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Postado às 18h48 | 26 Nov 2016 | Cesar Santos Funeral de Fidel Castro vai durar nove dias. O corpo do ex-ditador cubano será cremado

Entre segunda (28) e terça-feira (29), as cinzas ficarão expostas na Praça da Revolução

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Para se despedir do irmão, Fidel, o ditador Raúl Castro determinou que Cuba cumprirá luto de nove dias.

O corpo do ex-ditador, morto às 22h29 (1h29 de Brasília) desta sexta (25) será cremado neste sábado, em ato privado.

Entre segunda (28) e terça-feira (29), as cinzas ficarão expostas na Praça da Revolução, maior palco dos longos discursos do ditador, para que apoiadores do castrismo possam prestar homenagens.

A partir do dia 30, os restos mortais serão transportados em carreata que deve percorrer toda a ilha.

Seu destino final é a cidade de Santiago de Cuba, onde Fidel, nascido em Birán, cresceu, frequentou a escola e, em 1959, anunciou a Revolução Cubana.

No dia 4 de dezembro, as cinzas serão sepultadas após “ato maciço”, segundo nota oficial, na praça Antonio Maceo.

 

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O homem que um dia disse que seria “absolvido” pela história morreu  22h29 de sexta-feira (horário de Havana, 1h29 de sábado em Brasília), em Havana, como uma das figuras mais emblemáticas do último século.

Responsável pela morte de milhares de pessoas em julgamentos sumários, pela fuga de milhões para o exterior e pela penúria dos que permaneceram no país, Fidel Castro saiu da linha de frente da política cubana ao transferir a presidência para o irmão, Raúl, em 2006. Mas permaneceu assombrando o povo e preservando sua tenebrosa herança.

O ex-ditador cubano Fidel Castro gesticula durante uma viagem a Paris mar?o de 1995 (Charles Platiau/Reuters)
O ex-ditador cubano Fidel Castro gesticula durante uma viagem a Paris março de 1995 (Charles Platiau/Reuters)

A saída de Fidel não significou uma abertura do país para a economia de mercado. Pelo contrário, a ilha seguiu emperrada, e melhorar de vida continuou a ser um ato tão subversivo quanto dar uma opinião sobre a política nacional.

Se internamente as dificuldades não dão trégua, um sopro de esperança veio do inimigo externo, os Estados Unidos, que decidiu reatar relações diplomáticas com a ilha no apagar das luzes de 2014.

Raúl, no entanto, fez questão de dizer que a aproximação não significará ‘tirar Cuba do rumo’, provando que Obama pode tentar a sua parte, mas alterações significativas dependem da saída de cena dos ditadores.

Cultuado por partidos de esquerda latino-americanos, Fidel passava a maior parte de seu tempo livre em uma ilha paradisíaca ao sul de Cuba, onde levava um estilo de vida nababesco, em contraste com a miséria da população. Morreu em Havana, aos 90 anos.

O ex-presidente Luiz In?cio Lula da Silva se encontrou o ditador cubano Fidel Castro em Havana. (veja.com/AFP)
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontrou o ditador cubano Fidel Castro em Havana. (veja.com/AFP)

Como ocorre em todos os regimes ditatoriais, detalhes sobre a vida pessoal e principalmente a saúde do chefe de Estado sempre foram mantidos em sigilo. Fotos esporádicas invariavelmente o mostravam decrépito, vestindo um agasalho Adidas.

Em fevereiro de 2014, a agência de notícias Associated Press eliminou de seus arquivos imagens alteradas digitalmente para esconder um aparelho auditivo. No mês anterior, o ditador havia comparecido à inauguração de um centro cultural em Havana. O registro de sua passagem pelo local mostraram o gerontocrata caminhando com ajuda, curvado e com uma aparência fragilizada.

