Líderes religiosos falam dos primeiros dias da retomada das atividades religiosas presenciais liberadas por Decreto Municipal. Algumas comunidades decidiram permanecer fechadas devido à pandemia. A Catedral de Santa Luzia reabre nesta segunda-feira
Por Nara Andrade - Repórter do JORNAL DE FATO
Neste domingo (9) completa uma semana da retomada das atividades presenciais em igrejas e templos religiosos de Mossoró. A permissão para reabertura gradual está prevista no Decreto Municipal Nº 5.744. De acordo com a legislação, esses locais devem seguir regras definidas em protocolo municipal que estabelece diretrizes como distanciamento entre fiéis e ocupação interna.
O protocolo estabelece que devam ser adotadas e preservadas medidas que garantam o afastamento físico mínimo entre as pessoas de 1,5 m. Além disso, foi definido um cronograma de reabertura do espaço destinado ao público com ocupação máxima de 30% da capacidade durante os meses de julho e agosto; 50% em setembro; 75% em outubro e 100% a partir de novembro. Ou seja, os templos só poderão ser ocupados totalmente a partir do penúltimo mês do ano.
As determinações incluem o uso obrigatório de máscaras, cadeiras de uso individualizado e marcações de bancos coletivos, disponibilização de álcool em gel, restrição a cumprimentos e confraternizações, controle de fluxo de entrada e saída, afixação de cartazes, além de agendamentos de atendimentos individuais, entre outras medidas.
De acordo com o Art. 3° “fica a Secretaria Municipal de Saúde autorizada a adotar as medidas necessárias para cumprimento e fiscalização do presente Decreto e resolver os casos omissos, inclusive com a adoção de protocolos estabelecidos pelas autoridades e normas estaduais”, cita.
O descumprimento das regras poderá incidir em aplicação de sanções ao responsável direto, conforme previsto no Decreto 5.676.
As diretrizes foram definidas pelo Comitê de Enfrentamento à Covid-19 com a sugestão de líderes religiosos. As medidas podem sofrer descontinuidade caso ocorra avanço da pandemia na cidade.
Para saber como foi a primeira semana após a liberação, DOMINGO conversou com líderes de diferentes religiões em Mossoró, quais cuidados estão sendo tomados e porque mesmo com o número de novos casos ainda não estando estáveis as igrejas solicitaram a liberação para a realização de atividades presenciais.
Emoção no retorno
Um dos representantes da comissão de líderes religiosos que se reuniram com a prefeita de Mossoró, Rosalba Ciarlini, é o reverendo Samuel Ribeiro, que além de pastorear a Igreja Presbiteriana Central de Mossoró (IPCM) é presidente do Presbitério Oeste Riograndense (PROR) e presidente do Sínodo do Rio Grande do Norte.
A Igreja Presbiteriana Central de Mossoró estava com todas as atividades presenciais suspensas desde o dia 18 de março desde ano, ou seja, antes mesmo do Decreto Estadual que
suspendeu as atividades das igrejas. Segundo o pastor Samuel Ribeiro, a decisão de suspender as atividades foi tomada porque o conselho da igreja entendeu que era o mais prudente e seguro naquele momento. Passados mais de quatro meses, o conselho entende que neste momento é seguro o retorno das atividades dominicais.
“Creio que é fundamental que as igrejas estejam com suas portas abertas, para dar suporte espiritual para tantos que adoeceram, física e espiritualmente, e que perderam entes queridos. Nesse tempo de pandemia, muitos têm adoecido não apenas fisicamente. As pessoas estão depressivas, estressadas e ansiosas, e precisam de apoio espiritual e de aconselhamento bíblico. Além, é claro, do amparo social que as igrejas continuaram prestando durante a pandemia”, destaca, explicando a importância da reabertura das igrejas.
De acordo com o pastor da Igreja Presbiteriana, na primeira semana de funcionamento após liberação prevista por Decreto Municipal, a igreja conseguiu implementar todos os protocolos necessários para a reabertura do templo e muitos irmãos já participaram dos cultos dominicais.
“Claro, algumas pessoas ainda estão temerosas em sair de casa, o que é normal. Mas, todos estavam animados em retornar à igreja e poder cultuar ao SENHOR. Vários irmãos se emocionaram com o retorno aos cultos dominicais. Até mesmo os que não estiveram presentes fisicamente. Como nem todos podem estar no templo, por causa do limite de 30% ou por serem do grupo de risco, nossos cultos dominicais serão transmitidos pelo canal da nossa igreja no Youtube”, comenta.
