Por Wilson Galvão - Da UFRN
Um grupo de cinco pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) desenvolveu um novo processo para obtenção do carbeto de alta entropia, formado com a combinação de elementos que apresentam boa resistência ao desgaste, alta dureza, elevada resistência térmica e alta resistência ao desgaste mecânico.
O invento, que possui a fórmula científica (TaVTiNbW)-C, foi objeto de pedido de depósito de patente no mês de março e contou com as contribuições de Anderson Costa Marques, Pâmala Samara Vieira, Thalita Queiroz e Silva, Meysam Mashhadikarimi e Uílame Umbelino Gomes, cientistas vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais (PPgCEM). Para entendermos melhor, os carbetos de alta entropia são materiais normalmente formados por cinco ou mais componentes, distribuídos homogeneamente para a formação do elemento.
Particularmente ao que foi desenvolvido na patente, a nova tecnologia está inserida na área de processamento de materiais via metalurgia do pó. A especificidade propicia uma ampla gama de aplicações, o que a credencia como uma alternativa promissora aos materiais convencionais.
“Este material pode ter suas aplicações em ambientes na indústria aeroespacial, que requerem uma boa resistência à corrosão e desgaste à alta temperatura, como para produzir tubulações, equipamentos químicos e baterias, por exemplo. Não bastasse, o carbeto de alta entropia possui características de alta resistência mecânica, excelente estabilidade em altas temperaturas e baixa condutividade térmica. Tudo isso o transforma em um material de revestimento de barreira térmica ideal, que pode ser usado em equipamentos de energia, como motores de turbina e turbinas a gás, e também tem espaço para aplicação no campo de energia”, destaca Anderson Marques.
O inventor acrescenta que, por terem boa biocompatibilidade e bioinercia, os carbetos de alta entropia podem ser usados na área biomédica para produzir materiais como ossos artificiais, articulações artificiais e implantes. Ele defende que com o dispositivo criado na UFRN, é possível gerar melhor desempenho nas áreas de aplicação citadas e contribuir com a disseminação das pesquisas nesses campos da indústria, incentivando cada vez mais a pesquisa científica e tecnológica, sobretudo no âmbito regional.
Iraniano radicado no Brasil é dos pesquisadores envolvidos
Iraniano radicado no Brasil há mais de dez anos, o professor de Engenharia dos Materiais Meysam Mashhadikarimi é um dos pesquisadores envolvidos. Ele defende que o processo de patenteamento é relevante academicamente porque permite que as instituições de pesquisa e ensino possam proteger e comercializar suas invenções.
Mashhadikarimi conta com cinco depósitos de pedido de patente, dos quais dois já tiveram sua carta-patente expedida definitivamente (Três camadas, um material inédito e Medidas de nióbio, 90 partes de diamante).
Para ele, o processo de registro de patentes é um indicador do nível de atividade científica e tecnológica de um país ou região, tendo assim um papel crucial na academia, uma vez que incentiva a inovação, promove a colaboração, contribui para o avanço do conhecimento e facilita a transferência de tecnologia para o mercado. O professor do Departamento de Engenharia de Materiais relata ainda que todos os inventores desse dispositivo, seja alunos ou professor, estão com suas pesquisas relacionadas à área de desenvolvimento em questão.
“Trabalhamos com ligas, carbetos de alta entropia e compósitos, analisando as possibilidades de cada vez mais, incentivar o desenvolvimento científico, tecnológico e industrial, com materiais de alta entropia. O material do carbeto de alta entropia especificamente está agora na análise de sinterização para avaliar sua densidade e melhores propriedades que podem ser obtidas com essa etapa”, elenca.
Tecnologia integra o portfólio da Vitrine Tecnológica da UFRN
A tecnologia também pode ser utilizada no campo de materiais de sistemas de proteção para ônibus espaciais e foguetes recicláveis; no campo avançado de energia nuclear; e nos campos extremos da indústria nacional, de defesa e militar. Agora, ela integra o portfólio da Vitrine Tecnológica da UFRN, conjunto de pedidos de patentes, concessões já realizadas e programas de computador que receberam registro do INPI. A lista está disponível para acesso e consulta no site da Agência de Inovação (Agir), mesmo local em que os interessados obtêm informações a respeito do processo de licenciamento.
Dentro da Universidade, a Agência é a unidade responsável pela proteção e gestão dos ativos de propriedade intelectual, como patentes e programas de computador. As notificações de invenção, passo inicial de todo o processo, são feitas por meio do Sigaa, na aba pesquisa.
Diretor da Agir, Jefferson Ferreira de Oliveira, identifica que o apoio oferecido pela Agência aos alunos, docentes e pesquisadores abrange orientações sobre o que não pode ser patenteado, de acordo com a lei 9.279/96. Além disso, há o serviço de análise sobre pesquisa, o qual identifica estudos que não podem ser patenteados, mas podem ser licenciados via categoria de Know-how, conceito que abrange uma reunião de experiências, conhecimentos e habilidades voltadas à produção de um produto ou artefato.
“O know-how pode ser transformado em um segredo industrial, mas envolto em um contexto jurídico. O ideal é buscar a assinatura do acordo, ou o contrato de confidencialidade, para garantir a exclusividade no uso desse conhecimento, justamente para que não seja repassado para outras pessoas, principalmente sem o conhecimento da empresa”, salienta Jefferson de Oliveira.
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