Quinta-Feira, 19 de dezembro de 2024

Postado às 08h15 | 28 Jul 2019 | Redação Padre Flávio Augusto Forte: “Tenho posições políticas, como todo ser humano tem”

Entrevistado no "Cafezinho com César Santos", o vigário geral da Diocese de Mossoró fala sobre os 25 anos de sua atividade sacerdotal, celebrado na terça-feira. O religioso aborda os desafios da Igreja Católica. Também não foge de temas como política

Crédito da foto: Maricélio Almeida/JORNAL DE FATO Padre Flávio Augusto tomou o Cafezinho com César Santos

Uma multidão acompanhou na catedral de Santa Luzia a missa em ação de graças pelos 25 anos de ordenação sacerdotal do padre Flávio Augusto Forte Melo. Fiéis, autoridades políticas, amigos de uma vida toda estiveram presentes na celebração. Reflexo de uma trajetória marcada não apenas pela fé e vocação indiscutíveis, mas pela forma como padre Flávio, hoje vigário-geral da Diocese de Mossoró, conduz a sua relação com as pessoas.

Nascido em Severiano Melo, no dia 9 de maio de 1969, Flávio Augusto nunca teve dúvida de que caminho seguiria na vida: ser padre. Realiza-se no sacerdócio.

Graduado em Filosofia, Teologia e História, com mestrado pela Pontifícia Universidade Gregoriana, padre Flávio é também vice-diretor da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte.

Padre Flávio tomou o "Cafezilnho com César Santos", na sede do JORNAL DE FATO. Na entrevista, o vigário aborda o seu jubileu de prata na Igreja, relembra a quase candidatura à Prefeitura do Assú e comenta, entre outros pontos, o atual contexto político do país. Acompanhe.

Padre, são 25 anos de ordenação sacerdotal. O que essa data representa para o senhor?

 Os anos somos nós que convencionamos, né? Mas são datas redondas que ajudam a olhar o percurso e tentar realmente não olhar somente o passado com saudade, mas acho que neste momento precisamos ressignificar as coisas, a partir de um novo contexto, porque uma coisa é ser padre há 25 anos, um menino nascido em Severiano Melo, sem ideia do que era o mundo, só com uma ideia de que queria ser padre; outra coisa é você hoje, nesse contexto atual, tentar realmente descobrir, após 25 anos, o que me motiva e que tipo de padre eu devo ser para corresponder de fato, compreendendo que é uma vocação, um chamado de Deus, mas você tem que responder ao desejo do povo. Então, como fazer esse equilíbrio? Para mim, é uma data que, mais do que comemorar, é uma data de refazer o próprio caminho, no sentido de que se a gente não estiver constantemente fazendo isso, você corre o risco de ver os outros passar com muita rapidez e você ficar preso no tempo e no espaço, por isso acho que aquilo que funcionava há 25 anos, hoje é bem provável que não funcione. Algumas coisas no ministério do padre, por enquanto, permanecem.

 

E O que mudou?

MUDA, primeiro, a forma de trabalhar. Você tinha uma igreja que, naquele momento, anos 1980, 1990, quando entrei no seminário e fui ordenado padre, em que se tinha uma tendência que enfatizava muito mais um trabalho, vamos chamar, de mais abertura da Igreja para o mundo, hoje há uma tendência natural de olhar mais os aspectos internos da Igreja, o que deve ser o papel do padre internamente, então eu acho que aí você tem que buscar discutir até com você mesmo e com os colegas como é que você não vai perder esse timing, porque precisa estar antenado. Eu acho, por exemplo, que ainda não encontrei um jeito de como evangelizar usando bem as redes sociais, porque acho que não é só encher a paciência do povo com recortes do evangelho; é como chegar até o povo através das mídias sociais, como fazer isso?

HÁ 25 anos, as redes sociais sequer existiam...

ISSO. Então, você tem que começar a olhar que o seu ambiente era outro, basta olhar o ambiente político, no final dos anos 1980, eu me lembro da primeira campanha de Lula e Collor, em que o pedido do voto a voto era muito intenso, com uma influência imensa da TV, hoje a influência já não é tão forte assim, e as redes sociais têm um papel importante. Essas mudanças, tanto políticas, religiosas como da sociedade, acho que exigem também do próprio jovem que quer ser padre, do padre, que repensem alguma coisa, de como realmente fazer que cada vez mais a mensagem possa chegar às pessoas. Hoje, há diversas questões que precisam ser repensadas para o que o ministério do padre, eu diria, sempre tenha sentido na comunidade, que não seja simplesmente para uma realização pessoal, claro que o padre tem que se realizar no que faz, porque se não se realiza, vai ser frustrado, mas é uma realização que está a serviço do povo e antenado com aquilo que é necessidade real do povo e não ideia que o padre tem, porque acho que essa é uma outra concepção, você não pode ser padre só a partir do que você tem na cabeça, porque senão daqui a pouco você cria algo ao redor de si, uma fantasia tal que daqui a pouco você é tudo: padre, papa, Deus, porque você criou a sua imagem e semelhança às coisas, e não o contrário.

