Por Edinaldo Moreno / Repórter do JORNAL DE FATO
“Quem necessita sabe o quanto é importante um órgão”. Essa frase simboliza a alegria da estudante Clara Regina que conseguiu um transplante de rim. Ela passou pelo procedimento cirúrgico em 2011 após receber o órgão de um rapaz de 23 anos à época. Ela tinha 19 anos quando recebeu o órgão.
Segundo ela, o transplante ocorreu no dia 6 de julho de 2011. Em conversa com o JORNAL DE FATO, a estudante contou a felicidade de, na visão dela, “ter a grande oportunidade de aproveitar a vida”. Ela explicou que antes do transplante “tinha deixado de viver”.
“É aquela frase: ‘a gente sobrevive e não vive’. Para mim foi muito importante, pois eu tinha deixado de viver, mas após receber um órgão tive a grande oportunidade de aproveitar a vida, de ter um estilo de vida melhor. Não ter mais a necessidade de hemodiálise é algo maravilhoso”, diz.
Clara Regina destaca que hoje tem uma rotina normal de qualquer pessoa, mas salienta que ainda tem algumas restrições, mas que não impede de cumprir com os afazeres e também de estudar.
Clara Regina que conseguiu um transplante de rim
“Hoje me sinto muito bem. Tenho minha rotina normal como qualquer pessoa, mas claro que ainda com algumas restrições. Ela, no entanto, não impede de cumprir com meus afazeres, como também não impede de estudar. Hoje estou terminando o ensino superior”, falou Clara que completou.
“Era um grande sonho meu e por motivos da hemodiálise tinha parado, pois não tinha condições de estudar no estado que estava. Hoje sou casada e cuido da minha casa, faço toda a rotina de dona de casa, então, é algo tão prazeroso você fazer o que gosta”, comentou a estudante que também salientou outro ponto importante.
“Até posso viajar por mais tempo, pois na hemodiálise era limitado devido ao tratamento que era três vezes por semana”, concluiu.
PRIMEIRA CAPTAÇÃO DE ÓRGÃOS DE 2023
O Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM), em Mossoró, realizou nesta semana a primeira captação de órgãos de 2023. O procedimento ocorreu na última quinta-feira (19). Dependendo da compatibilidade, um doador pode beneficiar até seis receptores, mas nem sempre se capta todos os órgãos e só é retirado um órgão quando tem receptor compatível.
A equipe da Comissão Intra-Hospitalar para Doação de órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) captou coração, rins, fígados e córneas, graças a duas doações. Essa equipe é formada por uma psicóloga, assistente social, enfermeiras, médicos e técnicas de enfermagem, e foi reconstituída no Hospital em julho de 2016.
Quatro pessoas do Rio Grande do Norte, que necessitavam de hemodiálise receberam os rins e poderão ter mais qualidade de vida. Outras quatro pessoas do estado receberam ainda as córneas, voltando a enxergar. Já os fígados foram destinados a Brasília e Pernambuco, transportados com a devida segurança por parte da Força Aérea Brasileira (FAB).
Desde 2016, o Hospital Tarcísio Maia registrou mais de 40 captações de órgãos. “Já fizemos 44 captações no Hospital Tarcísio Maia viabilizadas pelo CIHDOTT. Aqui no HRTM, podemos captar até seis órgãos, o que pode devolver a vida a até seis pessoas a cada captação”, disse a psicóloga Symoni Florentino.
O Tarcísio Maia tem sido destaque nacional neste trabalho, merecendo respeito e credibilidade. Mesmo nesse período de pandemia, o HRTM conseguiu manter as captações, seguindo todas as normas de segurança estabelecidas pelo Ministério da Saúde (MS).