O reverendo Samuel Ribeiro afirma que a igreja está tomando todos os cuidados exigidos pelo decreto municipal, como a adoção do uso de máscaras de rosto, máscaras auriculares, luvas, totens de álcool gel, tapete higiênico, higienização dos bancos e ambientes da igreja. Sobre as orientações aos membros, ele explica que foram espalhados pela igreja, em locais estratégicos, cartazes com orientações a respeito das medidas de prevenção e controle da COVID-19, como uso de máscaras, a necessidade de higienizar as mãos e evitar o contato físico, respeitando sempre o distanciamento de 1,5 metros. Também foram afixadas, em locais estratégicos, as regras para o funcionamento do templo. As orientações têm sido compartilhadas com frequência nas redes sociais, Canal do Youtube e grupos WhatsApp da igreja, além de sempre ser destacadas no púlpito.
“Temos 240 membros. Em nosso templo cabem 230 pessoas na nave do templo e 60 pessoas na galeria. Temos a permissão para reunir 30% da capacidade do espaço. Dessa forma, ficou assim a disposição: 69 pessoas no templo e 18 pessoas na galeria, totalizando 87
pessoas. Em setembro será 50% da capacidade, outubro 75% e novembro 100%”, explica.
Nesse momento de reabertura, a igreja pretende retornar apenas os cultos dominicais, o ajuntamento solene, que em agosto será a única atividade da igreja que será presencial. Os demais trabalhos da igreja, que ocorre durante a semana e nos fins de semana, continuarão pelo Google Meet e pelo canal da igreja no Youtube. Mesmo estando liberado para a realização de todas as atividades, o conselho da igreja julgou mais prudente iniciar dessa forma.
O pastor Samuel Ribeiro também é presidente do Presbitério Oeste Riograndense (PROR), entidade responsável por todas as Igrejas Presbiterianas do Oeste Potiguar e presidente do Sínodo do Rio Grande do Norte, que jurisdiciona todas as Igrejas Presbiterianas do estado. Ele explica que apesar da Igreja Presbiteriana ter toda essa “estrutura de comando”, cada igreja local toma suas decisões.
“Dessa forma, cada igreja de Mossoró precisou estudar o decreto municipal, suas exigências e recomendações, ver os números da Covid-19, e decidir se retornaria, ou não, com as atividades das suas igrejas. Claro que o nosso Presbitério, que jurisdiciona as igrejas de Mossoró, se reuniu com os seus líderes para auxiliá-los em todas as providências necessárias para que os cultos retornassem de acordo com o que prevê o decreto municipal. Dessa forma, todas as nossas igrejas estão cumprindo o protocolo necessário para retorno de suas atividades”, frisa.
Decreto regulamenta reabertura das Igrejas Católicas
A reabertura dos templos da Igreja Católica no Estado do Rio Grande do Norte ficou definida por meio de Decreto publicado em conjunto pelo arcebispo metropolitano de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha; o bispo da Diocese de Mossoró, Dom Mariano Manzana; e o bispo da Diocese de Caicó, Dom Antônio Carlos Cruz.
O documento leva em consideração o Decreto 29.861, de 24 de julho de 2020, do Governo do Estado do Rio Grande do Norte autorizando a retomada gradual responsável das atividades de natureza religiosa no Estado do Rio Grande do Norte, em igrejas, templos, espaços religiosos e estabelecimentos similares. Assim como as “Orientações Litúrgico-Pastorais para o retorno às atividades presenciais” da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil enviada ao episcopado brasileiro, dia 31 de maio de 2020, contendo as diretrizes elaboradas pela Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da CNBB. Além do Plano de reabertura das igrejas da Província Eclesiástica de Natal, de 27 de julho de 2020, contendo orientações gerais para a retomada de atividades, no que diz respeito a organização e realização da vida litúrgico-pastoral, na Arquidiocese de Natal, Diocese de Mossoró e Diocese de Caicó. Segundo o Decreto publicado em conjunto pelas dioceses, cada uma das dioceses do Estado é autônoma para definir as datas da reabertura.
Na Diocese de Mossoró, o calendário será o seguinte: 10 de agosto – abertura das igrejas somente para oração pessoal; 15 de agosto, reinício das celebrações das Missas nas Igrejas Matrizes, igrejas dos municípios que não são sede de Paróquias e capelas de Institutos Religiosos; e 19 de setembro – início das atividades celebrativas nas capelas que compõem a Paróquia. As celebrações deverão contar com número reduzido de fiéis, conforme o decreto assinado pelos bispos. Os termos de abertura das igrejas constantes no decreto assinado pelos bispos deverão estar sujeitos às regras pertinentes a cada município.
O vigário-geral da Diocese de Santa Luzia de Mossoró e pároco da Paróquia de Santa Luzia, Padre Flávio Augusto Forte Melo afirma que com a publicação do decreto assinado pelos bispos do Rio Grande do Norte apresentando um cronograma para a reabertura gradual dos templos para oração faz com que cada diocese inicie os preparativos para a abertura de seus templos com segurança e da melhor forma possível.