Em 2006, quando complicações de uma hemorragia intestinal o obrigaram a entregar o poder – primeiro provisoriamente, e dois anos depois, de forma definitiva –, muito pouco foi divulgado sobre a doença que o acometeu. Boatos apontaram para diverticulite (inflamação no intestino grosso) e até câncer, mas nada foi confirmado oficialmente.

Os rumores sobre sua morte só aumentaram desde sua renúncia. “Já me mataram não sei quantas vezes”, disse, em uma de suas entrevistas para desmentir notícias sobre sua morte. Fato é que sua onipresença em público deu lugar a aparições cada vez mais raras.

O ent?o o primeiro-ministro cubano Fidel Castro joga beisebol em Havana em agosto de 1964 (Prensa Latina/Reuters)
O então o primeiro-ministro cubano Fidel Castro joga beisebol em Havana em agosto de 1964 (Prensa Latina/Reuters)

Trajetória

Fidel Castro Ruz nasceu no dia 13 de agosto de 1926, na província cubana de Oriente, filho do fazendeiro Angel Castro e da camponesa Lina Ruz. Aos 17 anos, mudou-se para a capital para estudar. Formou-se em direito na Universidade de Havana, em 1949, e começou a defender gratuitamente camponeses, operários e prisioneiros políticos – em troca, chamava todos a fazer parte da revolta que articulava contra o governo.

O Partido Ortodoxo o escolheu para ser candidato à Câmara dos Deputados nas eleições de 1952, quando também seria escolhido o novo presidente do país. Mas o pleito não chegou a ser realizado. Em 10 de março de 1952, o sargento Fulgêncio Batista tomou o poder, com o reconhecimento do governo americano, e no dia seguinte fechou o Parlamento e suspendeu as eleições.

Fidel Castro acende seu charuto ao lado do argentino Che Guevara (1928-1967) durante os primeiros dias de sua campanha de guerrilha nas montanhas Sierra Maestra em Cuba, por volta de 1956 (Hulton Archive/Getty Images)
Fidel Castro acende seu charuto ao lado do argentino Che Guevara (1928-1967) durante os primeiros dias de sua campanha de guerrilha nas montanhas Sierra Maestra em Cuba, por volta de 1956 (Hulton Archive/Getty Images)

Era o começo da farsesca carreira política de Fidel. Em 1953, ele liderou um grupo de rebeldes em um ataque suicida ao quartel de La Moncada. Foi preso e levado a julgamento no mesmo ano, quando assumiu a própria defesa, exercitando a retórica inflamada e arrogante que o caracterizaria por toda a vida pública. Dois anos depois, foi solto e exilou-se no México, onde começou a organizar seu retorno a Cuba.

No dia 30 de dezembro de 1958, seu escudeiro, o argentino Ernesto ‘Che’ Guevara, e mais quatrocentos guerrilheiros sob seu comando conseguiram conquistar Santa Clara, que era defendida por 3.500 soldados do governo. Essa vitória foi fatal para Fulgêncio, que abandonou o país na madrugada de 31 de dezembro. Em janeiro, Fidel já estava no poder.

O ent?o primeiro-ministro cubano Fidel Castro durante o 19? anivers?rio de sua chegada aos seus companheiros revolucion?rios no iate Granma, em Havana, em novembro de 1976 (Prensa Latina/Reuters)
O então primeiro-ministro cubano Fidel Castro durante o 19º aniversário de sua chegada aos seus companheiros revolucionários no iate Granma, em Havana, em novembro de 1976 (Prensa Latina/Reuters)

Um dos primeiros atos do principiante ditador foi mandar fuzilar colaboradores do ex-sargento. Começou promovendo a reforma agrária e nacionalizando empresas, transformando em unidades de produção cerca de 70% da superfície cultivável do país, pertencente a companhias estrangeiras e latifundiários locais. Milhares de cubanos deixaram o país e se estabeleceram na Flórida (EUA), onde passaram a representar uma força política contrária ao regime castrista.

