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Postado às 13h15 | 05 Jun 2022 | redação Documentário mossoroense é finalistas do Festival de Cinema de Pernambuco

Crédito da foto: Divulgação documentário Solo Negro foi produzido pela equipe de Comunicação da UFERSA

Por Edinaldo Moreno / Repórter do JORNAL DE FATO

O documentário Solo Negro, produzido pela equipe de comunicação da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), é um dos finalistas do III Cine Caatinga, Festival de Cinema de Pernambuco. Ele reúne produções audiovisuais de toda a Região do Semiárido Brasileiro.

O JORNAL DE FATO conversou sobre a iniciativa com os jornalistas Passos Júnior, diretor do filme, e Carlos Adams, que assina o roteiro do documentário. De acordo com Passos Júnior, o curta-metragem tem 28 minutos e aborda as vivencias dos moradores das comunidades quilombolas Pêga e Arrojado, no município de Portalegre, região serrana do Rio Grande do Norte.

Passos Júnior explica que a intenção de documentar o dia a dia dos moradores foi visibilizar essas localidades. “Encaramos como um compromisso social da Universidade proporcionar uma maior visibilidade dessa população que ainda, apesar de alguns avanços, continua a necessitar de uma maior atenção por parte da sociedade e, principalmente, do poder público”.

“Percebemos que a importância do povo negro para o desenvolvimento do nosso país continua desconhecida ou sendo desconsiderada, acarretando o preconceito, o racismo, a discriminação, entre outras mazelas sociais pelo simples fato da cor da pele. Não é por acaso que a grande maioria dos pobres tem cor escura e vai continuar pobre por causa da pele preta”, continuou.

O diretor do filme ressalta que “essa realidade precisa mudar” e tem nesse sentido a educação como importante caminho, sendo a Universidade uma trilha fundamental. “Entendemos que cabe também à Universidade esse resgate histórico/ antropológico dos descendentes de pessoas que foram escravizadas e que hoje denominamos de populações quilombolas”.

Para produzir o material, Passos Júnior salientou que a equipe teve a intenção de interferir o mínimo possível na realidade da comunidade. “A nossa proposta foi captar memórias – passadas, presentes e futuras. Desta forma, termos a participação no filme de pessoas idosas, adultas (em idade produtiva), jovens e crianças. Queríamos saber como era, como é e, também num sentido mais provocativo, saber quais são as perspectivas de futuro dos jovens quilombolas, partindo do princípio da educação, do ingresso numa universidade”.

O jornalista Carlos Adams disse que foram muitos depoimentos marcantes, dos mais idosos aos mais jovens. Segundo ele, todos e todas têm histórias interessantes a contar de preconceito, racismo e resiliência. Adams destacou duas histórias das primeiras moradoras das referidas localidade.

“Não dá para escolher um depoimento, todos tinham histórias e grandes ensinamentos a nos passar. Aqui registro o depoimento de Dona Alzerina e Dona Aldizes, a primeira moradora do Arrojado, a segunda do Sítio Pêga. As duas relataram emocionadas a vida de seus avós e bisavós que eram escravos, que não podiam amamentar seus filhos, que andavam de chocalhos, que não tinham locais adequados para dormir e se alimentar”, iniciou.

“Também foram impactantes os depoimentos dos mais jovens como a Creuza e o Gabriel. Ambos sofreram com preconceito e com racismo na escola, mas mostraram uma resiliência enorme em busca de dias melhores para as suas famílias e para as suas comunidades. O encantamento da Dança do São Gonçalo e, também das jovens universitárias que veem na graduação superior a alternativa para melhorar de vida”, completou.

O roteirista do documentário acredita que as populações afrodescendentes têm muito a contar dos seus antepassados. Ele lamenta que os livros de história não trazem com profundidade a riqueza da cultura e das tradições afro que chegaram ao Brasil a partir dos povos escravizados africanos durante as épocas do Brasil Colônia e Império.