 

A IGREJA está vivendo uma mudança profunda, ela saiu de uma liderança conservadora e chegou uma liderança mais aberta, mais moderna, que é a do papa Francisco. Essas mudanças podem chegar até onde?

ESSA é uma grande discussão que tem que ser feita. Você tem o pontificado de João Paulo II, que foi marcado pela sua experiência com o regime comunista, imprimiu, eu diria, um ritmo na Igreja que era uma abertura religiosa, porque foi o papa que mais viajou, ele saiu dos muros do Vaticano para ir para o mundo, principalmente enquanto tinha muita saúde. No final, não; eu acompanhei mais de perto a parte final. Nos dois anos em que eu estava em Roma, ele já estava muito debilitado. O papa conseguiu dialogar com o mundo acadêmico muito bem, era um poliglota, mas era também um homem da academia, e também teve ao seu redor pessoas sempre muito inteligentes, umas dessas foi a que lhe sucedeu, o cardeal Ratzen, que se tornou o papa Bento XVI. Podemos colocar o papa Bento num tempo curto, mas que de certa forma deu uma continuidade ao tempo de João Paulo II, nessa perspectiva, mas com um ritmo mais alemão, mais sisudo, mas fechado, só que de repente você tem a renúncia de Bento XVI, que nos surpreende. Lembro-me que quando João Paulo II adoecia rapidamente, tinha uma séria discussão em Roma no período em que eu lá estudava, que era: é possível um papa renunciar? E sempre dizia que João Paulo II não renunciava por influência de Ratzen, que seria a sua cabeça pensante, ele ocupava o principal cargo do ponto de vista teórico, porém Ratzen assume e, tempo depois, renuncia.

E O cardeal Bergoglio é escolhido...

A SURPRESA vem com a eleição do cardeal Bergoglio. O que acontece, então? Agora você tem uma mudança de rota em todas as perspectivas da Igreja. Você tem alguém que se aproxima do povo, porque se tem um papa que é capaz de atender e conversar com todos de igual para igual e isso vai começando a imprimir outro ritmo, que é tirar o ministro ordenado de um pedestal, acho que o papa está conseguindo fazer isso, diminuir essa distância entre o altar e o povo, pelos gestos, pelas atitudes. Temos, ao mesmo tempo, um homem que é capaz de enfrentar a Europa e os Estados Unidos nessa questão da migração, ele bate forte, e acho que ele vai enfrentar ainda dificuldades, porque o fato de ele não ser europeu tem, sim, uma certa resistência, é um latino-americano. Então, de certa forma, ele é um estrangeiro lá, mas ele entende muito bem essa questão da migração, e acho que ali o papa começa a fazer que também se repense algumas estruturas internas caducas, então você tem um papa que é capaz de dizer, acima de tudo, que é preciso dialogar, eu acho que isso é bonito, porque no pontificado de João Paulo II e Bento XVI você tinha certos temas não discutidos.

 

COMO, por exemplo?

VAMOS, então, a alguns temas polêmicos. Você pode olhar a situação do banco do Vaticano, o papa foi capaz de dialogar, chamar, discutir e enfrentar o problema. Quer outro assunto polêmico? Pedofilia entre o clero. O papa Francisco foi capaz de enfrentar o problema, discutir duramente e internamente, mandar regras claras para todo mundo, ou seja, é um papa capaz de uma conversa direta com uma pessoa e é capaz de enfrentar ali os problemas, consciente das resistências, porque agora ele quer discutir, e acho que essa, para mim, é a grande intuição do papa, não é se pensar o iluminado, que sabe tudo, mas ele convoca. Quer discutir a juventude? Vamos convocar um sínodo para conversar sobre a juventude. Quer enfrentar o problema da Amazônia, mas não quer ser só enfrentar o problema ambiental, que é um problema da pauta dele, mas ele quer discutir também a presença da Igreja na Amazônia, aí às vezes é mal interpretado, e quer enfrentar propondo questões que até ontem nem se discutia, que é a possibilidade de homens casados serem ordenados para trabalhar na Amazônia, com uma série de critérios, mas até ontem nem se discutia. O que ele está fazendo? Vamos discutir! Não custa nada sentar, conversar, aprofundar para encontrarmos luzes. Eu acho que ele está quase que na contramão da história, porque é um papa que consegue numa instituição milenar, como a Igreja, hoje chamar e dizer: é preciso dialogar, chamar as forças internas e externas para a mesa e discutir em profundidade.

