O presidente argentino, Javier Milei, enviou esta semana uma carta aos cinco chefes de Estado dos países que integram o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), informando sobre sua decisão de retirar a Argentina da lista de países que passaria a formar parte do grupo a partir de 1º de janeiro de 2024. A carta não surpreendeu o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um dos principais promotores da incorporação da Argentina ao Brics, que já esperava essa mudança de posição do novo governo argentino.
a partir de 1º de janeiro de 2024. A carta não surpreendeu o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um dos principais promotores da incorporação da Argentina ao Brics, que já esperava essa mudança de posição do novo governo argentino.
Consultadas pelo GLOBO, fontes do governo brasileiro disseram que a carta de Milei foi “zero surpresa” para Lula, e que não haverá reação oficial ao documento, “porque não entrar no Brics é uma decisão soberana da Argentina".
O documento foi enviado ao governo brasileiro através da embaixada do Brasil em Buenos Aires, mesmo procedimento usado para comunicar a decisão da Argentina aos demais integrantes do grupo.
"Como sabem, a marca da política externa do governo que presido há alguns dias difere em muitos aspectos da do governo anterior. Nesse sentido, algumas decisões tomadas pela gestão anterior serão revistas. Entre elas está a criação de uma unidade especializada para a participação ativa do país no Brics, conforme indicou o ex-presidente Alberto Fernández em carta datada de 4 de setembro. A este respeito, gostaria de informar que nesta fase a incorporação da República Argentina ao Brics como membro pleno a partir de 1º de janeiro de 2024 não é considerada oportuna", diz o texto.
A entrada da Argentina foi decidida na última cúpula do bloco, realizada no final de agosto, na África do Sul. No mesmo encontro foi votada a incorporação da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Irã. Se Milei não tivesse enviado a carta — escrita num tom cordial e deixando as portas abertas para uma eventual mudança de posição no futuro —, a Argentina passaria a ser membro do Brics no primeiro dia do ano.
Quando o grupo aprovou a entrada da Argentina, Lula estava, sem estridências, fazendo gestos de apoio ao governo do ex-presidente peronista Alberto Fernández, em plena campanha presidencial no país. O Palácio do Planalto apostou na eleição do também peronista Sergio Massa, derrotado nas urnas por Milei. Desde que o líder da ultradireita argentina foi eleito, em 19 de novembro, o Brasil, que também defendeu a entrada de outros países, entre eles a Arábia Saudita, sabia que a retirada da Argentina do Brics era apenas uma questão de tempo.
Embora tenha suavizado suas posições em matéria de política externa — mais por necessidade do que por convicção —, o novo chefe de Estado argentino mantém alinhamentos que considera estratégicos e são incompatíveis com a convivência num mesmo grupo com países como China, Rússia e Irã. Milei apoia incondicionalmente Israel e considera o Hamas um grupo terrorista, o que torna inviável uma aproximação com o Irã. O presidente argentino recebeu em seu país a visita do chefe de Estado ucraniano, Volodymyr Zelensky, convidado de honra para a posse, e busca impulsionar uma aproximação da Ucrânia com países latino-americanos.
A pedido do presidente, a Ministra das Relações Exteriores, Diana Mondino, redigiu uma carta moderada, a mesma para os cinco governos, na qual a Argentina avisa sobre a retirada, mas tenta não causar danos às relações bilaterais com os membros do Brics. No caso da China, cujas autoridades foram muito bem tratadas durante os eventos da posse de Milei, existe um interesse financeiro. Milei está tentando negociar a renovação de um empréstimo selado com o governo de Fernández, essencial para cobrir as necessidades de financiamento da Argentina em 2024.
Com o Brasil, depois de declarações duras durante a campanha, a própria Mondino, entre outros, convenceu Milei sobre a necessidade de preservar as relações bilaterais, sobretudo pelo comércio entre os dois países, mas, também, os investimentos — já existentes e potenciais — de empresas brasileiras na Argentina.
Fonte: O Globo
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