uma melhor regulação no acesso aos serviços de saúde disponíveis apenas na rede especializada. O equipamento também tem grande impacto na qualidade de vida dos pacientes, com a redução de fraturas e gastos com internações, cirurgias e outros procedimentos.
Trata-se do Osseus, uma solução tecnológica de baixo custo, aplicada na Atenção Primária à Saúde (APS) e que pode ser utilizada em todo o território brasileiro. Por atender aos requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial, a tecnologia foi protegida por meio de um depósito de pedido de patente no mês de setembro.
Agnaldo Souza Cruz, cientista vinculado ao Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN), pontua que o dispositivo tem, entre suas facilidades, fácil operação, o fato de não ser invasivo, portabilidade e baixo custo. Assim pode, por exemplo, ser empregado em intervalos de tempo menores pela ausência de efeito colateral para os pacientes, situação que o diferencia de métodos tradicionais, propiciando um monitoramento mais constante e, não bastasse isso, reduzindo filas de espera do exame de absorciometria de raio-X de dupla energia (DXA).
“O dispositivo já está pronto para ser industrializado e os estudos agora são de aprimoramento na plataforma tecnológica e sua inserção no Telediagnóstico. Estamos constituindo, inclusive, uma startup para pedirmos o licenciamento da tecnologia e disponibilizá-la o mais breve possível para população”, destaca o pesquisador. No ano passado, um protótipo foi entregue para ser usado de forma pioneira em Messias Targino, município distante 305 quilômetros de Natal.
O estudo que deu origem à invenção foi a tese de Agnaldo, pesquisa orientada pelo professor Ricardo Alexsandro de Medeiros Valentim em um projeto financiado pelo Ministério da Saúde, executado em colaboração com instituições nacionais e internacionais. Além da UFRN e do IFRN, participaram o Massachusetts Institute of Technology (MIT) e o Centre for Informatics and Systems of the University of Coimbra (Cisuc).
Dispositivo pode ser usado na rede pública e particular
Docente do Departamento de Engenharia Biomédica e diretor executivo do LAIS, Ricardo Valentim explica que o dispositivo pode ser usado tanto na rede pública – nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) –, como na rede privada, e tem, como ponto substancial, promover uma melhor regulação no acesso aos serviços de saúde disponíveis apenas na rede especializada. Estima-se que cerca de 50% das mulheres e 20% dos homens com idade igual ou superior a 50 anos sofrerão uma fratura osteoporótica ao longo da vida. Além dos dois, são inventores do Osseus: Dionísio Carvalho, João Paulo Queiroz, Antônio Higor, Bruno De Melo, Antônio Campos, Gabriela Araújo, Mikael Marcos, Amanda Costa e Denise Medeiros.
Gabriela salienta, inclusive, que o dispositivo foi validado em quase duas dezenas de unidades básicas de saúde na Grande Natal. Segundo ela, o próximo passo é espalhar sua utilização por mais cidades para além da região metropolitana. “No teste, o paciente precisa apenas responder um breve questionário, introduzir o dedo médio de uma das mãos no equipamento e aguardar poucos minutos pelo resultado, que indicará a necessidade ou não de exames complementares”, explica.
O diagnóstico de osteoporose reveste-se hoje de importância singular, visto que cerca de 20% da população mundial tem a doença, cuja característica principal é a perda progressiva de massa óssea. Devido à fragilidade dos ossos, uma das consequências é a ocorrência de fraturas, mas não só isso: depressão, deformidade, perda da independência e aumento da mortalidade também são efeitos.
De acordo com o estudo, que foi publicado na PubMed, o custo anual de hospitalização por fraturas causadas pela doença é de R$ 19,8 bilhões. Esse valor é maior que o custo de infarto (R$ 16,7 bilhões), derrames (R$ 11,7 bilhões) e câncer de mama (R$ 1,9 bilhões).
Inovar e aplicar
Quem lê o nome Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS) talvez não perceba a amplitude do trabalho desenvolvido em termos de ativos de propriedade industrial, no sentido amplo do termo. Isso porque as pesquisas não resultam apenas em patenteamento – o que já não é pouco. Nesse quesito, há cinco pedidos em andamento, duas cartas-patente recebidas e uma outra deferida, ou seja, já analisada e aguardando apenas trâmites burocráticos para a concessão definitiva.
Uma dessas concessões foi conteúdo de uma reportagem anterior da Agência de Inovação: UFRN cria tecnologia para ajudar na mobilidade de deficientes, e outros depósitos foram abordados em matérias anteriores: Uma nova tecnologia para ELA e Suporte respiratório.
O que o nome talvez esconda é o alto potencial de registros de software. No último biênio, mais de 50 programas de computador foram registrados pela UFRN no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), frutos de ações do Laboratório.
Em determinados anos, apenas o LAIS respondeu por cerca de 40% do total de registros da Universidade, o que ajudou a elevar a UFRN à posição de protagonista nas classificações nacionais: desde 2020, a Universidade figura entre as top 5 nacionais na categoria do ranking Inpi, que leva em consideração a quantidade de registros de programas de computador.
Para Ricardo Valentim, é um processo que fortalece o desenvolvimento tecnológico e econômico do país. “Proteger as invenções abre portas para que as tecnologias desenvolvidas nas universidades possam ser aplicadas na sociedade por meio de licenciamento, promovendo investimentos com baixo risco e receita adicional para instituição vinculada. É uma via de mão dupla, ao passo que beneficia a sociedade e provê recursos para que as instituições desenvolvam cada vez mais estudos e pesquisas, como é o caso do LAIS, que acabam por beneficiar novamente a sociedade”, defende.
“A ideia é orientar as ações de inovação na UFRN”, diz diretor
A ideia encontra eco também nas palavras do diretor da Agência de Inovação (Agir) da UFRN, Jefferson Ferreira de Oliveira. Com mais de 650 ativos protegidos, o gestor faz questão de frisar, por sua vez, que o desafio momentâneo da Universidade é desenvolver estudos de prospecção tecnológica e de inteligência competitiva no campo da propriedade intelectual.
“A ideia é orientar as ações de inovação na UFRN, facilitando a transferência dessas tecnologias para o setor produtivo. Não por acaso. O fortalecimento da equipe nos últimos anos e a própria Visão de Futuro no nosso PDI evidenciam que a Universidade identifica que a inovação é uma das nuances principais para esta década”, argumenta o gestor.
Ele explicou que as orientações e explicações a respeito dos aspectos para patentear uma determinada invenção são dadas na própria Agir, unidade localizada no prédio da Reitoria. Na UFRN, a Agência é a unidade responsável pela proteção e gestão dos ativos de propriedade intelectual, como patentes e programas de computador.
Entre suas atribuições, também há a responsabilidade na transferência de tecnologia desses ativos e na organização dos ambientes promotores de inovação, acompanhando e estimulando, por exemplo, as atividades das incubadoras da Universidade, bem como as atividades dos parques e polos tecnológicos
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