O BRASIL hoje vive um momento delicado. O acirramento político, a formação das arquibancadas, o nós contra eles. Como a Igreja pode se posicionar diante desse quadro?

NESTE momento, eu acho que ainda nos faltam também lideranças religiosas capazes de sair dessa polarização de que o certo está aqui, o bonito sou eu, o outro é o errado, é o feio, eu acho que falta também lideranças religiosas capazes de chamar as forças, com autoridade, para dialogar. Quando eu digo com autoridade, é uma liderança religiosa capaz de ir ao presidente não pensando em benefício da sua igreja, em ter cargos no governo, mas em liderança religiosa que diga: vamos conversar, governo e oposição, lideranças de um lado e do outro, o que é melhor para o país. Você não tem uma autoridade religiosa que pense necessariamente assim, você tem bancadas que vão se identificando por afinidade, automaticamente elas vão pleiteando para o seu pensamento e não para o bem da população. Então, acho que neste momento aqui, a Igreja Católica, que eu posso falar, carece de lideranças, eu diria, que sejam capazes de entrar e de sair dos palácios políticos de cabeça erguida, porque não foi pedir um, dois, três cargos, ou dois, três favores pessoais, mas foi lhe dizer: eu vim aqui para estabelecer uma ponte. Nós estamos tendo dois lados que a cada dia disputam e se acirram nas discussões, precisa-se dessa mediação.

 

E A quem caberia essa mediação? Ao presidente da CNBB, por exemplo?

NA VERDADE, elas são lideranças muito espontâneas que surgem. Claro que quem ocupa cargos como a presidência da CNBB, hoje um homem inteligentíssimo, dom Valmor, que é arcebispo de Belo Horizonte (MG), eu espero que ele possa fazer esse papel, mas acho que nós carecemos de lideranças para além do cargo que ocupem, elas tenham essa autoridade, nós precisamos disso, de pessoas que sejam capazes de entrar e de sair, por isso que às vezes se dizia, em certos momentos, que a Igreja estava bem em qualquer governo, mas é porque se tinha algumas figuras em que qualquer governo elas eram capazes de dizer: eu vim e minha posição é essa aqui, e não fazia do altar uma guerra. Eu posso discordar do seu pensamento, mas não posso, é meu pensamento pessoal, fazer do altar um palanque. Eu tenho posições políticas, como todo ser humano tem, mas sempre defendo que quem vai para a Igreja naquele momento, ele não vai para ouvir o sermão do padre Flávio sobre partido político. Tem o momento, se eu estou num debate como padre, me posiciono, os ambientes precisam ser identificados. Até pouco tempo, nós tínhamos essas lideranças capazes de passar tranquilamente, um deles, por exemplo, foi bispo aqui de Mossoró, dom Eliseu. Ele era capaz de ter acesso ao Governo Federal, se você olhar o que ele trouxe para Mossoró, espalhou uma rede de maternidades, que era pensando na saúde da população, é desse tipo de liderança de que nós precisamos, porque ela impõe uma certa autoridade, seja qual for o governo, a liderança chega para dizer: o projeto não é de Igreja; é do povo, para o bem da população.

O FATO de o presidente da República, Jair Bolsonaro, ter dito que o próximo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) tem que ser um “terrivelmente evangélico”, esse tipo de postura incomoda a Igreja Católica?

NÃO, acho que não. Veja que a Igreja nunca discutiu absolutamente a nomeação de nenhum ministro das instâncias. Eu sempre vi a posição da Igreja na perspectiva de que ela não vai interferir nesse ponto; a Igreja sempre soube o seu lugar. Se for um terrivelmente evangélico competente, o que me preocupa é se esse (ser evangélico) for o único critério, aí a gente começa a entrar numa outra seara, que é complexa demais. Eu acho que é importante você olhar que, nesse caso do Supremo, eu acho que tem uns que nem declaram religião, mas eu acho que o que a população espera é que a sua competência acadêmica, intelectual, ela seja colocada realmente a serviço da população, senão nós vamos ter os votos carimbados: esse é evangélico, a gente já sabe como voto; esse é católico, a gente já sabe como voto; esse não declara religião, então se teria um jogo de cartas marcadas, e acho que isso não é bom para a população, é péssimo para a instituição maior que é o país, com as suas instituições. Um ministro do Supremo é o guardião da Constituição, está lá a nos orientar.

