Por Agência HiperLAB UERN
Endurecer as medidas de segurança como forma de garantir maior índice de isolamento social e evitar ampliação na quantidade de casos e mortes pela Covid-19 no Brasil. Esse é o pensamento central do Comitê Científico do Nordeste para o enfrentamento da doença, criado pelos governadores dos estados nordestinos. Entre as medidas mais duras sugeridas pelo comitê em seu mais recente boletim — divulgado na quinta-feira — está a proibição do tráfego intermunicipal e interestadual nas estradas que cortam os estados do Nordeste.
“Considerando todas as projeções de ampliação do número de infectados e da já conhecida velocidade de contágio desse vírus, o que desafia a capacidade de qualquer sistema de saúde do mundo em atender de maneira adequada sua população, recomendamos que as medidas de restrição de mobilidade sejam ainda mais rígidas, devendo-se proibir, em todos os Estados do Nordeste, o tráfego intermunicipal e interestadual, garantindo, porém, a segurança dos profissionais de serviços essenciais, com destaque para o transporte de alimentos e materiais de saúde”, aponta o comitê no boletim divulgado ontem.
O trabalho do comitê serve de orientação de estratégias e trabalho a todos os governadores. Além da recomendação sobre o tráfego nas estradas, o grupo de especialistas recomendou também a formação de uma brigada emergencial de saúde que fortaleça o sistema de saúde pública nos estados.
“É preciso criar com urgência uma Brigada Emergencial de Saúde no Nordeste ampliando o contingente de médicos e demais profissionais de saúde no atendimento à população. Esta iniciativa deve servir para levar médicos aos municípios atingidos pela pandemia e a todos os serviços de saúde mobilizados para este enfrentamento. O Brasil ainda tem apenas 2,2 médicos por mil habitantes, sendo que, na região Nordeste, esse número era, em 2018, de 1,55 médicos por mil habitantes. É preciso reconhecer que no interior dos Estados a vulnerabilidade social e a escassez de atendimento médico são ainda maiores.”, reforça o texto do boletim.
A formação dessa brigada contaria com apoio das universidades públicas, através de um programa de adaptação formativa. “Considerando a necessidade imediata de provimento de profissionais em decorrência da pandemia, o Comitê recomenda aos governadores a criação de programa de adaptação formativa, com complementação curricular, na modalidade ensino-serviço, que assegure um processo rígido de avaliação ao longo do tempo a ser realizado pelas Universidades Públicas na região, e permita, ao final, a validação dos diplomas daqueles que vierem a ser aprovados. Tal programa poderá ser parte da Brigada emergencial de saúde, tornando possível que os profissionais nele inscritos possam atuar sob supervisão, somando-se, assim, à luta contra o Coronavírus. Nesse sentido, a recomendação de criação de programa de complementação curricular e de avaliação na modalidade ensino-serviço, atendem às normas legais (§2º, do art. 48, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação — LDB, Lei nº 9.394/96 e na Resolução do Conselho Nacional de Educação nº 3, de 22 de junho de 2016) e, mais do que isso, viabilizam o regular funcionamento dos serviços de saúde em tempos de guerra, preservando, com isso, grande número de vidas humanas”.
MONITORAMENTO
Os pesquisadores que integram o comitê fazem um alerta aos governadores sobre a necessidade de investimento no fornecimento de EPIs aos profissionais de saúde que atuam no combate à pandemia, assim como “canalizar o contingente dos chamados testes rápidos a eles”.
O comitê destaca ainda ser fundamental o investimento em tecnologia que possibilite aos governos um monitoramento mais eficientes das pessoas. Um dos mecanismos para isso é a implantação imediata do aplicativo Monitora Covid-19, disponibilizado pelo Consórcio Nordeste.
“Este aplicativo nos dará melhores condições para atendimento remoto, ampliação das possibilidades de diagnóstico precoce, isolamento dos casos confirmados e monitoramento da cartografia do contágio. Assim, também é necessário buscar soluções tecnológicas para que, por meio do aplicativo, se produza mapas de calor e se conheça, em tempo real, dados do fluxo rodoviário e urbano. Deve-se buscar, com isso, identificar como vírus está se espalhando e quais cidades e bairros tornaram-se hubs de disseminação”.
O comitê científico é coordenado pelo neurocientista Miguel Nicolelis e pelo físico e ex-ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende. Integram o comitê os seguintes pesquisadores: Adélia Carvalho de Melo Pinheiro (BA); Antônio Silva Lima Neto (CE); José Noronha (PI); Ricardo Valentim (RN); Luiz Cláudio Arraes de Alencar (PE); Sinval Brandão Filho (PE); Marco Aurélio Góes (SE) Marcos Pacheco (MA); Maurício Lima Barreto (BA); Priscilla Karen de Oliveira Sá (PB); Roberto Badaró (BA); e Fábio Guedes Gomes (AL).
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