Por Edinaldo Moreno - Repórter do Jornal de Fato
O leite materno é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o “alimento de ouro” para os bebês. Ele é essencial para a sobrevivência, a nutrição e o desenvolvimento nos primeiros meses de vida e no início da infância. Por conta da campanha “Agosto Dourado”, o número de doadoras quase dobrou nesse mês no Banco de Leite de Mossoró (BLM).
Antes da campanha eram, em média, 30 mulheres que se dirigiam ao órgão e durante a campanha esse número subiu para 50. O Agosto Dourado marca a campanha mundial de incentivo ao aleitamento materno e tem o intuito de alertar a população sobre a importância da amamentação. A mobilização tem com objetivo promover a amamentação como alimento natural por excelência para melhorar a saúde dos bebês do mundo.
O leite humano é considerado o alimento mais econômico, renovável, ecológico e seguro que existe. Ele não precisa de embalagem, não contamina e nem deixa desperdício. De acordo com a diretora do BLM, Patrícia Minelli Varela de Sousa, o uso de palestras e as ferramentas sociais ajudam as mães que estão amamentando seus filhos a procurarem o Banco de Leite do município.
“O nosso trabalho é de receber mães com dificuldades de amamentação e de orientá-las como doar o leite materno. Incentivamos e apoiamos o aleitamento materno e recebemos leite humano para ser pasteurizado e distribuído. Durante todo o mês foi realizado palestras em UBS (Unidades Básicas de Saúde) para conscientização da importância do aleitamento materno. Essas palestras foram para gestantes e público em geral. No início do mês, realizamos um café da manhã para as doadoras. Foi um evento lindo”, disse Patrícia.
O leite materno doado é a alternativa para os bebês prematuros ou com condições crônicas de saúde de se alimentar com o leite materno. Por isso, o Banco de Leite realiza campanhas que visam aumentar o número de doadoras, estoques de leite e frascos de vidro com tampa de plástico, essenciais para o armazenamento do leite doado, para atender os recém-nascidos internados na Unidade de Terapia (UTI) Neonatal, especialmente durante os períodos de festas e férias, quando o volume de leite materno coletado costuma diminuir.
“Para ser doadora é necessário que a mulher esteja amamentando seu filho e saudável, e aquelas que estão com leite materno em excesso. Estamos recebendo todos os dias novas doadoras”, ressaltou a diretora do Banco de Leite de Mossoró.
Ele é o melhor alimento durante os primeiros seis meses de vida, pois tem tudo o que o bebê precisa, inclusive água. O leite materno protege a criança de infecções respiratórias e diarreia, além de reduzir o risco de desenvolver hipertensão, diabetes e obesidade na vida adulta, e, dependendo do peso do recém-nascido, apenas 1 ml já é o suficiente para nutri-lo a cada refeição.
O aleitamento materno reduz em 13% a mortalidade até os cinco anos, evita diarreia e infecções respiratórias, diminui o risco de alergias, diabetes, colesterol alto e hipertensão, leva a uma melhor nutrição e reduz a chance de obesidade. Além disso, o ato contribui para o desenvolvimento da cavidade bucal do pequeno e promove o vínculo afetivo entre a mãe e o bebê.
Ele é a estratégia que isoladamente mais previne mortes em crianças menores de cinco anos, visto que o leite materno é superior a qualquer outro leite nessa fase da vida, pois é um alimento completo que possui todos os nutrientes que o bebê precisa, sendo de mais fácil digestão.
Levantamento da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH-Brasil) mostrou que mais de 3 mil mulheres realizaram doações de leite materno no ano passado no Rio Grande do Norte. De acordo com o órgão, foram, ao todo, 3.776 pessoas do sexo feminino que doaram leite humano para recém-nascidos.
Foram beneficiados 6.543 recém-nascidos com as doações. Um litro de leite materno pode alimentar até 10 recém-nascidos por dia. Dependendo do prematuro, 1 ml é o suficiente para nutri-lo a cada vez que for alimentado.
RODAS DE CONVERSAS
Durante todo o mês de agosto, o Ambulatório Materno Infantil (AMI) realizou atividades relacionadas à campanha junto às mães e gestantes atendidas pelo órgão ligado a Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
O encerramento da campanha no AMI ocorreu na última sexta-feira (26) com uma roda de conversa sobre a importância do aleitamento materno. A assistente social Rosenilda de Oliveira destacou a importância destas ações.
