Por Edinaldo Moreno / Repórter do JORNAL DE FATO
A estudante de psicologia e apaixonada por animes, Alice Guedes, criou uma espécie de baralho com perguntas sobre saúde mental relacionado às cenas ou personagens de animações japonesas como Naruto, Boku no Hero Academia e One Price. O livro-caixinha mergulha no universo otaku para tratar de temas como autoconhecimento, controle da raiva e aceitação social com crianças e adolescentes.
Assinada pela estudante de psicologia e criadora de conteúdo, a novidade é um caminho inovador para que profissionais e até mesmo famílias possam estimular diálogos sobre tópicos como saúde mental, questões sociais e diferenças culturais.
De acordo com a estudante residente em Mossoró, este estilo de animação conquistou fãs em todo o mundo por apresentar abordagens mais humanas de seus personagens, mesmo em situações totalmente ficcionais.
A partir dele, é possível identificar temas sensíveis e relevantes para o desenvolvimento psicoemocional, especialmente dos espectadores mais jovens e fãs da cultura japonesa, os otakus.
“Unir animes com psicologia não é algo novo para mim. É algo que me acompanha desde o início da graduação, é a forma que eu aprendo. Costumo assimilar meus conhecimentos teóricos com situações que já vivi ou assisti em filmes, doramas, animes ou desenhos”, iniciou a aluna de psicologia que enfatiza como teve o desejo de enveredar por esse caminho.
“Comecei a criar conteúdo nas redes sociais que fizessem analogias, unindo esses dois universos que tanto amo, anime e psicologia. No entanto, faz pouco tempo que conheci a maravilha do livro-caixinha através da minha professora; então, depois disso, senti o desejo de fazer o meu próprio livro-caixinha e, claro, tinha que ter anime e muita psicologia. Eu pensei que sim, que eu tenho capacidade de produzir um e produzi, com muito afeto e cuidado com cada pergunta criada.
A partir de questionamentos relacionados às cenas ou personagens de animações, o livro-caixinha permite construir conexões com crianças e adolescentes, facilita a mudança de perspectivas e promove o desenvolvimento de empatia e compreensão.
“Com qual personagem do mundo dos animes você mais se identifica? Por que acha que isso acontece?”, “Como você acha que foi, para Naruto, crescer sem o afeto e o cuidado dos pais?”, “Zoro, do anime One Piece, não se importa com o que os outros dizem sobre ele. Você se identifica com isso? Como?” e “Qual foi o anime que mais ajudou na sua saúde mental? De que forma a história ajudou você?” são algumas das perguntas presentes em 100 cartas que tratam de temas sérios com uma linguagem acessível.
A potiguar explica que este é o caminho ideal para garantir que crianças e adolescentes se sintam confortáveis para se abrir sobre assuntos como depressão, ansiedade, autoconhecimento, controle da raiva e aceitação social.
“No mundo dos animes, aprendemos que o que importa é a jornada e não o destino final. Como você tem vivido a sua jornada?; Wakana Gojou, do anime Sono Bisque Doll wa Koi wo Suru, sim. Ele achava que porque uma pessoa o rejeitou quando ele era criança, todas as outras fariam a mesma coisa. Você já deixou de viver coisas boas por medo de viver coisas ruins? Fale mais sobre isso”, detalhou sobre a centena de perguntas criadas.
A estudante destaca que essas e outras perguntas irão abordar temáticas de extrema importância e que, com apenas uma delas, é possível iniciar uma longa conversa que irá permitir um espaço de fala para a criança e o adolescente e assim fortalecer o vínculo entre quem irá perguntar e quem irá responder.
O Livro-caixinha Puxa Conversa Anime pode ser encontrado por meio da Amazon e no site da Matrix Editora: https://matrixeditora.com.br/.
Estudante usou livro-caixinha em estágio com alunos do 4º ano
Alice Guedes usou o baralho com perguntas no estágio que realizou em uma escola para alunas e alunos do 4º ano. Ela enfatizou que uniu toda a turma em uma roda e o livro era passado de mão em mão enquanto era cantada a canção “batata que passa-passa”.
Segundo ela, a ideia deu tão certo que as crianças quase não passavam o livro, pois estavam muito animadas em responder às questões contidas no exemplar.
“Ver o sorriso daquelas crianças e empolgadas em falar sobre algo que elas tanto gostavam e tendo a certeza que essa era uma oportunidade de favorecimento de saúde mental, proporcionando autoconhecimento para elas, foi realizador para mim, eu senti naquele momento que tinha nascido para isso.
A criadora de conteúdo destacou também que participou de outra ação com o livro-caixinha, desta vez com pessoas que desconheciam o que era anime.
“Também tive a oportunidade de usá-lo na calçada da minha vó com mulheres que nem sabiam o que era anime, mas conseguiam entender as perguntas e foi um momento mágico; elas riram, emocionaram-se, animaram-se umas com as outras. Nesses dois momentos, pude sentir o quanto meu trabalho as ajudou e me faz refletir o quanto pode ajudar tantas outras pessoas”, frisou.
A estudante explica que a história narrada nos animes perpassa por inúmeros desafios, seja eles enfrentar um grande vilão, realizar um grande sonho ou lidar com a saudade de um amigo que partiu ou até mesmo conseguir se perdoar por culpas que geram bastante sofrimento. Segundo ela, poder vislumbrar isso de uma forma tão inspiradora gera aprendizado e identificação.
“Quem está assistindo pode pensar: ‘nossa, eu me sinto dessa forma, também me sinto muito culpado, também tenho dificuldade em chorar e pedir ajuda’… Ao mesmo tempo em que conseguem encontrar conforto e acolhimento, onde, infelizmente, muitas vezes, é o único que tem no dia. Então, as mensagens trazidas nos animes podem encorajar, ao mesmo tempo em que acolhem”.
Ferramenta é importante para falar de forma descomplicada sobre saúde mental
Puxa Conversa Anime é uma ferramenta importante para falar de forma descomplicada sobre depressão, ansiedade, o peso dos padrões de beleza, relacionamento com familiares, sonhos, objetivos de vida e outros temas nebulosos para a juventude.
Este livro-caixinha, segundo Alice Guedes, é um convite para a imersão em dois universos: o dos animes e o da própria história de quem responde aos cards.
“Para se comunicar com crianças e adolescentes, não existe nada melhor do que falar o mesmo idioma que elas. É necessário compreender melhor o mundo delas a partir da visão delas”, disse a estudante de psicologia.
Alice Guedes ressalta que o livro-caixinha Puxa Conversa Anime surge com a proposta de servir como uma ponte que irá unir esses mundos com uma melhor compreensão, de modo que venha favorecer o autoconhecimento.
“Nele tem perguntas que entram em discussão sobre autoestima, relacionamento familiar, amizade, luto, com exemplos de personagens de anime, com objetivo de gerar identificação e a partir disso, a pessoa que irá responder poderá conhecer melhor a si mesma”, finalizou.
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