Domingo, 02 de março de 2025

Postado às 22h15 | 01 Mar 2025 | redação Expressão: Ursos de Carnaval, a tradição que resiste e encanta

Crédito da foto: Alysson Soares - Organizador Brincantes e músicos celebram a tradição do Urso de Carnaval em frente ao Teatro Municipal.

NATHAN FIGUEIREDO - Especial para o Jornal de Fato

Os ursos de Carnaval, figura icônica das festividades, são tema de uma pesquisa desenvolvida na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern). O estudo, conduzido por Marcus Vinicius Filgueira de Medeiros, mestre em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e Humanas (PPGCISH), busca resgatar e valorizar essa manifestação popular por meio do conceito de “epistemopoética” – uma fusão entre conhecimento acadêmico e saberes tradicionais.

Segundo Medeiros, a pesquisa vai além da análise histórica e antropológica dos ursos de Carnaval, inserindo-se em um contexto de resistência cultural e memória afetiva. “Sou contador de histórias, artista popular, convivo com a periferia e com os saberes do povo. Busquei fazer essa fusão entre dois conhecimentos distintos e, para isso, criei o conceito de 'epistemopoética', que une a episteme ao poético da vida, dos imaginários e das narrativas orais”, explica o pesquisador.

O estudo também reforça a importância do Urso de Carnaval como uma manifestação que atravessa gerações, promovendo encontros culturais e sociabilidade. “Nada acaba aqui, muito ainda existe a ser explorado, conhecido, aprendido. A sabedoria é ancestral, tem suas raízes e se renova com o tempo. A gente nunca deixa de aprender, de aproveitar as oportunidades, sem esquecer que somos da oralidade, da performance e da reinvenção”, complementa Medeiros.

 

A trajetória dos ursos na visão de quem faz a festa

Para quem vivencia o Carnaval dentro das fantasias de urso, o estudo realizado na Uern reforça a relevância cultural dessa tradição. Marcinho Silveira, carnavalesco e presidente do Ponto de Cultura Espaço das Artes e da Escola de Samba Portela Mossoroense, compartilha sua experiência como um apaixonado pela cultura dos ursos.

“Sempre acompanhei os Ursos da cidade desde pequeno. Minha mãe não deixava eu sair com eles, mas eu sempre participava dos concursos promovidos pela prefeitura. Com o tempo, passei a integrar grupos tradicionais e, em 2005, fundei meu próprio Urso Futurista de 2050”, relembra.

Silveira também destaca os desafios enfrentados para manter viva essa tradição, especialmente a falta de apoio do poder público. Para ele, “o Urso é de muita importância não só para mim, mas para toda a comunidade. Queremos manter essa tradição para as futuras gerações. É um trabalho que dura o ano inteiro e, muitas vezes, não conseguimos apoio para desfilar”.

Sobre a criação dos figurinos e da identidade visual dos ursos, ele explica que cada novo traje traz uma expectativa e um significado especial. “Fico imaginando de onde tiro tanta inspiração e se o resultado vai agradar. Meu trabalho ganha as ruas, segue pelos becos, e é o povo que decide se gostou ou não. Cada urso tem uma alma, um brilho próprio”.

A pesquisa da Uern resgata e fortalece essa expressão cultural tão rica, mostrando que a tradição dos ursos de Carnaval é mais do que um simples ato festivo: é um elemento de identidade, resistência e memória coletiva. “Os segredos são revelados, a memória é ativada, e tudo isso transforma a experiência dos brincantes. Escutar as histórias dos ursos é como respirar o tempo, sentir os cheiros e ouvir imagens”, finaliza Medeiros.

Assim, enquanto os ursos continuam a percorrer as ruas e a encantar multidões, estudos como esse garantem que sua história continue sendo contada e valorizada.

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