Isabel Maia é uma entre os milhares de brasileiros que estão apreensivos em meio aos conflitos em Israel reiniciados pelo grupo terrorista Hamas desde sábado, 7. Em entrevista exclusiva ao Jornal de Fato, ela fala sobre a situação que vive em Israel
Por Ângela Karina / Jornal de Fato
Romper barreiras. Essa tem sido a especialidade de Maria Isabel Maia Rocha desde que nasceu. A mossoroense de 33 anos, de riso fácil e alegre, tem dupla cidadania e mora em Israel desde 2019, onde constituiu família. Isabel é surda, mas essa condição nunca a limitou de ser e fazer o que quisesse, inclusive ser Miss Surda Brasil.
Atualmente, mora na cidade de Tel Aviv, situada na costa israeIense do mar Mediterrâneo, com o companheiro Boris Sandler e a filha Rachel Maia Sandler, de 1 ano e três meses.
Isabel é uma entre os milhares de brasileiros que estão apreensivos em meio aos conflitos em Israel reiniciados pelo grupo terrorista Hamas desde sábado, 7. Uma guerra que parece não ter fim pelo território da Palestina e que vem fazendo incontáveis vítimas.
Para entender melhor como Isabel foi parar no país do Oriente Médio, é preciso conhecer um pouco a sua história até chegar lá. Com poucos meses de nascida, Isabel e família foram morar na cidade de Almino Afonso, no médio oeste potiguar, quando aos 9 meses, por causa de uma disputa política, um jovem explodiu uma bomba caseira bem próxima de onde estava Isabel, que dormia no colo da tia. Elas foram atingidas por estilhaços da bomba. Dias depois, as consequências começaram a aparecer: secreções nos ouvidos, convulsões, diarreias e febres que resultaram na sua perda de audição.
Os pais de Isabel não tinham condições de arcar com tratamento com fonoaudiólogos, nem prótese auditiva, mas se dedicaram ao máximo para proporcionar a Isabel formas de se comunicar, ensinando-lhe linguagem labial. Foi só na adolescência que Isabel aprendeu Libras. Seus pais foram incansáveis na busca pela sua inclusão social e preparação para lidar com o preconceito e bullying.
Em 2014, Isabel foi eleita Miss Brasil Surda. Ela, que foi destaque do caderno Mulher do Jornal de Fato daquele ano, venceu o concurso representando o Rio Grande do Norte na competição. Nesse mesmo ano, carimbou o passaporte na primeira viagem internacional ao participar do Miss Deaf Mundo Europa, em Praga, na República Checa, em que ficou em segundo lugar.
Quatro anos depois, em 2018, Isabel decidiu que queria conhecer novas culturas e embarcou para os Estados Unidos, lá conheceu vários lugares como Hollywood, distrito de Los Angeles, no estado da Califórnia, Las Vegas, no estado de Nevada, e Nova Iorque, onde permaneceu no país norte-americano até abril de 2019, quando veio visitar a família de surpresa aqui no Brasil, permanecendo cerca de dois meses.
Ainda em 2019, no fim de junho resolve fazer uma nova viagem. Dessa vez a parada foi em Paris, na França. Foi lá que Isabel e Boris, que também é surdo, encontraram-se e passaram a namorar. Em seguida, ela volta ao Brasil para, mais uma vez, no início de setembro daquele ano viajar por quase 30 horas até a cidade de Tel Aviv em Israel, para reencontrá-lo. Lá permanecendo até a vigência do visto como visitante, só que Boris vem junto para conhecer a família dela.
Depois de cerca de um mês viajando juntos pelo Brasil, Boris volta para seu país de origem e Isabel fica mais um tempo para aproveitar a família e resolver a sua ida em definitivo para Israel. Porém, a pandemia de Covid-19 impôs ao casal um distanciamento de, imaginemos, sete longos meses longe daquele que se tornaria o pai da sua linda filha, já que no período mais crítico houve lockdown. Assim, o reencontro com o seu amado Boris ocorreu em agosto de 2020.
Isabel, Boris e a filha Rachel estiveram no Brasil na temporada de maio a agosto deste ano para visitar familiares e amigos. A saudade é imensa por morar tão distante da família, mas ainda bem que eles têm a oportunidade de fazer isso, em média, pelo menos uma vez ao ano. As redes sociais têm sido uma aliada para reduzir a enorme distância que separa os dois países.
Os noticiários sobre a guerra no país do Oriente Médio têm causado angústia e medo na sua família aqui no Brasil, embora o contato diário entre Isabel e seus pais Graça Maia e Syval Rocha traga um pouco de tranquilidade para esses dias de incertezas.
Isabel Maia, com ajuda de uma tradutora, conversou com Cafezinho com César Santos, sobre o cenário em Israel, a sua situação e da família, seus medos e aflições, e afirma que vai continuar morando em Israel. Confira:
Qual a sua situação e a situação de sua família nesse momento?
Estamos dentro de casa, saindo só para extrema necessidade, acompanhando os alertas do governo.
O toque das sirenes em Tel Aviv aumenta a sua tensão?
Sim, porque aumenta a insegurança. Eu e Boris não ouvimos em função da surdez, mas nossa filha escuta e se agita. Quando vim para Israel pela primeira vez em 2019, já tive susto com ameaças de bomba. Fomos para um bunker (abrigo subterrâneo blindado). Somos sempre avisados quando tem perigo. Dessa vez, o Hamas surpreendeu. Mesmo assim, já me acostumei. Amo Israel. Confio em Deus que vamos sair.
Você e sua família se sentem seguros no lugar onde estão agora?
Sim, mas terroristas são cruéis e imprevisíveis.
Como está a situação de abastecimento de alimentos, de água, tem risco de faltar o básico para vocês?
No nosso bairro essa parte está normal.
Qual é o sentimento do povo israelense em relação ao conflito com o Hamas?
Os israelenses são revoltados com esses monstros do Hamas que só querem escravizar palestinos, usá-los como escudo humano e destruir Israel, país acolhedor e maravilhoso.
Como você acompanha esse conflito entre Israel e o Hamas? Tem visto áreas destruídas pela guerra? Como estão as ruas de Tel Aviv?
Tenho acompanhado pela tv e vídeos dos amigos de Tel Aviv.
Tem muitos brasileiros em Israel e um número considerável de desaparecidos. Isso aumenta a sua aflição?
É tudo muito cruel, incerto. Rezo pelos brasileiros e tantos outros inocentes.
Você tem alguma pessoa conhecida, amiga, que desapareceu no conflito?
Não.
Conte-nos como e quando você chegou a Israel.
Conheci Boris pela internet. Nos encontramos pessoalmente pela primeira vez em Paris, na França, em julho de 2019. Em setembro do mesmo ano vim conhecer Israel. Depois, voltei para o Brasil e ele veio conhecer minha família. Com pouco tempo depois que ele voltou para Israel, veio a pandemia de Covid-19 e, em virtude das medidas sanitárias, ficamos sete meses distantes, eu no Brasil e ele lá. Com o avanço da vacinação da covid, até que, enfim, consegui vir para Israel e morar aqui.
Como era o seu dia a dia antes do conflito?
Andávamos com segurança, íamos a festas, passeios com amigos. Israel é um país acolhedor. Bom demais.
Você pretende voltar para o Brasil?
Amo o Brasil, mas se depender de nós, iremos só a passeio, rever a família e amigos.
Mande uma mensagem para os seus familiares e amigos que estão orando e torcendo por vocês aqui no Brasil.
Estou bem confiante que vamos sair desse pesadelo. Amo vocês. Orem por nós.
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