Hospital particular supre a deficiência da rede pública de saúde, principalmente em relação as cirurgias e leitos de UTI. Os servidores prestados ao Sistema Único de Saúde, com contrapartida do Estado e Município, sofrem com falta de pagamento
Coluna César Santos/JORNAL DE FATO
O Hospital Wilson Rosado (HWR), maior unidade de saúde da rede privada de Mossoró, tem sido o balão de oxigênio do sistema público de saúde, quando, quase sempre, socorre a demanda que não é atendida na limitada e frágil estrutura da rede pública. Cirurgias eletivas e leitos de UTI são disponibilizados pelo HWR para atender pacientes que deveriam ser assistidos no Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM).
Prestação de serviços amparados por contratos, com valores modestos em relação ao que é praticado em Natal e Fortaleza, por exemplo, e quase ou sempre não honrados pelo Estado e Município. O atraso de pagamento e o acúmulo de dívidas impressionam.
A Justiça tem sido o único caminho para resgatar contratos e fazer honrar pagamentos. Nesta quarta-feira, 27, o setor jurídico do Wilson Rosado sentou à mesa com representantes do Município e do Estado, intermediado pela Justiça, para negociar uma dívida de R$ 14 milhões que se arrasta há dois anos. O Município deve R$ 6 milhões, desde fevereiro de 2017; o Estado deve R$ 8 milhões, desde abril do mesmo ano.
Essa dívida tem origem em contratos de leitos de UTI e de cirurgias eletivas. Outras dívidas estão acumuladas. O Governo do Estado tem uma conta a pagar ao Wilson Rosado de R$ 470 mil, referente à contratação de exames em 2016, quando o tomógrafo do Tarcísio Maia quebrou pela primeira vez. O serviço foi prestado, mas a conta ficou para depois, e até hoje não foi quitada.
Outro ponto absurdo, e inaceitável, é a diferença entre o valor que o Estado paga aos hospitais privados de Natal e o que paga ao Wilson Rosado em Mossoró. Uma diária de UTI em Natal chega a custar até R$ 4 mil, enquanto ao HWR é pago apenas R$ 1.500. Em alguns casos, os hospitais da capital cobram por fora itens como alimentação parenteral, oxigênio, entre outros.
Essa distorção deve ser combatida. Faz-se necessário estabelecer a isonomia de valores e pagamentos. A mesma qualidade dos serviços prestados em Natal se encontra em Mossoró, tanto em estrutura quanto em profissionais.
A questão da UTI tem, ainda, um ingrediente cruel. Dos R$ 1.500 estabelecidos em contrato com o Hospital Wilson Rosado, um terço (R$ 500,00) é de responsabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto o restante é de responsabilidade do Estado (60%) e do Município (40%). Ocorre que a parte do SUS é repassada em dia, enquanto o Estado e o Município acumulam dívidas de meses, fazendo valer a máxima do caloteiro: “devo, não nego; pago quando puder”.
Isso é um absurdo.
Pior para o cidadão simples, que depende do serviço público, quase sempre sem atendimento por ausência do Estado e do Município.
De sorte que existe o Wilson Rosado, para socorrer, dentro de suas possibilidades. Amém.
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