Por Amina Costa / Repórter do JORNAL DE FATO
O Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) foi o responsável por uma epidemia global há mais de 30 anos, e se tornou um dos assuntos mais discutidos no mundo. Décadas depois, o aumento nos casos de infecção pelo vírus traz, novamente, esse assunto à tona, especialmente com o alerta dos profissionais da saúde sobre os riscos de uma nova epidemia do vírus.
Dados do Ministério da Saúde apontam que, entre os anos de 2020 e 2022, o número de casos de infecção pelo HIV aumentou 17,2% no Brasil, destacando-se as regiões Norte (35,2%) e Nordeste (22,9%). No que se refere às faixas etárias, observou-se, no período analisado, que 114.593 (23,4%) casos são de jovens entre 15 e 24 anos, representando 25,0% e 19,6% dos casos no sexo masculino e feminino, respectivamente.
No Rio Grande do Norte, de acordo com o boletim da Secretaria de Estado de Saúde Pública (SESAP), o RN apresentou, entre 2012 e 2022, 6.668 casos de aids, 100 casos de aids em menores de cinco anos, 1.126 gestantes infectadas pelo HIV, 1.168 crianças sendo expostas ao HIV, 7.950 casos de infecção pelo HIV e 1.447 óbitos por aids.
“Nesse período, percebe-se um crescimento de 25,6% no registro de casos de aids, de 67,8% nos casos de infecção pelo HIV, de 115,7% no número de casos de gestantes infectadas pelo HIV, de 83,4% na identificação de crianças expostas ao HIV e de 32,6% na ocorrência de óbitos por aids”, informa o boletim da Sesap, referente aos anos de 2012 e 2022.
Esse aumento alarmante tem chamado a atenção dos profissionais da saúde do estado, que enfatizam a importância de políticas públicas direcionadas a essa população, de forma contínua. Este foi um ponto abordado por Luzia Cibele Maximiano, enfermeira e mestra formada pela Uern, que atualmente faz doutorado em Enfermagem pela UFRN, pesquisando na área de doenças infectocontagiosas, especificamente o HIV.
“Esses dados nos mostram a urgência em se debater e esclarecer sobre a prevenção do HIV, principalmente na faixa etária de 15 a 24 anos - faixa etária mais afetada nacionalmente. Estudos sugerem que hoje, em 2024, a televisão, escola e o rádio ainda são as principais fontes de informação desse público sobre a prevenção do HIV; contando ainda com as redes sociais – estas, muitas vezes, inundadas com disseminação de falsas informações que em nada agregam a discussão sobre a prevenção do HIV/AIDS”, informou a enfermeira e pesquisadora.
Questionada sobre qual seria a melhor forma de prevenção do vírus, ela informou que a prevenção combinada, que consiste no uso simultâneo de diferentes abordagens de prevenção, aplicadas em diversos níveis para responder às necessidades específicas de determinados segmentos populacionais e de determinadas formas de transmissão do HIV, ainda é a melhor opção a ser seguida. “Por isso, se a pessoa passou por uma situação de risco, como ter feito sexo desprotegido ou compartilhado seringas, faça o teste de HIV”, informou.
“É preciso entender que o HIV hoje não é mais uma sentença de morte, sendo tratada como uma doença crônica através da Terapia Antirretroviral (TARV), distribuída gratuitamente pelo SUS, mas, ainda assim, entre 2011 e 2021, mais de 52 mil jovens de 15 a 24 anos com HIV evoluíram para a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS)”, complementou.
Como a faixa etária de 15 a 24 anos é a que está sofrendo hoje com a mais alta taxa de infecção por HIV, a enfermeira e pesquisadora enfatizou que é necessário conseguir adentrar no mundo desses jovens, seja na escola ou nas mídias sociais, para que a prevenção do HIV continue sendo disseminada. Disse ainda que a sua linha de pesquisa no doutorado é justamente fazer com que essa informação seja massificada e que mais jovens saibam sobre os riscos que o vírus pode causar à saúde.
“Por causa de todos esses números, meu doutorado concentra-se em construir um curso para formação de pessoas que falam sobre HIV/AIDS nas mídias sociais acerca da prevenção do HIV em adolescentes e jovens, uma vez que muitos destes adolescentes recorrem à internet para ter acesso a informações, logo, essas informações precisam ser repassadas com segurança, tendo embasamento científico da mais alta evidência, uma vez que as plataformas de rede e mídia social que abordam sobre HIV/aids oferecem suporte entre pessoas que enfrentam situações semelhantes e possibilitam a troca de experiências, além de serem consideradas como um valioso recurso de apoio social, capaz de influenciar positivamente mudanças de comportamento”, concluiu.
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Casos de HIV acompanhados pela Regional de Mossoró (Hospital Rafael Fernandes):
2014 - 25 casos
2015 - 50 casos
2016 - 59 casos
2017 - 64 casos
2018 - 54 casos
2019 - 65 casos
2020 - 62 casos
2021 - 74 casos
2022 - 89 casos
2023 - 62 casos
Hospital Rafael Fernandes distribuiu 48 PrEPs no mês de junho
A Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) tem sido uma forma de prevenir a infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Ela consiste na tomada de comprimidos antes da relação sexual, que permite ao organismo estar preparado para enfrentar um possível contato com o HIV.
A pessoa em PrEP realiza acompanhamento regular de saúde, com testagem para o HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Em Mossoró, a PrEP é disponibilizada no Hospital Rafael Fernandes, que somente no mês de junho realizou a entrega de 48 medicamentos à população.
Esse número está bem acima da média mensal, que é de 30 distribuições mensais. Em janeiro, foram 35 PrEPs entregues; em fevereiro 33; em março foram 34; em abril foram 31; e em maio foram 23 PrEPs distribuídos pelo Hospital Rafael Fernandes.
A enfermeira e pesquisadora Luzia Cibele Maximiano informou que, apesar de ser uma medida eficaz contra o vírus HIV, a PrEP não protege de outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). “Lembramos sempre que, segundo a FIOCRUZ, o preservativo ainda é o carro-chefe da prevenção, sendo o método mais barato e de fácil acesso, até porque HIV não é a única IST a qual a pessoa está se expondo quando faz o sexo desprotegido”, enfatizou.
O diagnóstico da infecção pelo HIV é feito a partir da coleta de sangue ou por fluido oral. No Brasil, existem os exames laboratoriais e os testes rápidos, que detectam os anticorpos contra o HIV em cerca de 30 minutos. Esses testes são realizados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), nas unidades da rede pública. Nos casos de exposição sexual de risco que tenha acontecido há menos de 72 horas, também é possível recorrer à Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP).
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