“Trazendo para a nossa realidade, Portalegre, assim como outros municípios do RN, tem histórias marcantes e inspiradoras que precisam ser divulgadas para toda a população ter acesso. As comunidades quilombolas de Portalegre foram apenas uma amostra do potencial cultural e histórico do nosso povo que precisa ser reportado e documentado para se conhecer e assim buscar políticas públicas de inclusão e de igualdade. Com certeza, o documentário ‘Solo Negro’ passa a ser um importante documento histórico para as comunidades quilombolas da região”, finalizou. 

IDEIA

Em setembro do ano passado, Carlos Adams destacou que o Secretário Nacional de Políticas de Promoção à Igualdade Racial, Paulo Roberto, visitou as comunidades quilombolas de Portalegre junto à Reitora da Ufersa, a professora Ludimilla Oliveira.

“Na ocasião, a equipe de comunicação da Universidade acompanhou a visita e foi a partir daí que viu o potencial daquelas comunidades. Ali surgiu o start de gravar um documentário a partir dos depoimentos e das imagens daqueles moradores”, detalhou Adams.

“Acreditamos que teve muito do faro jornalístico, de percepção para proporcionar a visibilidade de tantas histórias de vida e de grande riqueza cultural. É também parte da nossa história, dos nossos antepassados que de uma forma ou de outra ainda resiste. A partir daí, nesse mesmo dia, lá na comunidade, compartilhamos a ideia com a reitora Ludimilla Oliveira que de imediato aprovou e deu todo o apoio, tanto que em menos de três meses, o Solo Negro estava sendo lançado para os moradores do lugar”, falou Passos Júnior.

Carlos Adams enalteceu a ajuda valiosa de estudantes do curso de Licenciatura Educação do Campo (LEDOC) que desenvolvem trabalhos nas comunidades. A gravação e a edição do material ocorreram no final do ano passado.

“Gravamos no início de novembro de 2021 e, corremos para editar o material e poder lançar ainda em dezembro. Na semana do Natal, mais precisamente no dia 21 de dezembro, voltamos ao Sítio Pêga onde montamos uma estrutura de exibição com o apoio dos moradores e lançamos para a comunidade o ‘Solo Negro’”. 

Votação acontece até este domingo

A etapa final de seleção está aberta à participação do público, que pode votar diretamente no site do festival, até este domingo (5). Passos Júnior explica como o interessado em assistir ao documentário deve fazer.

“Por enquanto, o documentário poderá ser visto no site do festival caatinga. Aproveitem e votem também para que possamos conquistar na categoria júri popular o Troféu Cabrito Dourado”.

Para garantir o Troféu, o documentário Solo Negro foi selecionado entre as 50 produções de um total de 280 concorrentes. “Adianto que em breve estaremos disponibilizando nos canais oficiais da UFERSA, pois pretendemos ainda participar de outros festivais”, enfatizou o diretor do filme.

Ao todo, foram 50 produções audiovisuais selecionadas nos mais diferentes estilos. O Solo Negro concorre na “Categoria Documentário”. Qualquer pessoa de qualquer lugar do mundo pode assistir e dar o voto até hoje, através do site: https://cinecaatinga.com.br/filmes/solo-negro/.

Indagado sobre como a equipe recebeu a notícia do documentário ser um dos finalistas, Passos Júnior disse que foi uma grande alegria e satisfação.

“Foi o resultado de um trabalho bonito, profissional que nos encheu de orgulho. Ainda mais por saber que estamos levando o nome da UFERSA para todo o Semiárido, com uma temática importante e comprometida com a questão social, cultural e política da população negra, num Festival importante que já chega a sua III edição e que extrapola a Região Nordeste.

O Solo Negro também está inscrito no Festival Curta Caicó e a intenção dos responsáveis pelo documentário é participar de outros que aparecerem no decorrer do ano e, a partir daí, divulgar sempre esse trabalho que considera bem importante para fomentar o debate relacionado à questão da população negra.

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