Por Maricélio Almida - Repórter do JORNAL DE FATO
O agravamento da pandemia do novo coronavírus na última semana deixou atônitos até mesmo os mais incrédulos em relação à rápida propagação da Covid-19. O cenário é de caos. Com a necessária e prudente recomendação das autoridades de saúde, governantes, líderes religiosos, para que a população não saia de casa, os reflexos em todos os setores da sociedade foram imediatos. Na economia, em especial, a situação traz preocupações do pequeno comerciante aos grandes investidores.
Em Mossoró, o centro comercial presenciou cenas entristecedoras: lojas praticamente vazias, já que os consumidores, aflitos e seguindo as orientações das autoridades, preferem manterem-se distantes de grandes aglomerações ou de espaços que possam reunir uma quantidade mais expressiva de pessoas. Resultado? As vendas já caíram acentuadamente. É o que afirma Wellington Fernandes, presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) da cidade.
Na entrevista da semana da seção “Cafezinho com César Santos”, Wellington Fernandes reforça a preocupação com os efeitos da pandemia na economia local e faz um apelo para que os entes governamentais amparem as empresas nesse momento de dificuldade. Segundo o presidente da CDL, mantido esse cenário de caos, em um mês patrões começarão a dispensar os seus empregados: “As obrigações se acumulam. Folha de pagamento, impostos, fornecedores”, justifica. Acompanhe essa e outras apreensões do mercado na conversa a seguir.
O cenário é de crise. A pandemia do coronavírus já traz reflexos negativos para o mercado. Qual é o sentimento do Senhor em relação a esse momento?
É um momento de muita inquietação, de uma maneira geral, tanto pelo lado da gente como pessoa, já que podemos ser contaminados por esse vírus, como também pelos nossos negócios. O comércio já está sentindo muito, porque o movimento nas lojas caiu acentuadamente. Estamos vendo o que vamos fazer, pois o que a gente precisa também nesse momento é de uma ação do governo para que dê um amparo às empresas de alguma maneira, porque se não acontecer (o amparo) nós teremos uma dificuldade muito grande no comércio, decorrente desse fato.
E que ajuda seria essa? Que medidas são necessárias para conter o avanço dessa crise ou pelo menos minimizar os efeitos dela nesse momento?
As medidas econômicas que nós almejamos seria no sentido do governo acentuar mais ainda a questão dos impostos, porque o Governo Federal lançou uma medida em relação às microempresas, postergando o pagamento do Simples desse período, que seria paga no mês de abril, maio e junho, foi postergado para o final do ano, mas há as demais empresas que também estão sendo afetadas e já vêm sendo afetadas ao longo do tempo em função da crise econômica por qual o país passou, e agora essa do coronavírus. As empresas, isso de uma maneira geral, estão fragilizadas. Aqui em nossa cidade, a gente precisaria também que as médias empresas recebessem um benefício nos moldes que estão sendo oferecidos às microempresas, e também temos que ter o olhar aqui não só o Governo Federal, mas, também do Governo do Estado, o municipal, todos têm que tomar alguma medida que venha facilitar a sobrevivência das empresas nesse momento de dificuldade.
Dificuldade essa que surge em um momento que a economia começava a apresentar alguns sinais de recuperação...
Isso. A economia vinha mostrando alguns sinais pequenos de recuperação, mostrando que o pior já tinha passado em termos recessão, que o comércio poderia agora começar a crescer novamente. A gente vinha de um período de crise, as empresas estão fragilizadas para enfrentar essa que é uma crise ainda mais profunda, de uma maneira geral. É um momento que há de se tomar medidas visando a preservação também das empresas e dos empregos, porque se a empresa não conseguir se manter os empregos também não serão mantidos.
Mantido esse cenário de crise em virtude da pandemia do novo coronavírus, em quanto tempo o Senhor acredita que as empresas iniciarão o processo de desligamento de seus funcionários?
