Sexta-Feira, 17 de maio de 2024

Postado às 07h15 | 17 Fev 2024 | redação Os Carmelitas e novo bispo da Diocese Santa Luzia de Mossoró

Crédito da foto: Reprodução Soleira com tijolos de antiga construção carmelita, localizada no sítio Melancias, zona rural de Mos

Por David de Medeiros Leite

MOSSORÓ “Certamente sua história não começa em 1772 com a Capela em Santa Luzia, mas em 1701 com a residência dos frades carmelitas na serra do Carmo”. (Luís da Câmara Cascudo)

Com a designação de Dom Francisco de Sales para assumir a Diocese de Mossoró, sendo ele frade carmelita, alguns amigos passaram a me perguntar se seria uma espécie de retorno da Ordem ao chão mossoroense. Para responder precisamos revisitar alguns apontamentos.

Cada vez que o assunto vem à baila, não deixo de recordar aquela noite na capela de São Vicente, início da década de noventa, do século passado, quando o padre Sátiro Cavalcanti Dantas (falecido no último dia 27 de novembro) de público, sugeriu que eu pesquisasse a respeito da presença da Ordem Carmelita em Mossoró; que, segundo ele, era um assunto importante e pouco explorado.

Lembro muito bem quando ele falou: “Só tem um problema: é sempre difícil mexer na dita história oficial”. De início, não entendi bem a advertência enigmática do velho educador, mas, com o correr dos dias, fico espantado com sua antevisão.

Foi-nos passado, ao longo do tempo, comodamente, que Antônio de Souza Machado seria o “fundador” de Mossoró e a Capela de Santa Luzia, o marco zero da cidade, etc. Ora, a importância do português e a consequente construção da capela na história mossoroense são incontestáveis. Agora, o equívoco em relação a datas, nomes e fatos históricos é, simplesmente, inadmissível.

Já disse em outros artigos e volto afirmar: a tese não é minha. Vejam, por exemplo, o que afirma o grande Câmara Cascudo em seu livro Notas e Documentos para a História de Mossoró: “Assim logo a 26 de setembro de 1701, o governador e capitão general de Pernambuco, dom Fernando Martins Mascarenhas de Lancastro (escrevia-se também Alencastro) doava ao Convento de Nossa Senhora do Carmo terras que nunca tinham sido povoadas no rio Paneminha...”.

No mesmo livro, o historiador afirma que não existia na região uma missão oficial, mas sim uma “missão privativa” da Ordem, que, possuindo terras, fixava o indígena, tornando-o cristão, e, logo em seguida, fala da existência de “relações amistosas entre frades e indígenas”. Ressalta-se que os carmelitas possuíam, na mesma época, missão oficial em Gramació, hoje Vila Flor, em nosso estado, e no Vale do Jaguaribe, no Ceará.

Já o Monsenhor Francisco de Sales Cavalcanti, em seu livro Subsídios Para a História Religiosa de Mossoró, diz o seguinte: “O historiador Francisco Fausto de Souza afirma que, segundo a tradição, antes da Capela de Santa Luzia, já havia sido identificado em Mossoró uma ‘Casa de Oração’ no lugar conhecido por ‘’Igreja Velha’, entre Paredões e Barrocas, subúrbios desta cidade”.

Bem, como já afirmei alhures, os escombros da mais antiga construção de Mossoró (teria sido erguida em 1701/1702?) estão lá e devemos, isto sim, lutar para que a sonhada prospecção arqueológica aconteça e, com ela, possam vir à tona esclarecimentos da questão. A comunidade do assentamento rural, onde estão os referidos escombros, construiu, próximo à área, uma Capela de Nossa Senhora do Carmo, numa bonita associação da fé com o resgate da questão da história.

Apesar de Câmara Cascudo falar da “presença desta Ordem da ribeira desde o primeiro ou segundo ano do século XVIII, com atividade religiosa regular”, só vamos encontrar registros, com datas, posteriores. No entanto, o que considero grave é que a cidade praticamente desconhece os nomes dos frades que heroicamente ministravam sacramentos nas ribeiras dos rios Upanema/Carmo, Apodi/Mossoró:

— Frei ANTONIO DA CONCEIÇÃO: batiza, em 1767, no Carmo, Francisca da Picada. Batiza, em 1768, no Carmo, Domingos. Batiza, em 1770, no Carmo, Leonor. Batiza, em 1771, no Carmo, Severina de Grossos. Batiza, em 1776, no Carmo, Josefa da Barra do Mossoró. Realiza o primeiro casamento da Capela de Santa Luzia, 1778. Batiza, em 1791, no Carmo, Joaquim da Barra do Mossoró.

— Frei VICENTE DE SANTA EUFRÁSIA: batiza, em 1768, na Picada, Catarina do Saboeiro.

— Frei JOSÉ DE SANTO ELIAS: batiza, em 1777, em Grossos, Rosa.