“O importante agora é que a população possa tomar consciência de que a pandemia não passou, estar atentos aos cuidados que as igrejas vão ter com a higienização e para todas as recomendações que devemos seguir. É importante se informar, e quem fizer parte dos grupos de risco, por ter mais de 60 anos ou alguma comorbidade deve continuar em casa, participando das celebrações de forma virtual pelos meios de comunicação. E esse é o momento em que a gente vai observar a abertura de forma gradual, prudente, observando e respeitando a particularidade de cada município”, enfatiza.
Entre os cuidados adotados pela Igreja Católica no Rio Grande do Norte durante as celebrações estão: distanciamento, higienização das mãos com álcool em gel, uso obrigatório de máscara (retirando apenas no momento da Comunhão); A Comunhão será distribuída pelos ministros (de máscara), mantendo a distância necessária, e entregue na mão do fiel, que serão orientados a não responderem o “Amém” ao comungarem; O abraço da paz continua suspenso e não se devem dar as mãos no momento da oração do Pai Nosso; Não haverá distribuição do folheto litúrgico da missa; no final da celebração os fiéis devem deixar seus lugares com calma para evitar aglomerações nos corredores e portas das igrejas; os cumprimentos e despedidas devem ser realizados sem abraços ou apertos de mãos.
Movimento Espírita continua com atividades presenciais suspensas
Seguindo as orientações da Federação Espírita do Rio Grande do Norte e também da Federação Espírita Brasileira, que segue os decretos estaduais apontando as diferenciações em cada localidade, o movimento Espírita em Mossoró continua com suas atividades presenciais suspensas, pelo menos até o final do mês de agosto.
O coordenador do Movimento Espírita de Mossoró e diretor da Casa do Caminho, Marcelo Dantas explica que a comunidade espírita aqui na cidade está trabalhando na criação de um protocolo para que, no momento que for decidido retomar as atividades exista um protocolo de biossegurança para garantir que os frequentadores sejam recebidos com segurança, com riscos de contaminação e disseminação do novo coronavírus reduzidos.
Núcleo de Fraternidade Espírita Irmã Angélica, no Abolição II
“Acredito que até meados deste mês de agosto a gente esteja com esses protocolos prontos. No entanto, os cuidados vão ser sempre no sentido de que nós não enxergamos de maneira alguma a possibilidade de retorno das atividades que nós chamamos de palestras públicas, que seriam similares às missas e aos cultos, por exemplo. Nós não conseguimos conceber como seria feito o controle do número de participante. Se eu tenho uma Casa Espírita que tenha capacidade para 100 pessoas, e o protocolo de segurança pede que a participação seja reduzida para 25% da capacidade, ou seja, seria permitida a participação de 25 pessoas nessa atividade. Mas, quando a atividade é pública não dá para ter esse controle, se chegar um número de pessoas superior vamos ter que mandar essas pessoas voltarem para suas casas, e se chegarem duas pessoas da mesma família, e só puder entrar uma, a outra não vai poder entrar? Então, nós não conseguimos enxergar a possibilidade de retorno, pelo menos nesse momento, para as atividades públicas. Todos os nossos protocolos são para retorno das nossas atividades de grupos de estudos já formados, em que conseguimos mensurar a quantidade de pessoas”, explica.
Marcelo Dantas ressalta que o Movimento Espírita trabalha muito com os grupos de estudo, e em Mossoró existem vários grupos já formados, com um número limitado de participantes, entre 10 e 30 pessoas, assim é possível mensurar a quantidade de pessoas que estarão presentes em cada reunião, de acordo com a capacidade de cada ambiente.
“Na Casa em que eu frequento, por exemplo, tínhamos reuniões dos grupos nas segundas e aos sábados, com a reunião simultânea de sete grupos, reunindo cerca de 150 pessoas nesses dias. Muito provavelmente, a gente vai distribuir esses grupos ao longo da semana, para possibilitar a realização desses trabalhos com maior segurança em ambiente mais amplo, sem a utilização do ar-condicionado, deixando as janelas abertas para maior circulação do ar, com distanciamento das cadeiras, exigindo o uso de máscaras e utilizando o medidor de temperatura, além da disponibilização do álcool em gel para a higienização das mãos, e outras recomendações de segurança”, explica.
Ainda segundo o coordenador do Movimento Espírita em Mossoró, na cidade existem 12 Casas Espíritas, localizadas em diferentes bairros. E cada Casa tem autonomia para deliberar sobre como serão as suas atividades, e quando deverá ocorrer o retorno das reuniões presenciais.
“Existe a coordenação central que vem de Natal, da Federação Espírita, mas que também exerce apenas a orientação, mesmo que haja decretos estadual e municipal, cada uma tem sua autonomia para o retorno, e mesmo que haja orientação da federação, cada casa terá suas próprias regras. No Movimento Espírita há todo um processo de autonomia das casas com relação a isso”, lembra.
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