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Postado às 10h15 | 24 Dez 2018 | Redação Revolta, desalento e tristeza para quem passa o Natal nas ruas

Crédito da foto: Marcos Garcia "É uma situação muito triste", afirma Francisca Veríssima da Silva, de 80 anos

Fabiano Souza/Jornal De Fato

Como será o Natal para aproximadamente 66 mil pessoas do Rio Grande do Norte que estão abaixo da linha da extrema pobreza? De acordo com as definições do Banco Mundial, como será a situação daquelas pessoas com rendimento inferior a US$ 1,90 por dia ou R$ 140,00 mensais?

Ou como estão aqueles que vivem abaixo da linha de pobreza, índice que mapeia aqueles que vivem com US$ 5,5 por dia ou R$ 406,00 por mês? Nessa situação, em 2017 o percentual subiu para 39%, o que indica que pouco mais de 1,3 milhão sobrevivem com pouco mais de R$ 400,00 mensais.

Nesse período de festejos natalinos e comemorações pela chegada do ano novo, para muitas dessas pessoas que por algum motivo qualquer se encontram hoje à margem da sociedade, a chegada desse período não oferece nenhum motivo para comemoração.

A reportagem do JORNAL DE FATO percorreu alguns pontos da cidade de Mossoró que reúne pessoas em situação de vulnerabilidade e constatou, de perto, a revolta, o desalento e a falta de perspectiva para quem se encontra excluído. Essas pessoas dependem do apoio de voluntários e entidades filantrópicas, que oferecem alimentação, roupas, agasalho e um pouco de carinho, que faz que elas continuem vivas.

Entre os grupos que vivem perambulando pelas ruas da cidade e dormindo em praças públicas e abrigos improvisados, estão profissionais, liberais, professor universitário, estudantes universitários, além de uma grande número de jovens e idosos que aos poucos perderam o contato com seus familiares.

Para alguns, o sentimento é de revolta e incerteza. “Aqui não tem isso de Natal não. A gente vive na rua é pronto”, disse um morador de ruas que se afastava ao ser questionado sobre o período natalino. Mas para boa parte, o simples fato de continuarem vivos com o pouco que conseguem é o suficiente.

“Comemorar apenas por continuar vivendo. Cheguei a Mossoró em 1975, casei e durante muito tempo trabalhei em restaurantes e churrascarias, casei, mas depois fiquei doente e fui abandonada pelo marido. Com o tempo, fui perdendo o pouco que tinha e acabei na rua. É uma situação muito triste. Nós sobrevivemos com a ajuda das irmãs que toda semana vêm aqui oferecer um pouco de apoio”, relata Francisca Veríssima da Silva, de 80 anos, enquanto aguarda receber um lanche e roupas de uma entidade de apoio na praça do Museu Municipal.

Ao lado da idosa, estava o cearense de Fortaleza Francisco Rafael Lopes de Paiva, com pouco mais de 20 anos de idade e há oito anos morando nas ruas. Rafael afirma que sua vida foi transformada em consequência dos caminhos errados seguido pelo irmão gêmeo. “Meu irmão sempre se envolveu com coisas erradas. Um dia estava em casa, quando chegou uma pessoa para matar meu irmão. Ele estava com a foto e começou a atirar pensando que eu era ele, mas graças a Deus eu consegui fugir e dias depois um evangélico que reside em Mossoró me trouxe. Desde então, perdi o contato com minha família. Neste período do ano a dor e a saudade da minha mãe batem mais fortes. Fico isolado e choro com saudade dela”, revela Rafael.

Cearense Francisco Rafael Lopes de Paiva: oito anos morando nas ruas

 

Número de pessoas na rua é bem maior que o estimado

O último levantamento da abordagem social realizado pelo Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS), divulgado em outubro de 2017, com as pessoas em situação de rua em Mossoró identificou 152 pessoas morando nas ruas do município. Os dados levantados durante a pesquisa mostram que os motivos pelos quais as pessoas estão morando nas ruas são: situação financeira, ligação com as famílias, entre outras questões, como dependência química.

Apesar do levantamento auxiliar na identificação do número de pessoas morando nas ruas, acredita-se que o total seja bem superior, tendo em vista que em apenas uma das entidades de assistência aos moradores de rua existem mais de 170 cadastros.

“A maioria das pessoas é de Mossoró, mas também encontramos pessoas de estados vizinhos, como Ceará, Paraíba, e Pernambuco, e também de outros estados, como São Paulo e Rio de Janeiro, e até mesmo de outros países, como Venezuela e Peru. Além disso, são pessoas de níveis sociais muito diferenciados. Temos universitários, professores, artistas, entre outros”, disse um dos voluntários durante a reportagem.

Segundo a voluntária que falou com a reportagem, além desse trabalho realizado semanalmente, existem outros programas que oferecem, além do apoio nas ruas, espaço para abrigar quem chega a Mossoró e não tem condições de ficar para dormir. “Muitos passam um dia, dois, depois voltam para as ruas, outros seguem um novo rumo; é muito dinâmico. O que podemos fazer, a gente faz para minimizar um pouco a situação. Não apenas com o apoio social, mas também com a palavra de Deus”, disse.

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