Dr. Heider Irinaldo Ferreira, uma história brilhante
Por Martha Cristina *
O Rio Grande do Norte é um estado rico em histórias de pessoas que superaram grandes desafios e conquistaram espaços significativos em suas áreas de atuação. Muitas vezes, buscamos inspiração em grandes figuras de fora, sem perceber que dentro da nossa própria terra há trajetórias que merecem ser mais conhecidas e valorizadas. Uma dessas histórias é a de Dr. Heider, um potiguar que, com determinação, disciplina e amor pelo conhecimento, construiu uma carreira sólida na área da saúde.
Dr. Heider Irinaldo Ferreira nasceu em Umarizal/RN, em 1980, e viveu uma infância marcada pela simplicidade e pela convivência com a natureza. Até os 10 anos, dividia seu tempo entre a cidade e o sítio, onde seu pai, agricultor e pecuarista, ensinava-lhe o valor do trabalho, e sua mãe, professora, reforçava a importância do estudo. Ele conta: “Minha mãe me exigia muito estudo, meu pai me ensinava o valor do trabalho. O que mais aprendi com eles foi que, sem esforço, não há conquista.” Esses ensinamentos foram fundamentais para moldar seu caráter e direcionar suas escolhas profissionais.
Aos 13 anos, Dr. Heider se mudou para o Colégio Agrícola de Jundiaí, onde morou no internato e buscou se tornar mais independente. No entanto, foi aos 16 anos que ele tomou a decisão de seguir a carreira na medicina veterinária, com o apoio de sua mãe, que sempre acreditou que o estudo seria a chave para um futuro melhor. Durante a faculdade, ele se especializou no cuidado de animais de grande porte, especialmente cavalos. Entre 2002 e 2010, consolidou sua carreira como veterinário, atendendo fazendas e vaquejadas. Contudo, uma tragédia o fez repensar sua trajetória. Em 2010, um incidente inesperado resultou em uma lesão na coluna, tornando-o tetraplégico.
Dr. Heider Irinaldo e a filha Maria
Apesar da dor física e emocional, Dr. Heider encontrou forças para seguir em frente, motivado pela necessidade de sustentar sua família, que incluía sua esposa e uma filha recém-nascida. Ele reconhece que a fé e a esperança desempenharam um papel importante nesse processo. "O que mais me motivou foi saber que tinha pessoas que dependiam de mim. Eu precisava dar a volta por cima", reflete ele. Diante da nova realidade, Dr. Heider decidiu ingressar em uma área correlata e iniciou o curso de Medicina, buscando ampliar suas possibilidades de atuação. Sua decisão foi um momento de reflexão profunda, mas algo dentro dele lhe dizia que essa era sua verdadeira missão: "cuidar das pessoas e dos animais".
A transição de veterinário para médico não foi fácil, mas Dr. Heider nunca se deixou dominar pelo medo ou pela insegurança. Ele revela: “Eu não senti medo nem insegurança, eu estava pronto para esse novo desafio.” Durante o curso de Medicina, enfrentou grandes dificuldades, como depender de outras pessoas para se locomover e suportar as limitações físicas, mas se empenhou ao máximo para concluir sua formação. "Eu tinha certeza de que ia terminar essa faculdade. Fui muito abençoado", disse ele sobre essa fase desafiadora.
Em relação à sensação de se formar, Dr. Heider lembra com emoção: "No dia da formatura, pela manhã cedo, acordei e lembrei do que estava acontecendo. Passou um filme na minha cabeça, de tudo o que eu tinha sofrido, de todas as dificuldades, todos os sapos que engoli, de toda a correria de trabalhar, correr para a aula e voltar para trabalhar, fazer hora extra para poder pagar as horas de estudo. Foi muito especial. Antes da cerimônia, chorei, emocionei-me, agradeci a Deus e vi que tinha vencido. Meu propósito se concretizou, e, como eu falei, eu tinha fé e certeza de que conseguiria, com muita luta, alcançar esse momento."