 

MAS, recentemente, o senhor esteve na linha de frente sucessória no Município de Assú, e era visto como um candidato único à Prefeitura. De certa forma, se empolgou em algum momento. O que fez o senhor não entrar para a política partidária?

REALMENTE. Foram alguns meses em que fui tentado, os dois lados chegaram a esse nome. Eu comecei a perceber algumas coisas importantes. Vou começar pela parte religiosa. Eu sou de uma linha que acho que para você ocupar um cargo desse, teria de pedir licença antes que a Igreja intervenha, então eu pediria licença à Igreja, do ministério presbiteral, e isso começou a me incomodar, porque eu sempre pensei na vida em ser padre, e de repente fazer uma pausa nisso, para ser candidato, e se fosse eleito, aumentar esse tempo, isso começou a incomodar. Nos primeiros dias você se empolga, e por quê? Porque aí vem o segundo aspecto, que é a sociedade que você desenha na cabeça, pensa em construir, ela tem um lugar muito concreto: é a cidade, o município. Por mais que você pense o mundo, mas o mundo é real onde você está. De repente, os primeiros dias de empolgação, até para pacificar, porque era Ivan Júnior o prefeito, a quem eu tenho uma estima imensa, por outro lado, George Soares, deputado, também uma estima grande, mas, pouco a pouco, aquela fase inicial foi me dando lugar a uma pergunta que era: ‘Se eu ganhar a eleição, eu prefeito em Assú vou conseguir concretizar tantos projetos que eu imagino?’. Por exemplo, uma prioridade absoluta na cabeça de um governante tinha que ser a educação, para mim é sempre o ponto de partida, se você tiver um belo projeto de governo a partir da educação, você melhora o esporte, cultura, saúde, melhora todas as áreas. E aí comecei a pensar: ‘Eu vou conseguir formar uma equipe capaz de pensar isso?’.

 

TERIA autonomia para montar essa equipe?

E AÍ vem uma outra pergunta: como é que as forças políticas, que já estão há décadas se revezando no poder, vão ver isso? Vão deixar eu trabalhar? Eu sou nascido em Severiano Melo, estava morando em Mossoró naquela época quando fui para Assú, estava fazia pouco tempo lá, e acho que me faltariam elementos suficientes, essa é que é a verdade. Não era medo de enfrentar a campanha eleitoral não, porque alguém tem que ganhar, mas era, na verdade, sérios questionamentos se, realmente eu ganhando, colocaria em prática algumas ideias que tenho para o bem da população.

 

GANHAR a eleição, então, passou a ser um medo?

PASSOU a ser um medo de não realizar. Para ser mais um, eu preciso deixar o ministério? Não. Entendam, não é que eu quisesse ser melhor do que os meus antecessores, não; quando digo ser mais um, é no sentido de ou você entra para fazer a diferença para a população ou então você entenda que entra na engrenagem quem já está nela e vá embora. Eu optei por não entrar por dois motivos: primeiro, pelo lado pessoal/religioso, eu sempre me concebi como padre, sempre quis ser padre; e o segundo foi pensar que poderia ganhar e não realizar realmente um trabalho que correspondesse aos meus pensamentos e ao desejo da população.

 

A FIGURA do bispo dom Mariano Manzana influenciou de certa forma nessa decisão?

DE UMA forma maravilhosa, porque dom Mariano me deixou com muita liberdade. Sempre conversei com ele. A Igreja tem um posicionamento e eu sou conhecedor disso, mas dom Mariano sempre me deixou muito livre, questionando o tempo inteiro, ponderando, mas eu sempre dizia que ele seria o primeiro a ser comunicado, porque eu tenho responsabilidade, eu sou padre e ele é o bispo, é feio você ter um funcionário que deixa de trabalhar na empresa e o diretor, o gerente, o dono vai saber pelo vizinho: ‘Seu funcionário é meu, não é mais seu.’ De repente, um bispo toma conhecimento, por outros, que o seu vigário de Assú é candidato. Eu disse: ‘O primeiro a saber vai ser o senhor.’ Ficamos acordados isso, tanto que disse a ele e só depois de alguns dias que publiquei minha decisão. Hoje, sinto que isso não me incomoda, foi um tempo importante, porque ajuda a sair muito mais clareza das suas opções na vida, entender o papel do padre no mundo, na política, na sociedade.

 

COMO é o processo de escolha de um bispo?

