Por Fábio Vale / Repórter do Jornal de Fato
"Me sinto desafiada todos os dias, a saber conciliar, a ter curiosidade, a ter mais paciência, a reconhecer meus limites, a ser mais humilde, a aprender algo novo todos os dias.". As palavras são da soldado do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Norte (CBMRN), Sancha Wallessa. Nesta semana do Dia das Mães, a reportagem do Jornal DE FATO conversou com ela sobre as conquistas e desafios que envolvem o fato de conciliar o trabalho na corporação com o papel de cuidar de dois filhos pequenos.
A soldado, que completa no próximo mês um ano de formatura no curso de formação para ingresso no Corpo de Bombeiros Militar do RN, iniciado em agosto de 2021, conta que as conquistas andaram de mãos dadas com os desafios. "A preparação física para o TAF (Teste de Aptidão Física - fase do concurso) e a aprovação. O período de 32 dias em quarentena, totalmente ausente de casa, e o prazeroso reencontro com minha família. Os longos dez meses de curso de formação (acordando quase todos os dias às 4h da manhã e chegando em casa quase 8h da noite) e o dia 9 de junho, finalmente vestida de uniforme laranja", destaca Sancha, relembrando a trajetória.
"E hoje, sair de casa e voltar para casa a cada serviço. Pequenos desafios diários que se tornam grandes conquistas", comemora ela, pontuando que por ter filhos pequenos, de quatro e três anos de idade, "a maior dificuldade hoje é precisar dormir fora de casa ou passar dois, três dias ausente, especialmente quando as crianças adoecem e demandam cuidado extra". Sancha faz a ressalva de que se depara com limitações no aperfeiçoamento profissional, como realização de cursos, "que vão sendo adiados em favor de uma prioridade familiar".
Em meio a esses desafios que permeiam a necessidade de conciliar o trabalho na corporação com o papel materno, a soldado define o que é ser uma mãe que atua em uma área em que a maioria dos profissionais ainda é do sexo masculino. "É afirmar para si e para os outros que é possível e que podemos nos encaixar em todas as brechas, mesmo que a profissão implique altos riscos e que também nos custe um preço bem mais caro do que se fôssemos homens, pais", assevera Sancha, que compõe a guarnição do efetivo operacional do Corpo de Bombeiros Militar do RN.
"Não há como separar a mãe da bombeira, nem a bombeira da mãe"
Quando questionada sobre como concilia o trabalho na corporação com o papel de mãe, a soldado do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Norte (CBMRN), Sancha Wallessa, é enfática: "Não há como separar a mãe da bombeira, nem a bombeira da mãe". Ela diz que o jeito então é tentar "equilibrar os pratinhos com planejamento, trabalho doméstico dobrado em dias de folga, rede de apoio e muita força de Deus".
Sancha menciona que para alguns, sair de casa para trabalhar em regime de escala tem o ritmo pautado no arrumar bolsas e se arrumar; sendo que no caso da mulher que concilia o trabalho fora com o papel materno, isso é ainda mais intenso. "Para uma mulher mãe isso significa se antecipar em dias, pensar, organizar e viabilizar, como cozinhar refeições e deixá-las no congelador, conferir se tem roupa, farda limpa, comida na geladeira. Significa organizar bolsas, fazer inúmeras recomendações, se comeram bem, se escovaram os dentes, se fizeram atividade escolar e se tomaram a vitamina. Significa lidar com choro de ansiedade e saudade, além das constantes perguntas 'mamãe, amanhã você trabalha?', 'mamãe, você volta amanhã?'", relata.
"É sempre precisar fazer 101%. Em casa, no trabalho, na vida", acrescenta ela, ainda em referência à necessidade de conciliar o trabalho na corporação com o papel materno. "Há duas frases talvez já populares, que me seguem e motivam nesse país da maternidade. A primeira, de Santa Teresa, diz: 'é justo que muito custe o que muito vale'. E a outra, de C.S Lewis: 'Os filhos não são a distração que nos impedem de fazer o trabalho importante, eles são o trabalho importante'", ressalta Sancha.
"O trabalho importante. O trabalho mais difícil do mundo. O trabalho, muitas vezes, invisível, que mais nos exige emocionalmente, afetivamente, fisicamente, psicologicamente, financeiramente. Contraditoriamente, o trabalho mais difícil do mundo é também o melhor do mundo porque aqui difícil não é sinônimo de ruim, é sinônimo de reconstrução, de cura, de desconforto, de fazer aquilo que deve ser feito. Sinônimo do amor nu e cru, tal qual criança que acabou de nascer", complementa ela, frisando que 'as mães fazem o trabalho mais belo, arriscado e exaurido do mundo'.
"Sem escalas, sem folgas, sem férias, sem remuneração e sem garantias de reconhecimento. Contudo, é promessa que 'se bem vivida, a mulher há de ser salva pela maternidade'. O merecimento não é terreno, você merece o céu!", enfatiza ela, em tom de mensagem para as mulheres neste Dia das Mães.
Filhos como motivação
A reportagem perguntou também à Sancha sobre como ela definiria para os filhos dela o que significa fazer parte do Corpo de Bombeiros Militar do RN. "Que eles saibam que fazer parte do Corpo de Bombeiros é resposta de uma oração feita despretensiosamente em uma manhã qualquer, enquanto lavava a louça. Com Samuel aos 2 anos e Thainá uma bebê recém-nascida, de maneira simples, como quem conversa com um amigo, pedi um emprego que me possibilitasse ter uma renda estável e tempo de qualidade com eles. O sim de Deus foi dado, mas havia um preço a ser pago, um árduo caminho a ser trilhado. Estar aqui hoje significa estado de fé, de ver a força do céu se revelando na minha fraqueza, e, especialmente significa que meus filhos foram a linha de partida e o alvo da linha de chegada. Que o exercício da profissão me ajude na missão de encorajá-los a serem fortes, determinados, solícitos e atentos às necessidades dos outros", respondeu a soldado mãe.
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