Hoje, Dr. Heider divide sua rotina entre a medicina veterinária e a medicina humana. Como coordenador do Hospital Veterinário da UFERSA e coordenador da residência médica em clínica e cirurgia de grandes animais, ele continua a se dedicar ao cuidado dos animais. Simultaneamente, trabalha no Hospital Wilson Rosado, onde utiliza suas habilidades na medicina intensiva para salvar vidas humanas. Sua trajetória profissional é uma verdadeira demonstração de resiliência, perseverança e superação. "Para mim, a medicina humana representa uma missão muito gratificante. Cuidar das pessoas, aliviar o sofrimento delas, tirar de estados graves, como é o meu trabalho na UTI, é algo que não tem preço. Eu sou muito feliz com o que faço, só agradeço a Deus por ter me dado essa missão."
A pandemia da Covid-19 foi, sem dúvida, um dos maiores desafios da sua vida profissional. Dr. Heider relata: "A pandemia foi arrasadora. Perdemos muitas vidas, e tivemos que ser resilientes. Foi um período estressante, com muito trabalho e muitas perdas, mas também um crescimento absurdo, tanto profissional quanto pessoal. Foi gratificante poder ajudar quando a sociedade mais precisou, mesmo sendo do grupo de risco. Eu me sinto muito grato por ter colaborado e salvo muitas vidas, e as que não conseguimos salvar partiram com toda a dignidade que todo ser humano merece."
Sua rotina é intensa. "Hoje, minha rotina é puxada. Estou no hospital veterinário da UFERSA, onde estou Coordenador e médico veterinário de grandes animais, além de coordenador da residência médica de clínica e cirurgia de grandes animais. Trabalho de segunda a sexta-feira, das 7h às 13h, e, eventualmente à noite e em fins de semana, faço plantões no Hospital Wilson Rosado. Apesar de ser cansativo, sou muito grato por fazer o que amo, mas a responsabilidade exige muita disciplina e compromisso. Isso me faz sentir que realmente nasci para isso."
Com tantas lutas e conquistas, Dr. Heider não perde de vista seus objetivos para o futuro: "O que eu almejo para o futuro é sempre melhorar, todos os dias. Cada dia tem que ser melhor do que o anterior, nem que seja 0,01%. Profissionalmente, quero continuar minha jornada na medicina intensiva e, pessoalmente, sempre crescer espiritualmente, orando e vigiando os meus pensamentos e atitudes."
O exemplo de Dr. Heider Irinaldo Ferreira é um reflexo da força e determinação dos potiguares. Em um mundo onde muitos buscam heróis em histórias fabricadas nas redes sociais, esquecemos que os verdadeiros heróis são aqueles que enfrentam desafios reais, que caem e se reerguem, que lutam incansavelmente sem precisar de aplausos ou filtros. Dr. Heider não venceu por sorte ou por atalhos. Venceu porque acreditou, porque trabalhou duro e porque nunca deixou as dificuldades apagarem sua essência.
Sua trajetória é um testemunho vivo de que o sucesso não está na ausência de obstáculos, mas na coragem de enfrentá-los. Ele poderia ter desistido diante da dor, mas escolheu recomeçar. Poderia ter se rendido ao medo, mas seguiu em frente. Em cada batalha, mostrou que a verdadeira grandeza não está apenas nas conquistas, mas na resiliência de quem segue sonhando e construindo, apesar de tudo.
Nós, potiguares, devemos valorizar histórias como a dele. Porque são essas vidas reais, de suor e superação, que realmente inspiram. Dr. Heider é um patrimônio do Rio Grande do Norte, um exemplo que deve ser reconhecido e celebrado. Que sua história nos lembre, todos os dias, que heróis de verdade não vivem de ilusões – eles vivem de propósito, de luta e de verdade.
Hoje, Heider Irinaldo Ferreira continua sendo um exemplo de determinação. Além de seguir sua carreira na medicina, nunca abandonou sua paixão pelos animais. O homem que desafiou todas as estatísticas, que enfrentou cada barreira com coragem, ainda encontra tempo para cuidar dos cavalos que tanto ama, reforçando que o amor pela vida sempre falará mais alto.
A história de Heider não é apenas sobre superação pessoal. Ela nos ensina que não há limites para quem acredita em seus sonhos. Que as dificuldades podem até nos derrubar, mas jamais podem nos impedir de levantar. Seu caminho é um convite para que todos nós, diante dos desafios, encontremos forças para seguir em frente, acreditando que sempre é possível recomeçar.
Heider Irinaldo Ferreira é um nome que inspira, uma vida que emociona, um legado que nos ensina a nunca desistir, e sim, persistir.
(*) Martha Cristina E. Maia - Membro do Fórum das Mulheres com Deficiência Benomia Rebouças
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