Neste domingo, Dia de Santa Luzia, pela primeira vez na história não acontecerá a tradicional procissão. Decisão difícil tomada pela Diocese de Mossoró, em razão da pandemia do novo coronavírus. Ficará para o próximo ano. Imagem sobrevoará a cidade
Certa vez, o padre Américo Vespúcio Simonetti disse que a Festa de Santa Luzia não deve ser feita para o povo, mas, sim, com o povo. O religioso, que comandou a maior festa religiosa do Rio Grande do Norte por longos anos, não se preocupava em profissionalizar o evento, mas de realizar com o povo fiel à padroeira dos mossoroenses.
A emoção do padre Américo, falecido em 2009, era traduzida em meio à multidão na procissão de Santa Luzia, quando ele soltava a voz: “Mossoró com alegria saúda Santa Luzia!” O cortejo religioso sempre foi o ápice da Festa da Santa padroeira.
Neste domingo, 13 de dezembro, Dia de Santa Luzia, pela primeira vez na história não acontecerá a tradicional procissão. Decisão difícil tomada pela Diocese de Mossoró, em razão da pandemia do novo coronavírus. Ficará para o próximo ano.
No entanto, a coordenação da festa decidiu inovar. Se não tem a procissão, a imagem de Santa Luzia vai peregrinar durante todo o dia pelos bairros de Mossoró. Com uma novidade: a imagem sobrevoará a cidade em avião durante a 1ª Revoada de Santa Luzia.
A peregrinação terá início às 6h, com a “Pedalada da Luz”, em que os fiéis sairão de bicicleta da Igreja de São José (zona norte), seguindo até a Igreja de São Francisco, no Abolição III (zona oeste). A chegada está prevista para as 9h.
Na sequência, a imagem será conduzida pela 14ª Cavalgada da Luz, saindo do Abolição III para o bairro Aeroporto (zona oeste). Ao meio-dia, terá início a 1ª Revoada da Luz, com a imagem de Santa Luzia sobrevoando a cidade até as 14h.
De volta ao aeroporto, às 16h, a peregrinação segue com a 4ª edição “Caminhoneiros da Luz”, com a imagem sendo conduzida por caminhões até o campus da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), zona leste de Mossoró.
Na chegada à Uern, a imagem de Santa Luzia será colocada em carro aberto para a 1ª Carreata da Luz, que passará por vários bairros até a Catedral, onde será recebida pelo bispo dom Mariano para o encerramento oficial da Festa 2020.
Devoção começou no século 18
O historiador Geraldo Maia, em suas pesquisas e escritos, registra que a devoção à Santa Luzia começou no século 18, quando freis carmelitas de Recife (PE) construíram uma residência e uma pequena Capela do Carmo, numa área a 30 quilômetros de Mossoró.
Nessa época, historiadores revelaram que havia um sítio ou fazenda “Santa Luzia”. Ao lado dela edificou-se um pequeno prédio, entre os Paredões e Barrocas (hoje bairros da zona norte da cidade), onde realizavam atos religiosos.
Em 1739, Mossoró era apenas uma fazenda que pertencia ao capitão Teodorico Rocha. Depois, a propriedade passou para o poder do português Antônio de Souza Machado. Foi nessa época que se iniciou a ocupação da terra, impulsionada pela criação de gado, oficina de carne e extração de sal.
Foi exatamente nessa propriedade de Antônio Machado que, em 1872, a capela de Santa Luzia foi erguida, com ajuda do padre José dos Santos da Costa. A capela da padroeira é o marco inicial para o surgimento da cidade. Por quase 70 anos, a capela pertenceu ao município de Apodi. Somente em 1842 houve a desvinculação e a capela ganhou posição de matriz.
O proprietário da “Fazenda Santa Luzia”, sargento-mor Antônio de Souza Machado, português residente em Russas (CE), requereu ao visitador diocesano de Olinda (PE), padre Inácio de Araújo Gondim, de passagem por Aracati (CE), autorização para erguer uma capela em homenagem à Virgem de Siracusa. Fazia cumprir uma promessa de sua esposa, dona Rosa Fernandes, no qual foi atendido, em sua petição com data de 5 de agosto de 1772.
Existia, porém, uma condição: que o templo fosse construído em pedra e cal e houvesse um patrimônio em terra doado à Santa. Exigências aceitas e providências tomadas, em janeiro de 1773 a capela estava pronta, construída com os cruzados de Souza Machado e o auxílio dos devotos circunvizinhos, no local onde hoje se encontra a Catedral de Santa Luzia, mas sem a imagem da Santa.
Até que em 1779, dona Rosa Fernandes trouxe de Portugal uma imagem de Santa Luzia, de madeira, adquirida pelo valor de 15$600. É a que até hoje é conduzida nas procissões e peregrinações.
Poema
* Eliete Gurgel de Medeiros
Na festa de Santa Luzia
No tem tempo de criança
Só se cantava o Hino Oficial
Sobrando tanta esperança
Fora da igreja, barracas
Pé de moleque, café broas
Fogos naquelas alturas
Cancioneiros e loas
Passando a ponte e o rio
Vinham fiéis a pé
Rogarem a Santa Luzia
Com terços e muita fé
Lá dentro da Catedral
O padre a recomendar
A Santa Luzia seus filhos
Melhor futuro alcançar
Aperta a saudade, mas lembro
Desde os chinelos, cabeças com véus
Das vozes rouquenhas e fracas
Dos quantos já estão nos céus
Observando os compridos olhares
Das crianças que nos mistos subiam
Deixando os rói-róis, pipocas e jujús
Sob o sol que pelo ralo toldo os protegia...
* Eliete Gurgel de Medeiros é mossoroense, filha de José Minan de Medeiros e Jandyra Gurgel de Medeiros. Estudou no Grupo Escola 30 de Setembro e desde 1972 reside em Natal/RN.
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