Jornal de Fato
A missa das 11h na Catedral de Santa Luzia deste domingo, 26, reserva uma homenagem especial a dom Mariano Manzana, por seus 19 anos de pastoreio na Diocese de Mossoró. A iniciativa é dos segmentos produtivos da cidade, representados pela Associação Comercial e Industrial (ACIM), Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas).
Para o autor da iniciativa, o economista e empresário Elviro Rebouças, trata-se de uma justa homenagem por tudo que dom Mariano fez por Mossoró durante os 19 anos de pastoreio. “Será um momento de reconhecimento da sociedade por tudo que dom Mariano representa para a cidade”, disse.
Dom Mariano, agora Bispo Emérito, foi o sexto bispo da Diocese de Santa Luzia de Mossoró, entre os anos de 2004 a 2023, quando renunciou ao cargo por idade. O religioso foi sucedido por dom Francisco de Sales Alencar Batista, empossado no último sábado, 17.
Origens e despertar de uma vocação
Mariano, aos 12 anos de idade, certo dia surpreendeu seu pai revelando que queria ir para o seminário e tornar-se sacerdote. O senhor Luigi Manzana, após ouvir atentamente o filho, interpelou: “Você sabe o que está decidindo, Mariano? Olha, com essas coisas de Deus não se brinca”. Pouco depois, com o apoio da mãe, Agnese Tranquillini, o jovem Mariano dava entrada no seminário de Trento. Filho de um lar com excelente formação religiosa, a irmã, Maria Inez, tornara-se freira com atuação na África.
Nascido em 13 de outubro de 1947, na pequena cidade chamada Mori, na região de Trentino-Alto Ádige, Itália, Mariano, após o período inicial de estudo, já em 1963, entrava para cursar Filosofia e Teologia no Seminário Maior de Trento. Em 1973, foi ordenado presbítero passando a servir como sacerdote na Paróquia Pio X, de Trento, até 1976. Com vocação para a vida missionária tinha a consciência de que a qualquer momento poderia ser convocado para outra missão.
Dom Mariano apresentou a carta renúncia ao completar 75 anos de vida e 18 anos de mandato de pastor da Diocese de Santa Luzia, no dia 13 de outubro de 2022. O Papa Francisco acolheu no sábado, 18 de novembro 2023, o pedido de renúncia, em razão da idade, apresentado por dom Mariano Manzana ao governo pastoral da diocese de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
Missão no Brasil – Fidei Donum
Certo dia, o Bispo de Trento, visitando o Brasil, ao chegar em Recife-PE ficou muito sensibilizado com as palavras de dom Gentil Diniz Barreto, relatando o quanto estava sendo difícil encontrar padres para servir a sua diocese, situada a mais de 500 km dali, com sede na cidade de Mossoró. Voltando a Trento, o prelado, ao contar esse episódio para seus padres em uma grande reunião, notou, após sua fala, que um deles desejava se expressar. Foi o Padre Mariano, que logo falou dizendo sentir-se disposto, se fosse também a vontade da sua autoridade, a ir voluntariamente para o Brasil. Dias depois, Padre Mariano despedia-se da sua terra, deslocando-se para um país distante, desconhecido, tendo como informação apenas tratar-se da região Nordeste, área que periodicamente era castigada pela estiagem das chuvas (seca), formada por um povo com renda per capta baixa e de clima extremamente quente, exatamente o inverso da sua terra de origem próxima aos Alpes gelados da Itália, onde fora criado.
Mesmo assim topou, pegou o navio até o Rio de Janeiro, onde o esperava o Padre Walter Collini, já atuando, desde 1973, na Diocese de Mossoró. De ônibus, seguiram até Mossoró e imediatamente para o endereço do Palácio Episcopal, onde foi recebido no portão pelo próprio dom Gentil Diniz Barreto. Transcorria o ano de 1977. Logo foi designado para servir à Paróquia de Umarizal.
Vigário jovem, motivado, dedicado, trabalhador e humano, logo conquistou a confiança e a amizade de seus paroquianos, ao ponto de lá permanecer por 17 anos seguidos de 1977 a 1994. Prestou também muitos outros serviços à Diocese. Por exemplo, de 1983 a 1994, além de sacerdote em Umarizal, Padre Mariano Manzana foi diretor espiritual no Seminário Maior de João Pessoa, na Paraíba, com o objetivo de acompanhar todos os seminaristas que eram encaminhados pela Diocese de Mossoró. Também assumiu as Paróquias de Alexandria e Caraúbas.
De volta à Itália
Em 1994, entendendo que já havia prestado seu bom serviço à Diocese de Mossoró, o Bispo de Trento o chamou de volta para a Itália para assumir a direção do Centro Missionário Diocesano de Trento, como Delegado Episcopal para as missões da Diocese de Trento.
Obediente, colocou-se mais uma vez à disposição para outros trabalhos missionários. Ocupou na Diocese de Trento também a função de responsável pela Casa Diocesana do Clero.
“Mariano, esse é mais um chamado de Cristo. Vá, filho”
Em 2004, quando se encontrava plenamente satisfeito em suas funções, eis que de repente o religioso Mariano Manzana recebeu o convite para assumir como bispo da Diocese de Santa Luzia de Mossoró. Residindo com a sua mãe Agnese Tranquillini, já idosa, viúva e adoentada, quis ouvi-la para tomar a decisão. Ouviu como resposta a voz de um coração que abdicava com sorriso materno: “Mariano, esse é mais um chamado de Cristo. Vá, filho”. Em 15 de junho do mesmo ano foi nomeado Bispo da Diocese de Mossoró.