“Durante todo esse mês, o AMI promoveu essa série de palestras, de rodas de conversas acerca do Agosto Dourado e da importância da amamentação. Trabalhamos com a saúde da mulher. Esse é um público que a gente considera necessário para estar passando essas informações, trazendo essas informações e essas orientações acerca da amamentação”, explicou.
Aplicativo pretende facilitar doação de leite humano no RN
Em breve, o Rio Grande do Norte poderá ter sua primeira ferramenta tecnológica para doações de leite materno. Idealizado pela pesquisadora Luzia Menezes, o aplicativo busca substituir processos manuais nos bancos de leite materno e serve como uma rede de apoio entre doadores e receptores.
O projeto é desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Universidade Potiguar (PPGB/UnP). A pesquisadora analisou as atividades desenvolvidas no Hospital e Maternidade Divino Amor (HMDA), em Parnamirim (RN), e detectou a necessidade de modernizar os trâmites do banco de leite da unidade.
"Isso foi essencial para direcionar as oportunidades de melhorias evidenciadas e para obtermos impactos positivos nos processos de trabalho, no serviço oferecido e, consequentemente, na quantidade e qualidade de leite doado”, explica a pesquisadora, que iniciou o projeto em junho de 2022 e pretende lançá-lo até o primeiro semestre de 2023.
Assim como em outras unidades hospitalares, os processos atualmente utilizados para bancos de leite são manuais, com uso de comunicação por telefone em horário comercial, cadastro por meio de fichas impressas e controle em planilhas que não são eletrônicas.
O orientador da pesquisa, professor doutor Ricardo Cobucci, que é servidor no HMDA, ressalta que a ferramenta pode resultar, dentre outras coisas, na qualidade do leite humano doado. "O aplicativo pode impactar positivamente a saúde pública, pois busca trazer melhorias nos processos de coleta, avaliação da qualidade e pasteurização do alimento doado", afirma Cobucci.
Outra vantagem é que a tecnologia pretende facilitar a captação de novos doadores, segundo o coorientador da pesquisa, professor doutor Jan Erik. "O aplicativo terá, também, a finalidade de facilitar o cadastro dos doadores e dos que precisam do leite em um mesmo aplicativo. Dessa forma, cria-se uma rede de apoio, sendo mais uma facilidade para doação de leite materno”, frisa.
Recentemente, o projeto iniciou uma parceria de cooperação de desenvolvimento do sistema com o Instituto Metrópole Digital (IMD/UFRN), por meio da professora doutora Anna Giselle, e com o Departamento de Fisioterapia da UFRN, na área de Saúde da Mulher, por meio da professora doutora Maria Thereza Micussi.
Após a conclusão do desenvolvimento da ferramenta, o próximo passo será registrá-la em programa de computador e, então, buscar novas parcerias para custear a implantação do sistema, que inicialmente será realizada no banco de leite parnamirinense.
Falsas informações dificulta processo de amamentação
Nas rodas de conversas realizadas ao longo do mês no Ambulatório Materno Infantil, uma das principais dúvidas de mães e gestantes era sobre mitos quanto a amamentação. O aleitamento exclusivo até o sexto mês de vida, se estendendo até os dois anos ou mais de idade, é um desafio às mães e uma meta das entidades voltadas à preservação da saúde (de mães e bebês).
A assistente social, Rosenilda de Oliveira, destaca que os mitos quanto ao assunto dificultam a compreensão sobre a importância do leite materno para a criança.
“Durante toda a campanha abordamos muito essa questão de mitos sobre o aleitamento materno. Falsas informações que foram produzidas ao longo do tempo acerca da amamentação dificulta esse processo com as mães e seus bebês”, iniciou.
“A gente discutiu parte desses mitos e dessas informações que são repassadas ao longo do tempo, por exemplo, dizer que o leite materno é fraco, entre outras dúvidas que ouvimos nestas atividades. Esses mitos prejudicam todo esse processo de amamentação”, completou.
Aumentar as taxas de amamentação pode salvar a vida de crianças com menos de seis meses de idade. O leite materno auxilia no desenvolvimento de diversos sistemas da criança: imunológico, neurológico e metabólico. Para as mães, os benefícios são muitos: entre eles, melhor recuperação do parto e menos risco de câncer de mama.
“A amamentação é uma das práticas mais importantes do ponto de vista da saúde. Ela é considerada uma das 10 práticas mais importantes para a vida e nós como unidade que trabalha com as mulheres trouxemos essa temática durante esse mês de agosto, considerando os aspectos nutricionais, psicológicos, trabalhando com o desenvolver de uma forma mais saudável essa amamentação”, disse Rosenilda.
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