Olha, um cenário desse o máximo que uma empresa pode suportar é um mês, porque as obrigações se acumulam, tenho uma folha de pagamento e não estou tendo vendas, e além da minha folha, tenho os impostos, obrigações com os fornecedores, e detalhe: essa situação com os fornecedores, que se agravarem ainda mais o quadro, que a gente espera que não aconteça isso, em algum momento os efeitos também chegarão aos fornecedores, com a postergação de pagamentos a eles. O próprio lojista também é credor dos seus clientes. É uma via de mão dupla. Se houver a necessidade de chegar a esse momento, que a gente espera que não aconteça, em virtude das medidas preventivas que estão sendo tomadas pelo Estado, como a paralisação das escolas, as igrejas parando, pode atenuar muito a questão do vírus, mas se houver uma necessidade de, vamos dizer assim, de paralisação do comércio, que haja uma paralisação total, não só da loja em si fisicamente fechar a porta, mas de todas as obrigações pertinentes à atividade.
Há algum setor que sofre mais com uma crise como essa, ou os efeitos atingem todo mundo na mesma intensidade?
Inicialmente, os segmentos de agências de turismo, hotéis, bares e restaurantes, esses sentem mais rápido o efeito dessa crise com certeza, é um fato que não há como negar. Agora, com o prolongamento dessa crise, o comércio de uma maneira geral, vai sentir muito mais do que o que já está sentindo, então, vai nivelar-se e a necessidade de amparo será para todos, e não para segmentos específicos.
Economistas já afirmam que poderemos ter uma recessão global em 2020...
Já se fala isso no mundo todo. Os países emergentes, os próprios organismos internacionais já colocaram que acontecerá uma recessão; é um fato que não há como fugir a isso no momento. Diante desse cenário, vários governos estão tomando algumas medidas, mas que inicialmente, essas medidas não chegam à ponta. São mais medidas que atendem um público mais acima, de grandes investidores. A gente precisa de algo na ponta, que possa atender o pequeno, médio comerciante, o médio lojista, alguma pequena indústria também, que vai sentir muito com isso. Estava conversando com um cliente de uma empresa de tintas do Ceará, e ele falando que a empresa tinha paralisado a produção. Então, com certeza, ela vai ter suas dificuldades também. É o momento de o Governo olhar com mais atenção, mais carinho para não adotar só medidas pontuais, que não trazem realmente uma ajuda para o setor.
Grandes eventos estão sendo cancelados ou adiados. Já se discute, inclusive, a possibilidade do Mossoró Cidade Junina não ser realizado este ano, o que também traria reflexos negativos para a economia local. Como o Senhor avalia esse cenário?
O Mossoró Cidade Junina trouxe uma boa movimentação no ano passado, e está seriamente ameaçado. Eu acredito que dificilmente acontecerá, está se aguardando apenas um pouco mais para mostrar isso. Não é só o Cidade Junina, mas vários outros acontecimentos estão sendo cancelados: shows, festas, reuniões da nossa entidade, a gente já suspendeu. As demais entidades de classe também suspenderam suas reuniões no intuito de colaborar com essa questão de saúde pública. Isso é o que a gente tem feito. Esperamos que governo possa ver com mais carinho o que é que ele pode fazer para amparar as empresas de maneira geral.
Algo mais que o Senhor queira acrescentar? Pode ficar à vontade.
Só dizer que a gente acredita que as medidas que estão sendo tomadas até agora pelos governantes, pelas entidades, pelas igrejas, de resguardar o máximo possível a população, são medidas que estão no caminho certo. Eu estava escutando um frei que está em Roma, e ele colocava exatamente isso, que tinha que antecipar-se, que era o que não tinha acontecido na Itália. Então, a gente está em um bom caminho. Eu acredito que não vamos ter essa pandemia tão acentuada na nossa cidade, no nosso Estado, e acredito que vamos passar por isso. A gente espera que todos tenham calma, paciência e creiam em Deus. Orem bastante para que a gente possa passar rapidamente por essa situação.
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