— Frei FRANCISCO DE SANTA TEREZA: batiza, em 1819, na capela de Santa Luzia, Antonio. Batiza, em 1819, na Barra do Mossoró, Tereza. Batiza, em 1820, na Capela de Santa Luzia, José. Batiza, em 1820, na Barra do Mossoró, Joaquim.

É de fácil percepção que as primeiras datas são anteriores à construção da Capela de Santa Luzia, em 1772. Isso se levarmos em consideração os registros disponíveis. Some-se, para melhor entendimento, a assertiva de Cascudo falando da presença da Ordem, desde os dois primeiros anos do século (ou seja, 70 anos antes) e a existência anterior da “Casa de Oração”, amplamente registrada por nossos historiadores, que a primazia da presença carmelitana torna-se translúcida.

Em recente pesquisa, encontrei no livro a Ordem Carmelitana em Pernambuco, do consagrado escritor F.A. Pereira da Costa, que, em 1785, o Frei José de Santo Elias era padre provincial do Carmo da Reforma, ou seja, após oito anos de sua passagem por nossos rincões.

Assim sendo, vale dizer que, afora a pequena travessa, ao lado da catedral, denominada de Frei Antonio da Conceição, Mossoró é devedora a esses religiosos, em reconhecimento.

Sempre coloco, acima de quaisquer divergências, a necessidade e a consequente oportunidade de buscarmos ampliar a discussão e o debate, justamente em uma terra pródiga em cultivar sua historiogeografia e homenagear quem lhe fez algo de significativo.

E agora, por desígnios divinos, chega para pastorear nossa Diocese o frade Dom Francisco de Sales. Desejamo-lhe os melhores votos de boas-vindas e que sua presença, entre tantas outras coisas, faça ressurgir a temática dos carmelitas como precursores de Mossoró.

(*) David de Medeiros Leite é professor da UERN e doutor pela Universidade de Salamanca – Espanha.

 

Todos os bispos de Mossoró

A Diocese Santa Luzia de Mossoró foi criada pelo papa Pio XI em 28 de julho de 1934 e instalada em 18 de novembro do mesmo ano. Pertence à Província Eclesiástica de Natal, que envolve Arquidiocese da capital potiguar e a Dioceses de Caicó, na região do Seridó. São quase 90 anos de missão evangelizadora na cidade e na região Oeste do Rio Grande do Norte.

Com a posse de dom Francisco de Sales, hoje, são sete bispos ao longo de nove décadas.

O primeiro bispo, dom Jaime de Barros Câmara, assume a diocese em 26 de Abril de 1936, com o Lema “Eu vim trazer o fogo”. Seu episcopado foi marcado pelas construções do Seminário Santa Teresinha, do Abrigo Amantino Câmara e pelo apoio a operários dos parques salineiros da região com a criação do “Círculo Operário Católico”.

Dom João Batista Portocarrero Costa sucede D. Jaime em 8 de dezembro de 1943, com o lema: “É preciso que Ele cresça”. Fundou escolas populares, intensificou o apoio a movimentos, tais como: círculos de estudos, manhãs de recolhimento e outros. Destacou-se pela realização do I Congresso Eucarístico em 1946.

Com o Lema: “Salvação do rebanho” dom Elizeu Simões Mendes assume a diocese em 20 de fevereiro de 1954 como terceiro bispo. Destacou-se pelo apoio a zona rural incentivando as “semanas ruralistas”, pela criação de maternidades e “casas populares” construídas em alguns municípios da região.

Em 12 de outubro de 1960, com o lema: “Enviai o vosso Espírito”, dom Gentil Diniz Barreto assume como quarto bispo, destacando-se pela criação da “Emissora de Educação Rural” e instalações do movimento de Educação de Base, centro de Treinamento, Lar Sacerdotal, Gráfica Miguel Faustino e da Livraria D. Costa.

O quinto bispo, dom José Freire de Oliveira Neto, inicia sua missão episcopal como bispo auxiliar de dom Gentil em 1975, com o lema “Semelhante a Ele na morte”. Foi responsável, junto a dom Albano Cavallim, pela elaboração do documento “Catequese Renovada”. São frutos de sua missão a Comissão Pastoral da Terra, o SEAPAC (Serviços de Apoios a Projetos Alternativos) e a Comissão de Justiça e Paz.

Dom Mariano Manzana assumiu, como sexto bispo de Mossoró, em 17 de outubro de 2004, com o lema episcopal “Cristo para Todos”. A sua missão foi marcada pela criação de 19 novas paróquias, aumentando de 20 para 39, a formação de novos padres e a autossustentabilidade econômica da Diocese. Ele renunciou ao cargo quando completou 75 anos, em 13 de outubro de 2022.

Com o Lema “Como aquele que serve”, dom Francisco de Sales inicia sua missão episcopal em 17 de fevereiro de 2024.

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