Enquanto isso, Cuba ia se afastando dos americanos, que decretaram bloqueio comercial ao país em 1960 e romperam relações diplomáticas em 1961 – ano em que o comunismo foi formalmente estabelecido. No ano seguinte, foi implementado o racionamento de alimentos – que prossegue até hoje e segundo o qual cada família cubana tem um limite mensal de produtos registrado em uma “libreta” de controle.

Economia

O país, então, começou a depender da União Soviética. Mas a ajuda durou apenas até o início dos anos 90. Depois disso, o colapso do regime soviético suspendeu o repasse financeiro e afundou Cuba em uma grave crise econômica, que obrigou Fidel a ensaiar tímidas reformas.

A abertura de restaurantes familiares passou a ser permitida, assim como feiras livres para complementar a escassa ração oficial. Houve também incentivo ao turismo e investimentos estrangeiros. Fatalmente, algumas pessoas começaram a sentir uma leve melhora na qualidade de vida. Bastou para que, em 1996, o comandante-em-chefe engatasse a marcha a ré nas mudanças, que na visão dele teriam passado a afrontar o princípio revolucionário da igualdade. A repressão política ficou mais dura e dissidentes foram condenados a longas penas de prisão.

O ex-presidente venezuelano Hugo Ch?vez durante visita ao ditador cubano Fidel Castro em Havana em agosto de 2006 (Estudios Revolucion-Granma/Reuters)
O ex-presidente venezuelano Hugo Chávez durante visita ao ditador cubano Fidel Castro em Havana em agosto de 2006 (Estudios Revolucion-Granma/Reuters)

A Venezuela do caudilho Hugo Chávez (1954 – 2013) passou a pagar a “mesada” que antes cabia à União Soviética, o que possibilitou, por exemplo, reduzir os cortes de energia elétrica na ilha. Mas os recursos concedidos ao regime, que vieram também dos cofres da China, do Canadá e do Brasil, nunca tiveram como reflexo o bem-estar da população.

Dois terços dos 11 milhões de cubanos que nasceram depois de 1959 não conheceram outro regime que o de miséria imposto pelos irmãos Castro – nenhum outro ditador de sua época permaneceu tanto tempo no poder. Há ainda 2 milhões de cubanos exilados.

Mesmo oficialmente aposentado, Fidel continuou mandando e desmandando no governo. Raúl e todos os demais dirigentes ainda eram obrigados a consultá-lo a respeito de qualquer assunto importante. Governavam, portanto, de mãos atadas. E quando perdeu as forças também para manter o padrão de seus célebres e longos discursos – no auge, chegou a falar por 8 horas ininterruptas – Fidel trocou o palanque da oralidade pelo conteudo escrito, mas igualmente nada sucinto: seu proselitismo foi reunido em um livro com nada menos que 896 páginas.

O ex-presidente sul-africano Nelson Mandela abra?a o ex-ditador cubano Fidel Castro durante uma visita ? casa de Mandela em Houghton, Joanesburgo, em setembro de 2001 (Chris Kotze/Reuters)
O ex-presidente sul-africano Nelson Mandela abraça o ex-ditador cubano Fidel Castro durante uma visita à casa de Mandela em Houghton, Joanesburgo, em setembro de 2001 (Chris Kotze/Reuters)

Os cubanos que viram nas promessas de reforma de Raúl a possibilidade de recuperar os anos perdidos decepcionaram-se ao perceber que nenhuma mudança foi para melhor. A vida ficou mais difícil. O Estado, dominado pelos militares, mantém o controle de todas as atividades relevantes.

A perseguição política não foi aliviada. Apenas mudou sua natureza. Se antes era realizada buscando algum suporte na lei, agora se dá de forma clandestina, com milícias governistas reprimindo os opositores. E a população continua impedida de avançar pois, aos olhos do regime castrista, a concentração da propriedade contradiz a essência do socialismo e jamais será permitida.

Com a morte do ditador, Cuba tem o desafio de (finalmente) começar a caminhar com as próprias pernas e oferecer uma vida melhor (e livre) à população.

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