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Postado às 09h15 | 03 Abr 2023 | redação Em maio, mossoroense apresentará projeto na maior feira de ciências do mundo

Crédito da foto: Cedida Vitória Sabrina, ao lado do orientador do projeto, professor Antonio Serginaldo

Por Edinaldo Moreno / Da Redação do Jornal de Fato

A estudante Vitória Sabrina da Silva Leite, do 3º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Monsenhor Raimundo Gurgel, de Mossoró, vai representar o Rio Grande do Norte com o projeto que utiliza materiais de baixo custo para coletar e armazenar a água da chuva.

O projeto é uma das 9 propostas selecionadas durante a edição 2023 da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) para representar o Brasil na maior feira de ciências do mundo. O Prêmio 2023 Regeneron International Science and Engineering Fair, na cidade de Dallas, no estado do Texas, nos Estados Unidos.

Ele é um dos 11 projetos elaborados em escolas públicas do Rio Grande do Norte que foram selecionados para a programação deste ano da Febrace, que aconteceu entre os dias 22 e 24 de março em São Paulo, graças ao Programa de Extensão Ciência para Todos, da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa).

A Feira Brasileira de Ciências e Engenharia é um programa de talentos em ciências e engenharia que estimula a cultura científica, o saber investigativo, a inovação e o empreendedorismo em jovens e educadores da educação básica e técnica do Brasil. Desde 2003, a FEBRACE realiza uma grande mostra de projetos científicos e tecnológicos, na Universidade de São Paulo, que reúne estudantes de todo o Brasil.

Vitória Sabrina explicou como teve a ideia da proposta econômica e sustentável de armazenamento de água da chuva. “É um projeto feito inteiro de forma manual e com materiais recicláveis, justamente pensando nas famílias do Semiárido Nordestino que tanto necessitam de um bom sistema pra depois das chuvas enfrentarem a seca. Cavamos os buracos, revestimos ele, usamos sucatas de antenas parabólicas como captor de água e tampa do buraco, e assim já fica pronto”, disse a estudante que também detalhou como teve a ideia do projeto.

“A ideia surgiu a partir da minha vivência com meus familiares que vivem na zona rural de Mossoró. Como pude observar a realidade deles, vejo que há uma grande preocupação em coletar a água da chuva para os períodos que não chovem que são muito mais demorados e intensos do que os da chuva. Vendo essa necessidade da minha família e das comunidades em que vivem, pensei no sistema”, completou.

O projeto desenvolvido na escola estadual usa lona, sucatas de antenas parabólicas, caixas cartonadas longa vida (de leite, suco e etc.), um cano de PVC e antenas parabólicas.

PREMIAÇÃO

“Para mim é uma honra gigantesca. Nunca pensei que chegaríamos a tal ponto, mas estou fazendo de tudo para orgulhar nossa cidade e nosso estado”, disse Vitória sobre o projeto ter sido um dos premiados para ser apresentado em maio nos Estados Unidos.

“Ficamos muito felizes de trazer essa premiação para o Rio Grande do Norte”, diz o professor Antonio Serginaldo de Oliveira Bezerra, que orienta o projeto da estudante Vitória Sabrina da Silva Leite, do 3º ano do Ensino Médio.

“Estávamos muito focados no trabalho que vínhamos desenvolvendo nesse período”, comenta Serginaldo, que viu o projeto ser aprovado nas diversas fases do projeto Ciência para Todos, coordenado pela Ufersa e realizado em todo o Rio Grande do Norte com a parceria da Secretaria de Estado da Educação e da Cultura (SEEC/RN).

“O resultado obtido na Febrace reflete o trabalho realizado ao longo dos últimos treze anos nas escolas que fazem parte do Programa Ciência Para Todos”, diz a bióloga Cristiane Moura, coordenadora da Feira de Ciências do Semiárido Potiguar. De acordo com ela, o estímulo à iniciação científica dos alunos acontece já na Educação Básica. “Dentro desse processo o estudante é protagonista da sua aprendizagem e o professor orientador aponta os caminhos que eles devem seguir”, complementa Cristiane, destacando que, com o resultado obtido em 2023, já são quatro credenciais obtidas por escolas do Rio Grande do Norte para a feira internacional. “Nos anos de 2016, 2017 e 2019 também conquistamos esse credenciamento”.

Os primeiros colocados, nas sete categorias, são oriundos de oito estados: Bahia, Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, São Paulo e Tocantins (Veja abaixo a relação). Além da conquista da primeira colocação, os autores desses projetos terão a oportunidade de publicarem artigo sobre o projeto no SCIENTIA PRIMA, periódico da Associação Brasileira de Incentivo à Ciência (ABRIC).

 

Estudante busca parcerias para desenvolver o sistema na zona rural

A aluna da Escola Raimundo Gurgel disse que todos que participaram do projeto estão em busca de parcerias para poder desenvolver a ideia em mais localidades da zona rural de Mossoró. Ela contou que o foco é nas residências.

“Nós estamos buscando parcerias com o Município de Mossoró e também com o Estado do Rio Grande do Norte para poder construir mais esse sistema nas zonas rurais que mais necessitam. Já desenvolvemos dois sistemas no Assentamento Pedra Branca, em Mossoró, onde pretendemos fazer ainda mais. As parcerias serão sempre bem-vindas; nosso foco é desenvolver nas casas das pessoas”.

Vitória ressaltou que na fase de testes o projeto se mostrou bastante eficaz, podendo captar de 3 a 5 litros de água por milímetro. “Ele vai poder ajudar as famílias mais carentes da zona rural a terem um sistema de forma barata e eficiente para serem gestoras da sua água e poderem usar a água nas suas diversas atividades”, disse.