É O Vaticano que escolhe. Quando tem um lugar vacante, há uma consulta por parte da nunciatura apostólica, que é em Brasília (DF), é o embaixador do papa em cada país. Ele, ao ter uma sede vacante, começa uma série de consultas a alguns padres da região, os bispos, é feito todo um levantamento sobre pelo menos três candidatos, são analisados o currículo, as muitas informações que são solicitadas, então essa lista tríplice é levada ao Vaticano, e ali a Santa Sé, o papa escolhe um dos três.

É UMA possibilidade para o senhor ser bispo?

NÃO. Não é uma possibilidade. Não me passa jamais pela cabeça. A minha vocação é ser padre. Eu colaboro com a Igreja, ao longo desses 25 anos, seja como padre, reitor do Seminário de Santa Teresinha, vigário geral, já dirigi uma rádio, tive tantas atividades, que nunca imaginei, mas sempre a pedido da Igreja. Meu sonho era, na verdade, ser um padre de uma cidade pequena, em que eu saiba o nome de todo mundo, é tanto que o meu primeiro pedido ao bispo foi ser padre em Caraúbas, e dom Freire aceitou e poucos dias depois disse: ‘Eu preciso de você em Mossoró.’ Eu ainda tenho esperança que um dia se realize esse sonho, de ser padre de uma cidade pequena, onde seja mais fácil o contato mais direto, pois eu gosto de cumprimentar as pessoas, receber as pessoas. Numa cidade grande, isso é complicado. Eu saio dando bom dia, boa tarde, boa noite para todo mundo, e as pessoas às vezes podem confundir achando que eu quero ser político. Não, não. É porque eu acho esquisito você encontrar o outro no elevador e não cumprimentar.

 

PARA concluirmos, padre, há um projeto de reforma da catedral de Santa Luzia para 2020, é isso?

TEM. O projeto é para garantir um melhor espaço. Atualmente, nós temos um contrato já firmado com um escritório de arquitetura sacra, que é único no Brasil, especializado nisso, escritório das Irmãs Pias Discípulas de São Paulo. Elas pediram diversos estudos, que já fizemos com empresas de Mossoró, por exemplo, estudo do solo para ver a viabilidade de uma cripta, criar uma capela no subsolo da catedral, contratamos uma empresa, mandamos o estudo e os engenheiros daqui de Mossoró, que também estão nos assessorando nesse projeto, acham que isso é viável. Então, há uma grande probabilidade de termos uma cripta. O escritório deve apresentar nas próximas semanas o anteprojeto, para que a Diocese possa aprovar. Como é uma catedral, o bispo tem que aprovar. As últimas medidas que as arquitetas solicitaram já foram enviadas. Queremos garantir algumas coisas, como, por exemplo, a climatização, consequentemente o uso de energia fotovoltaica, energia solar, isso já está decidido, não abro mão de forma alguma, depois a cripta, e no visual da parte interna vamos dar uma melhorada bastante significativa, externamente não vamos mudar muito, até porque não temos como modificar, mas a perspectiva de dar uma repaginada total internamente. Eu espero que até a Festa de Santa Luzia a gente possa apresentar o projeto e determinar o dia que começa a reforma.

 

UM investimento alto...

ALTO, certamente, porque hoje qualquer serviço que você vai fazer exige muitos recursos, mas a gente pretende fazer por etapas. Por exemplo, já temos orçamento da energia solar, da climatização, a nossa ideia vai ser, com os recursos de que a catedral dispõe, nós podermos contratar tais empresas para fazer em seis meses tais passos na catedral, aí a gente fecha, contrata as empresas, faz aqueles serviços, reabre e vai começar a lutar para levantar fundos para as próximas etapas. Não é possível fazer tudo de uma vez. Vamos trocar todo o piso, pintura total, todos os vitrais serão trocados, possivelmente algumas portas. Então, o negócio não é tão simples, mas a gente quer fazer, eu acho que Mossoró merece. Eu tenho dito que a catedral precisa ganhar cara que alguém entre e queira rezar e que, ao sair, tenha a sensação que a catedral é um cartão-postal da cidade de Mossoró, por isso até um projeto da iluminação externa o escritório de arquitetura sacra está fazendo, porque à noite queremos que as pessoas tenham o desejo de ir lá no patamar fotografar, ou alguém sugerir a um turista que está passando pela cidade: ‘Vá lá na frente da catedral à noite fotografar, que é bonito’, porque acho que precisamos disso também do ponto de vista simbólico. É uma reforma ampla e duradoura.

* Entrevista concedida aos jornalistas César Santos e Maricélio Almeida

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