O Globo
Após meses de especulações, o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump anunciou nesta segunda-feira J.D. Vance como sua escolha para vice-presidente nas eleições americanas deste ano. O candidato republicano retornou à arena política como estrela da Convenção Nacional Republicana em Milwaukee, onde sua base, ainda em estado de choque com o atentado no sábado, também o proclamou oficialmente candidato às eleições presidenciais de novembro. Senador por Ohio, Vance não foi um apoiador de primeira ordem de Trump, mas tem fama de bom arrecadador de recursos — um fator importante em um país onde as vitórias políticas são obtidas ao custo de bilhões de dólares.
“Após longas deliberações e reflexões, e considerando os imensos talentos de muitos outros, decidi que a pessoa mais adequada para assumir o cargo de vice-presidente dos Estados Unidos é o senador J.D. Vance, do grande estado de Ohio”, escreveu Trump em sua rede social. “J.D. teve uma carreira empresarial muito bem-sucedida em Tecnologia e Finanças e, agora, durante a campanha, estará fortemente focado nas pessoas por quem lutou tão brilhantemente”, acrescentou.
Aos 39 anos, Vance era a alternativa mais jovem entre os pré-candidatos avaliados por Trump. Novato na política, ele entrou para o Senado apenas no ano passado, mas passou esse tempo ascendendo metodicamente no firmamento conservador. Outrora um crítico mordaz de Trump — atacando-o como "repreensível" e chamando-o de "heroína cultural" —, Vance ganhou o apoio do ex-presidente em sua candidatura ao Senado em 2022 ao abraçar totalmente sua política e suas mentiras sobre uma eleição roubada. O endosso o colocou à frente de uma disputa concorrida e, por fim, o levou ao Senado.
Vance, um capitalista de risco do Vale do Silício que ficou mais conhecido por escrever o livro de memórias "Hillbilly Elegy", adaptado para os cinemas em 2020, não se esqueceu disso. E rapidamente se tornou um dos principais defensores do ex-presidente nos corredores do Congresso e na televisão, seguindo as orientações de Trump e, ao mesmo tempo, contrariando com frequência as prioridades do senador Mitch McConnell, o líder republicano de longa data no Congresso.
O anúncio do vice de Trump foi feito dois dias após ele ter sobrevivido a um atentado durante um comício na Pensilvânia, um episódio que enfatizou a importância da escolha de um companheiro de chapa que poderia ser o seu sucessor. Até então, o magnata tinha sido bastante discreto sobre seu potencial companheiro de chapa.
Sem dar mais detalhes, nos últimos meses ele se limitou a dizer que seria “um grande vice-presidente”. À emissora conservadora Fox News, o republicano afirmou que era necessário que o candidato fosse “alguém que nos ajude a vencer”, ou seja, um nome que o ajude a ampliar a base de seus eleitores. Ao mesmo tempo, Trump desejava “alguém capaz de realizar um ótimo trabalho como presidente”.
Antes disso, o jovem senador serviu no Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA e chegou a ser enviado para missão no Iraque, antes de retornar ao seu país se formar em Ciência Política e Filosofia pela Universidade Estadual de Ohio e Direito pela Universidade Yale, onde foi editor do The Yale Law Journal e presidente da Associação de Veteranos de Direito de Yale, destacou Trump na publicação.
Conforme publicado pela Associated Press, a escolha de Trump deve definir o principal candidato à nomeação presidencial republicana nas próximas eleições caso o ex-presidente vença o pleito em novembro e tome posse de seu segundo mandato, atingindo o limite constitucional americano. Após o atentado de sábado, a escolha de Trump tem um peso consideravelmente maior. Se uma bala tivesse atingido um pouco mais à direita, provavelmente ele teria sido morto ou gravemente ferido.
Antes do ataque, Trump havia deixado claro que gostaria de revelar dramaticamente sua escolha na convenção, o que ele disse que tornaria o evento mais “interessante”. Horas antes do comício, ele foi questionado pela Fox News sobre o quão perto estava de sua escolha para vice-presidente — e se ela poderia mudar caso o atual presidente dos EUA, Joe Biden, desistisse de concorrer à reeleição. Trump afirmou que a decisão era “muito importante, especialmente se algo ruim acontecer”.
Na lista de potenciais candidatos, o senador Marco Rubio parecia ser um dos favoritos até poucas horas antes do anúncio oficial, quando, segundo três pessoas envolvidas no assunto, ele teria sido informado de que não seria o escolhido. Uma quarta pessoa disse que a possibilidade de um impedimento eleitoral se tornou uma preocupação crescente para o ex-presidente nos últimos dias, já que a Constituição americana proíbe dois moradores do mesmo estado de compartilhar a chapa presidencial.
Rubio havia dito em particular que estaria disposto a se mudar para Washington, D.C., para se juntar à chapa de Trump. Filho de imigrantes cubanos, Rubio poderia ajudar Trump a atrair eleitores hispânicos, além de tranquilizar doadores do partido e eleitores moderados. Os assessores do senador se recusaram a comentar o assunto.
Precedentes
De acordo com o New York Times, Trump escolheu seu companheiro de chapa nas últimas 24 horas. A demora para anunciar o escolhido foi maior do que o usual, mas, segundo a AP, não é sem precedentes. Em 1980, Ronald Reagan (1911-2004) negociou com o ex-presidente Gerald Ford (1913-2006) por horas, mas escolheu seu ex-rival nas primárias, George H.W. Bush (1924-2018). O anúncio foi feito menos de 24 horas antes de Reagan aceitar a nomeação do Partido Republicano.
Bush também esperou até a convenção republicana de 1988 em Nova Orleans para surpreender muitos dos participantes — e até alguns dos seus conselheiros — e escolher o pouco conhecido senador Dan Quayle para ser seu número dois. Desde então, porém, a tradição tem sido escolher o vice-presidente pouco antes de a convenção do partido do candidato começar. Em 2016, Trump escolheu o governador Mike Pence dias antes da convenção republicana daquele ano abrir em Cleveland.
O ex-presidente de 78 anos é a esperança republicana para retornar à Casa Branca. A tentativa de assassinato que o republicano sofreu no sábado, quando foi atingido na orelha direita, continua dominando o noticiário. O atirador, que foi morto pouco após ter disparado, matou um espectador do comício em Butler e feriu outras duas pessoas. No dia seguinte ao ataque, Trump chegou a Milwaukee, cidade de 570 mil habitantes, e afirmou que “nenhum atirador” mudaria sua agenda.
Líder nas pesquisas, apesar de seus problemas jurídicos e de uma condenação, o magnata republicano parece a caminho da vitória, enquanto o democrata Joe Biden, de 81 anos, recebe apelos de integrantes do próprio partido para abandonar a disputa eleitoral devido ao aparente declínio em suas capacidades cognitivas.
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