O primeiro transplante de coração deste ano foi realizado na última quinta-feira (19), fruto da parceria entre a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap), por meio da Central de Transplantes do RN. Ela destaca que o Rio Grande do Norte já havia realizado tal procedimento anteriormente. “Já fizemos captação de coração antes, mas é a segunda vez que o transplante é feito aqui mesmo no Rio Grande do Norte. A primeira foi feita em Natal”, contou.
A doação de órgãos proporciona o prolongamento da expectativa de vida de pessoas que precisam de um transplante, permitindo o restabelecimento da saúde e, por consequência, a retomada das atividades normais. Devido ao número de partes do corpo que pode ser cedida, cada doador pode salvar oito vidas ou mais.
Para doadores vivos, qualquer pessoa com mais de 18 anos e boas condições de saúde é um potencial doador de órgãos. Para isso, é necessária uma avaliação clínica que verifica se há condições de saúde para suprir a ausência dessa parte do corpo.
Doadores vivos podem ceder um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea ou parte do pulmão, para familiares de até quarto grau. Para não parentes é necessária uma autorização judicial.
Após o óbito, só é permitido doar órgãos de pessoas que tiveram morte encefálica, como foi explicado mais acima. Após uma avaliação das causas do óbito, qualquer tipo de doação pode ser feita. Não é possível escolher quem irá recebê-los e depende da autorização de um familiar.
“O processo acontece quando paciente com lesão neurológica grave chega ao hospital e o neuro diagnostica como suspeita de Morte Encefálica ou morte cerebral. A suspeita leva a abertura de um protocolo que é feito por três exames por três médicos diferentes. Finalizado o protocolo com todos os exames positivos para ME (morte encefálica) o médico comunica o laudo à família e só então se conversa com a família e só ela pode autorizar ou não a doação de órgãos”, explicou Symoni.
O QUE É MORTE ENCEFÁLICA
A Morte Encefálica significa a parada de todas as funções do cérebro, sendo, portanto, permanente e irreversível. Para que não ocorram dúvidas, o diagnóstico somente é confirmado após a realização do Protocolo de Morte Encefálica, estabelecido por meio de Resolução do Conselho Federal de Medicina, no qual é composto por 3 exames, dos quais 2 exames clínicos feitos por médicos diferentes, em intervalos de tempo determinados de acordo com a faixa etária do paciente e 1 exame complementar, (no HRTM é realizado um Eletroencefalograma), que confirme a inexistência total de atividade cerebral.
Após a confirmação, a equipe da CIHDOTT realiza uma entrevista familiar, para saber se os seus membros são favoráveis ou não à doação dos órgãos do seu ente querido. A autonomia da família é totalmente respeitada.
Cerca de 1,3 mil pessoas aguardam por algum tipo de transplante de órgão
Atualmente, o Rio Grande do Norte tem cerca de 1.300 pessoas aguardando algum tipo de transplante de órgão, o que só é possível a partir da solidariedade das famílias que autorizam a doação. No Estado, existem dois pacientes em lista de espera por coração, 541 para córneas, 309 para rins e 20 para medula óssea.
A psicóloga esclarece que apenas a família tem autorização para a doação de órgãos. Após a concordância dela o processo é iniciado. “É importante que a família converse sobre a doação de órgão e que as pessoas informem sua família do desejo de doar. Só a família pode autorizar a doação”, iniciou.
“Quando a família concorda, inicia-se uma corrida contra o tempo para enviar sorologia para Natal para então saber quem são os pacientes da fila nacional que são compatíveis e organizar a logística de captação”, explicou a profissional do CIHDOTT.
“Parte da equipe vem de Natal de avião, que pode ser do Governo do Estado ou no caso da última quinta-feira do avião da FAB (Força Aérea Brasileira) e se junta a nossa equipe para a cirurgia de retirada de órgãos”, continuou.
Symoni também explica que a esta altura todos já sabem para onde e para quem vai cada órgão que sai do Hospital Tarcísio Maia por via aérea. “A vida do órgão é muito curta. Tudo tem que ser muito rápido”, frisou.
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