Domingo, 19 de janeiro de 2025

Postado às 09h30 | 01 Ago 2022 | redação Inflação alta prejudica comerciantes que trabalham no setor de alimentação

Crédito da foto: Cedida Comerciante Neri Silva de Carvalho, em Mossoró

Por Amina Costa / Repórter do JORNAL DE FATO

A alta da inflação dos alimentos, que diminuiu o poder de compra da população, provoca uma série de mudanças na rotina dos brasileiros. Hoje, os consumidores estão tendo que lidar com o aumento relevante no valor dos itens essenciais para a alimentação. E o pior é que esse aumento tem sido considerável e sentido por quem faz compras semanalmente.

A situação é ainda mais difícil para aquelas pessoas que trabalham no setor alimentício, como restaurantes, lanchonetes e pizzarias, por exemplo, que estão comprando insumos cada vez mais caros e não podem repassar todo o reajuste para os clientes. Alguns precisam ter verdadeiro jogo de cintura para lidar com os prejuízos e, ao mesmo tempo, segurar a clientela.

Esse é o caso de dona Neri Silva de Carvalho, que fornece alimentos na cantina da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern). Ela, que comercializa salgados, bolos e sucos no local, informou que tem sentido o aumento em muitos produtos, mas, principalmente, no leite e nos seus derivados.

“Eu trabalho com bolos, sucos, salgados e algumas sobremesas. Eu percebi o maior aumento de preço no leite e derivados. Esse aumento foi muito rápido, aliás, sinto que toda semana que vou ao supermercado fazer compras os itens estão cada vez mais caros”, disse a comerciante.

Dona Neri Silva explica que é preciso ter muito jogo de cintura para poder continuar oferecendo produtos de qualidade e, ao mesmo tempo, não ter prejuízos. “Tem que ter muito jogo de cintura. Faço tudo do mesmo jeito, mas às vezes diminuo a quantidade, tento reduzir os custos produzindo os lanches para evitar estar comprando de fornecedores”, explica.

Esse mesmo dilema tem sido vivido por Gilzeara dos Santos Morais, proprietária de um comércio localizado no centro de Mossoró para a venda de almoço. Ela disse que possui o comércio há sete anos e, em todos esses anos, nunca tinha vivido uma situação como essa.

“Aumentou praticamente tudo, desde a carne até o refrigerante. Legume, arroz e feijão estão aumentando toda semana. O gás de cozinha aumentou bastante também. Então, não tenho como dizer se aumentou isso ou aquilo porque, no final das contas está tudo mais caro. Faço as compras toda semana e observo que os itens essenciais estão bem mais caros”, disse.

Gilzeara dos Santos explica que a dificuldade dela é ainda maior porque ela não tem como repassar esses reajustes para os clientes, porque toda a sua clientela é formada por trabalhadores do comércio que ganham, em sua maioria, um salário mínimo.

“A dificuldade está muito grande em questão de não poder aumentar o valor do almoço para os clientes. Porque tanto é difícil para a gente quanto para o cliente, porque o meu cliente é o que almoça todos os dias, que trabalha no comércio e recebe apenas um salário mínimo. Então tudo está muito complicado e difícil”, aponta a comerciante.

Nessa semana, os consumidores mossoroenses se depararam com o alto valor do queijo muçarela nos supermercados e hipermercados de Mossoró. O produto estava sendo comercializado com o valor de R$ 63, o quilo.

Segundo especialistas, o aumento do queijo é reflexo da alta no preço do leite. O preço do leite longa vida subiu 22% na prévia da inflação de julho e acumula alta de 57% no ano. Com isso, os derivados do leite também tiveram aumento, como o requeijão (4,74%), manteiga (4,25%) e queijo (3,22%). 

O aumento dos produtos atinge todos os segmentos do ramo alimentício. Além de restaurantes e lanchonetes, a inflação também tem sido a grande vilã dos comerciantes de açaí da cidade. Aryanne Costa explica que o aumento ocorreu tanto no próprio açaí quanto nos itens que os acompanham. Ela comenta que muitos dos itens são derivados do leite (leite condensado, nutella, os cremes, entre outros itens).

Ela relata ainda que identificou aumento nas frutas e nos cereais que utiliza nos açaís. “Trabalhamos há alguns meses com açaí e percebemos que teve aumento em tudo. Desde o próprio açaí até os itens que são adicionais. Os aumentos acontecem quase que diariamente. Sempre que vamos ao supermercado, notamos que um item ou outro está mais caro”, informou.

“Nós tentamos segurar ao máximo o preço e evitar ainda mais prejuízos, deixamos de fazer as promoções, os combos e até de oferecer entregas grátis para os clientes. A gente sabe que isso é bem importante para fidelizar o cliente, mas realmente é algo que está muito complicado de acontecer. Porque se lançamos uma promoção, o pouco lucro que ainda temos vai todo embora. E precisamos de dinheiro girando porque como são muitos itens, alguns vão acabando e temos que repor constantemente. Enquanto isso, vamos continuando com esse jogo de cintura e no limite. Caso os aumentos continuem ocorrendo, infelizmente, vamos ter que começar a repassar para os nossos clientes”, complementa.

Inflação fez consumidores retirarem produtos das compras mensais

O preço do leite costuma subir durante a entressafra, que vai de abril até junho, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). É quando o clima mais seco prejudica a disponibilidade e a qualidade das pastagens.

Contudo, neste ano, os produtores tiveram mais dificuldades de lidar com a entressafra por causa da alta nos custos de produção e efeitos do fenômeno La Ninã, que provoca uma redução das chuvas no Sul do país e as aumenta no Centro-Norte.

Os insumos que mais estão pesando para o produtor são a ração — por causa da valorização no mercado de grãos, os suplementos minerais, os fertilizantes e o combustível. Além disso, o aumento das exportações de grãos e a queda na disponibilidade interna também pressionam os preços.

 

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