“Ele também ficou mais de 7 meses intacto, não oferecendo nenhum risco ou dano nos materiais. Sendo assim, é bem viável para as famílias por muito tempo”, acrescentou.

Confira os 10 vencedores:

Da Bahia

1º Lugar em Ciências Exatas e da Terra, com o projeto “Produção de carvão ativado de Pithecellobium dulce para a remoção de azul de metileno”, de Caio Nunes Santana, aluno do Instituto Federal da Bahia, no campus de Camaçari, e sua orientadora, a professora Luciene Carvalho.

Do Ceará

1º Lugar em Ciências Exatas e da Terra, com o projeto “Filtro ecológico de baixo custo, para o tratamento de água, feito à base de carvão ativado proveniente da biomassa da jurema preta (Mimosa hostilis) – Projeto TAC”, das estudantes Kalyne Pereira e Lauanda Lima, da Escola Estadual Professor Antonio Rodrigues de oliveira, em Pedra Branca (CE), sob orientação dos professores Francisco Moreira da Silva e Rafael Saraiva da Silva.

De Minas Gerais

1º Lugar em Ciências Humanas, com o projeto “Ilhas do conhecimento – jogo digital desenvolvido para mitigar o déficit pedagógico-cognitivo em tempos de pós-pandemia”, dos estudantes Daniel Correia, Lucas Baçvaroff e Matheus Marques, do Colégio Militar de Belo Horizonte (MG), sob orientação do professor Ronaldo Tavares Gomes.

Do Rio de Janeiro

1º lugar em Ciências Biológicas, com o projeto “Investigação do desequilíbrio metabolômico associado ao câncer”, da aluna Juliana do Carmo Godinho, do Instituto Federal do Rio de Janeiro, no campus da capital, sob orientação das professoras Mariana Stelling e Ananda Bento.

Do Rio Grande do Norte

1º lugar em Ciências Agrárias, com o projeto “Sistema de coleta e armazenagem de água da chuva a partir de materiais de baixo custo, uma alternativa de combate à seca no semiárido nordestino”, da aluna Vitória Sabrina Leite, da Escola Estadual Monsenhor Raimundo Gurgel, de Mossoró (RN), sob orientação do professor Antonio Serginaldo Bezerra.

Do Rio Grande do Sul

1º lugar em Engenharia para dois projetos da Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, de Novo Hamburgo (RS): o projeto “Avaliação de processos Fenton na degradação de corantes”, desenvolvido pelas estudantes Julia Renata Andreis e Marcela Casagrande de Oliveira, orientadas pelos professores Paola Del Vecchio e Sandro Marmitt; e o projeto “Uso do grafeno associado à membrana inorgânica nanoporosa para o tratamento da água”, de autoria das alunas Helena Moschetta e Manuela Prado Machado, com coordenação da professora Schana Andréia da Silva.

De São Paulo

1º Lugar em Ciências da Saúde, concedido ao projeto “Autie: aplicativo de suporte para mulheres autistas”, desenvolvido por Isadora Vital, Leticia Ribeiro e Anna Beatriz Gavinho, alunas do Instituto Federal de Suzano (SP), sob orientação das professoras Vera Lucia da Silva e Aluana Silva.

1º Lugar em Ciências Sociais Aplicadas, com o projeto “Desinfopedia: primeira base de dados das fake news no Brasil e análise temática via codificação qualitativa no combate à desinformação”, realizado pelos estudantes João Pedro Sassi e Pietro Quinzani, do Colégio Visconde de Porto Seguro, em São Paulo (SP), com orientação do professor Francisco Tupy.

1º Lugar em Ciências Humanas, com o projeto “Evasão escolar e a desumanização: um estudo à luz do pensamento de Paulo Freire”, de Kamylla Gontijo de Melo, aluna da Escola Alef Peretz, na unidade de Paraisópolis, na capital paulista, orientado pelo professor Ednilson Aparecido Quarenta;

De Tocantins

1º lugar em Ciências Biológicas, com o projeto “Potencial larvicida, inseticida e repelente dos princípios ativos do tucum-mirim (Astrocaryum acaule) no controle de artrópodes transmissores de arboviroses”, de Gustavo Botega Serra, aluno da Escola Santa Teresinha, em Cachoeirinha (TO), e seu orientador, o professor Zilmar Timóteo Soares.

 

São três prêmios na escola e cinco na Febrace

O projeto que utiliza materiais de baixo custo para coletar e armazenar a água da chuva é um colecionador de prêmios. Ao todo, são oito conquistados na Escola Estadual Raimundo Gurgel e também na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace).

Vitória Sabrina da Silva Leite disse que na fase da escola ganhou três prêmios com o projeto. Já na Febrace, ela disse que conquistou prêmio da Defesa Civil de São Paulo, no evento Prêmio Por Um Mundo Sem Lixo, melhor Projeto da Federação, 1° lugar em Ciências Agrárias e a indicação para o Prêmio 2023 Regeneron International Science and Engineering Fair.

A estudante se mostrou surpresa com a indicação de seu projeto para ser apresentado na maior feira de ciência do mundo. “Eu realmente não imaginava nada disso. Para a Febrace as minhas expectativas eram muito baixas. Eu estava desanimada até para inscrever o meu projeto, pois havia passado por uma etapa anterior que não rendeu nenhuma premiação ou destaque”, iniciou.

“Mas, mesmo assim, junto com meu orientador fomos para Febrace com muitos projetos incríveis e deu certo! Eu ainda não estou acreditando no que conseguimos, mas estamos trabalhando para dar nosso melhor lá”, concluiu.

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