A notícia soou em toda Diocese de Santa Luzia com muita receptividade e acolhimento. Havia motivos. Dom Mariano, além de conhecer profundamente a região, gozava de um excelente relacionamento com o clero local e mais, havia se destacado como excelente administrador, predicado que contava muito para um novo bispo que viesse, naquele momento, comandar a Diocese de Mossoró.
Em 5 de setembro de 2004, Padre Mariano Manzana recebeu, na Itália, a Ordenação Episcopal pelas mãos de dom Luigi Bressan. Em 17 de outubro do mesmo ano, tomou posse como sexto bispo da Diocese, numa bonita, solene e festiva cerimônia celebrada na Catedral de Santa Luzia de Mossoró. Com o lema episcopal “Christus Ad Gentes“ – Cristo para todos, dom Mariano Manzana assumiu de forma autêntica o lema de servo de Deus no meio do seu povo.
A Diocese avançou em todas as frentes. Reacendeu, de forma gradativa, os movimentos religiosos já existentes, criando alguns. Estimulou o crescimento das pastorais e ampliou o seu número. A última, registre-se, Pastoral da Saúde. Implantou com entusiasmo as Santas Missões Populares, grande movimento em toda Diocese. Fez realizar, após 60 anos de história, o II Congresso Eucarístico de Mossoró, trazendo à cidade muitas ilustres autoridades eclesiais, entre as quais o Núncio Apostólico de Roma no Brasil, Dom Lorenzo Baldisseri.
Vocação e missão – Início do episcopado
Ao chegar à Diocese e iniciar seu Ministério Episcopal, no dia 17 de outubro de 2004, logo no domingo seguinte, 24, Dia Mundial das Missões, dom Mariano celebrou a ordenação diaconal de quatro jovens seminaristas: José Janédson, Ricardo Rubens, Erivon Maia e Ivonzéliton Leite. Logo em seguida, no mês de novembro, presidiu sua primeira Assembleia Diocesana como bispo.
Na assembleia, toda a Diocese assumiu o projeto das Santas Missões Populares, com metodologia idealizada pelo Padre Luís Mosconi, padre diocesano nascido e formado na Itália e que, desde 1990, vinha se dedicando às missões populares no Brasil. Em 2005, começaram os primeiros retiros diocesanos e simultaneamente os paroquiais, até o terceiro e último ocorrido de 2 a 4 de junho de 2006. Foi no II Congresso Eucarístico Diocesano, na missa de encerramento, dia 18 de novembro de 2006, presidida pelo então Núncio Apostólico Dom Lorenzo Baldisseri, que aconteceu o envio missionário para a realização da grande Semana Missionária. Todo o processo foi acompanhado e vivido por Dom Mariano, que esteve nas Semanas Missionárias em todas as paróquias.
Empreendedorismo e evangelização
Uma das grandes virtudes de dom Mariano, além de excelente pastor espiritual, é ser administrador, pode até ser dito um grande empreendedor. Após obter o equilíbrio econômico da Diocese, tão necessário no momento, partiu para realizações e obras de grande necessidade para a Diocese. Aqui, apenas alguns destaques:
1- Construção e estruturação do Seminário Maior de Mossoró, há muito sonhado e de extrema importância para as vocações sacerdotais.
2- Implantação da Faculdade Diocesana de Mossoró, hoje Faculdade Católica do Rio Grande do Norte, oferecendo vários cursos com conceito 5 (nota máxima é 5), com previsão, muito em breve, de novos cursos.
3- Construção de dependências – lares sacerdotais – anexas ao seminário para acolher padres e religiosos durante a estadia em períodos de aulas no seminário e na faculdade.
4- De 2005 a 2023, Dom Mariano ordenou 60 padres na Diocese de Mossoró.
5- Adota política de incentivo para que os padres possam fazer cursos de pós-graduação, mestrados e doutorados e retornem para a Diocese.
6- Criou mais de 20 paróquias em diversos municípios da Diocese, entre eles Mossoró, Itaú, Carnaubais, Baraúna, Upanema, Encanto, Assú, José da Penha, Almino Afonso.
7- Reequipou a Rádio Rural e prepara-se, junto ao Ministério das Comunicações, para duplicar sua frequência com o acréscimo de transmissão em FM – frequência modulada.
Seu episcopado hoje
As recentes ações de dom Mariano revelam uma justa preocupação com a realidade social, de modo particular, nos últimos tempos, a agricultura familiar. Tem sido um defensor perpétuo dos movimentos em defesa do homem do campo, na zona rural, destaque na chapada do Apodi.
Em nível nacional, dom Mariano é atualmente o bispo responsável pelo setor de catequese do Regional Nordeste II da CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
Uma última iniciativa merece destaque: a campanha “Domingo da Solidariedade”, lançada inicialmente na cidade de Mossoró. Num sistema de rodízio foram selecionadas oito instituições de caridade vinculadas à Igreja que seriam beneficiadas, a cada terceiro domingo do mês, pelas oito paróquias da cidade com gêneros alimentícios. São beneficiadas, a cada mês, entidades que realizam obras sociais atuando em diversas realidades que afligem a dignidade humana, como por exemplo a dependência química.
Por tudo que faz, toda Diocese sente-se plenamente gratificada com a presença de dom Mariano e muito agradecida a Deus por permitir ao seu povo tão agradável convivência. Mariano, “Christus Ad Gentes” - Cristo para os povos.
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