Por Amina Costa / Repórter do JORNAL DE FATO
O Hospital da Mulher Parteira Maria Correia possui uma superestrutura de 15 mil m² que abrigarão 160 leitos e receberá pacientes de toda a região Oeste do Estado do Rio Grande do Norte. A importância dessa obra, que está em fase final de conclusão, chamou a atenção da artista visual Nôra Aires, que dedicou meses trabalhando num projeto que está compondo a imagem do Hospital da Mulher.
Experiente em criar obras permanentes - e públicas - criadora da instalação escultórica “O Bando do Cancão Acrobata”, que fica no Parque Ecológico Municipal Prof. Maurício de Oliveira, em Mossoró, além de várias outras obras espalhadas por sua cidade natal, Nôra Aires percebeu que uma única peça não seria o suficiente para sustentar a importância do Hospital da Mulher.
A artista comenta que teve muita receptividade por parte do corpo técnico da Engenharia, tanto da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) quanto da empresa contratante e da Gestão de Projetos do Governo Cidadão na hora de apresentar suas cinco ideias iniciais. A partir dessa receptividade, ela diz que começou a juntar as peças e conferir um conceito e assim nasceu a obra, que ela ainda não batizou, mas que em breve contará com uma plaquinha de créditos no local.
Segundo explicou, são três figuras principais que exaltam o feminino e mais duas que compõem o total da arte escultórica, que tem em torno de 2,40 metros de comprimento, aproximadamente, 3,5 metros de altura e ocupação de 3 metros quadrados de área. As esculturas contribuirão para que o Hospital da Mulher de Mossoró seja um marco temporal pensado para acolher as demandas do que é ser mulher no século XXI.
As peças feitas para o Hospital da Mulher fazem parte dos estudos “seres” que ela cria desde os anos 2000 e que são um olhar seu, particular, sobre o humano. Essas, em especial, representam o feminino. “Sei do momento ímpar que estamos vivendo. Sei da importância desse Hospital para a saúde da mulher, que será referência, será um local de acolhimento para o que é ser mulher em toda nossa diversidade”, reconhece ela.
O fato de realizar obras que ficam expostas na rua, nas praças, nas fachadas de prédios, faz toda a diferença para a artista. “Não é uma obra silenciosa, ou que fica nas paredes de particulares. Adoro quando ouço as interpretações das pessoas sobre o que faço. A obra reverbera nas pessoas”, diz.
As peças foram construídas com ferro e placas cimentícias. A artista visual queria atrair pela cor e pela forma e, ao mesmo tempo, poder falar de “mil coisas”. As peças são multidimensionais. É possível passear o olhar por vários lados e ângulos, bem como por dentro, já que são vazadas. As cores da diversidade foram escolhidas para compor a obra do Hospital da Mulher. “Arte quando você expõe na rua é uma grande responsabilidade, porque você está se conectando com milhares de pessoas.”
“Tivemos a preocupação de não interpretar o ser mulher apenas no olhar convencional. Exaltamos o feminino em todas as suas possibilidades. O útero, por exemplo, se apresenta não como um órgão interno, mas um órgão que está disposto em cima de uma estrutura”, descreve ela, acrescentando que a obra colorida tem um lúdico, mas não foi pensada para distrair e sim para atrair o olhar e os detalhes, que são vários.
Indagada sobre o que ela pretendia comunicar com essa obra, Nôra tenta sintetizar: “nesse momento que vivemos, tão delicado, com tanta desinformação, misoginia, homofobia e, ao mesmo tempo, surgindo e emergindo novas possibilidades de viver o feminino, pessoas ganhando visibilidade, eu quis com essa obra que nosso olhar se abrisse para as necessidades dos indivíduos, para mais respeito e igualdade, para todas as mulheres. Todos os seres”, resume.
Artista começou a se expressar artisticamente ainda na década de 1980
Nôra Aires aliou a engenharia agronômica, estudada na atual Ufersa, nos anos 1980, à inquietação artística que sempre a acompanhou desde as observações da forma delicada e organizada de sua mãe dona Tilinha – uma mulher que compreendia a importância da reciclagem e do reaproveitamento de materiais muito antes de isso virar pauta ambiental - e da irmã mais velha 11 anos, que desenhava divinamente.
Essa vivência doméstica ganhou contornos “revolucionários” durante a época da faculdade. Antes de se encontrar como artista visual, Nôra experimentou o teatro, sobretudo na parte de cenografia e figurino; e também na música, tendo participado de Festivais como o do Forte, em Natal, dentre outras atividades artísticas. Essa mistura inusitada fez dela uma pesquisadora do bioma caatinga e uma estudiosa de como levar elementos de sua profissão acadêmica para a criação de suas obras.
A alma do artista quase sempre é vasta e só um meio de expressão não consegue dar conta de uma subjetividade interior plena de contornos, planos, linhas, cores, buscando vir a ser uma forma ou uma maneira de existir fora de uma realidade íntima. Foi dessa inquietude, nem sempre explicável, que surgiu o desejo da artista de manusear o mosaico, numa tentativa de saber qual seria o resultado de uma superfície revestida com determinadas espécies de materiais.
Hospital da Mulher está com 90% das obras concluídas
A construção do Hospital da Mulher “Parteira Maria Correia”, em Mossoró, avança para a sua reta final. Mais de 90% da obra física foi concluída. É provável que a etapa final seja concluída ainda este ano e, a partir dos primeiros meses de 2023, o Governo do Estado comece a fase da instalação dos equipamentos.
Quando concluído, o hospital será a maior unidade pública do estado. Os recursos investidos na unidade especializada em saúde feminina somam R$ 134 milhões e foram viabilizados pelo Projeto Governo Cidadão a partir do empréstimo estadual com o Banco Mundial. Ao todo, serão 15 mil m² de área construída dividida em quatro andares com oito elevadores. O terreno, que soma 36 mil m², terá quase 200 vagas de estacionamento.
Os 160 leitos do Hospital da Mulher serão focados na atenção materno-infantil, ginecológica e obstétrica de média e alta complexidade. A meta é de 20 mil atendimentos anuais, de pacientes de mais de 60 municípios. Segundo o Governo do Estado, a fase de testes de ações finalizadas foi iniciada, como aparelhos geradores de energia, de tecnologia da informação, câmeras de segurança e iluminação. Toda a infraestrutura e superestrutura das edificações e alvenarias já estão concluídas.
O governo programou 16 licitações para compra de equipamentos, mobiliários e veículos para a unidade, que somam mais de R$ 40 milhões. Aparelhos de grande porte, como Raio X, que necessitavam estar no local antes das obras físicas serem erguidas, já estão no local.
Todas as licitações previstas contam com consultas públicas para dar transparência e promover uma ampla concorrência entre empresas do ramo hospitalar. Todo o processo é amparado pelas Diretrizes de Aquisições do Banco Mundial e passam por análises das áreas técnica e jurídica do Projeto Governo Cidadão.
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