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Postado às 11h15 | 15 Fev 2021 | Redação Gargalos prejudicam escoamento da produção do sal marinho potiguar

Os principais gargalos são concorrência desleal, tabelamento do frete, portos inadequados e falta de matéria-prima para a produção de embalagens. Os moageiros da região de Mossoró reclamam da falta de apoio e de política de defesa do sal potiguar

Crédito da foto: Arquivo Indústria salineira do Rio Grande do Norte tem alta produção

Por Amina Costa - Repórter do JORNAL DE FATO

O estado do Rio Grande do Norte vem sofrendo há pelo menos oito anos com o histórico de seca, devido à baixa quantidade de chuvas durante o ano. Embora a falta de chuvas seja um fator que, de certa forma, beneficia a produção de sal marinho no estado, o aumento desta produção vem sendo prejudicada por uma série de fatores que incluem aumento do frete, falta de manutenção de portos e falta de matéria-prima para a produção de embalagens.

O diretor executivo do Sindicato da Indústria de Moagem e Refino de Sal do Estado do Rio Grande do Norte (SIMORSAL/RN), Renato Fernandes, falou sobre alguns destes fatores, que têm prejudicado o desempenho da indústria salineira do estado. Um dos problemas elencados por Renato Fernandes diz respeito à embalagem dos produtos. Atualmente, devido à dificuldade de conseguir matéria-prima para a produção das embalagens plásticas.

“A indústria salineira trabalha basicamente com dois tipos de embalagem. Majoritariamente, algo em torno 80% a 90% é com o plástico e o restante é com papelão. A matéria-prima do plástico é o polietileno e esse produto está em falta no mercado há aproximadamente quatro ou cinco meses. Se fazemos um pedido ao fornecedor de 1 milhão de quilos de sacos, ele informa que só pode entregar 400 mil, ou seja, 40% do pedido. Isso faz com que a gente tenha que ter uma negociação muito forte, um controle muito rígido nessa questão e isso tem preocupado a indústria. Isso é preocupante e desgastante, porque é um conflito constante entre cliente e fornecedor. Tanto da nossa parte para com o fornecedor plástico como da nossa parte para o cliente de sal.”, explica Renato Fernandes.

Além deste gargalo, o gerente executivo do Simorsal informa que a indústria salineira convive ainda com a concorrência desleal com o sal do Chile, com a alta carga tributária e com a ausência de uma linha de cabotagem. Cabotagem é o transporte feito na costa brasileira, sem ser navegação de longo curto curso para outros estados do mesmo país. Com os problemas no porto de Natal, essa rota vem sendo feita pelo estado do Ceará, fazendo com que o RN perca em impostos e benefícios. 

“Há muito tempo nós estamos vindo trabalhando com o intuito de implantar uma linha de cabotagem no porto de Natal. Nós utilizamos hoje pra fazer cabotagem de contêiner pra abastecer os portos do sul os portos do Ceará, mais precisamente em Pecém e Mucuripe. Porque o frete rodoviário que leva o nosso contêiner de Mossoró até Fortaleza é praticamente o mesmo custo de que se nós utilizássemos o Porto de Natal. Infelizmente, quem perde é o Rio Grande do Norte, já que todos os impostos com combustíveis vão para o Ceará. Queríamos que estes impostos ficassem no nosso estado, uma vez que o RN produz 97% de todo o sal brasileiro”, informa.

“É preciso que haja um volume de carga significativa pra que a gente possa movimentar esse porto. Hoje, o porto de Natal praticamente só movimenta cargas internacionais com a fruta e o pescado, com base, principalmente, no atum. E agora vão implantar em definitivo o terminal pesqueiro de Natal. Então, uma parte vai sair lá do porto, vai ficar só praticamente a fruticultura. Então, nós necessitamos dessa linha de cabotagem. É preciso que nós tenhamos um volume de carga significativa para justificar a atracação desse navio”, complementou.

Além do porto de Natal, Renato Fernandes informa ainda problemas estruturais no Porto Ilha, em Areia Branca, que poderia ser a principal rota de escoamento da produção, caso passasse por uma reforma estrutural. “Um porto já é utilizado, onde nós movimentamos aproximadamente 2,5 milhões de toneladas, é o terminal salineiro de Areia Branca, que é um terminal pra sal a granel, tanto para a indústria química brasileira como pra exportação. Mas é um terminal que carece hoje de manutenção, e uma manutenção considerável. Precisamos reformar algumas coisas, precisamos melhorar a estrutura, precisamos criar espaços para mais barcaças. Hoje o movimento é um pouco travado pela limitação que o terminal nos impõe”, informa.

A indústria salineira no Rio Grande do Norte data de 1605. O estado movimenta hoje R$ 1 bilhão por ano na economia. São pagos R$ 150 milhões em impostos, gerando mais de 15 mil empregos diretos e mais de 75 mil empregos indiretos. Circulam diariamente pelos dois polos salineiros do estado 450 carretas por dia. “O sal, produto que está presente em 14 mil processos produtivos, desde o rímel, batom, xampu, condicionador, desinfetante, detergente, tintura, entre outros. Estamos presente em tudo, no vidro, no plástico, no PVC. Então, é um produto que nós, norte-rio-grandenses, temos que nos orgulhar”, conclui Renato Fernandes.

Aumento do preço do frete prejudica transporte de sal marinho

Há alguns meses, o Governo está impondo ao transporte rodoviário trabalhar sobre uma tabela de preços fixa, baseada na quilometragem percorrida da indústria até o cliente, bem como em relação à quantidade de eixos que o transporte tem. Esse tabelamento aumentou o preço do frete em 100% e até 200%, dependendo da situação.

Renato Fernandes, diretor executivo da Simorsal informou que este tem sido mais um gargalo que tem dificultado o escoamento da produção de sal marinho. Pelo fato de o sal do RN ser o maior polo de emissão de cargas do Brasil, o gerente executivo acredita que o tabelamento seja um tiro no pé dos próprios caminhoneiros.

“Creio que a pressão dos caminhoneiros para manter o tabelamento do preço do frete foi um tiro no pé, porque o nosso frete era um frete de retorno. O frete sul/ norte é muito caro. Nós pagamos quase cinquenta por cento a mais do que quando enviamos o mesmo produto daqui pra lá. O frete principalmente de Mossoró é principalmente o sal. Nós distribuímos sal para todo o Brasil, 97% do sal é do RN”, explica.

Ele comenta que, com o aumento do frete, não foi possível repassar o reajuste para muitos clientes, fato que provocou o aprisionamento de caminhoneiros na cidade. “Quando o frete ficou por quilômetro rodado e por eixo do transporte, houve um aumento em certos casos 200%, e a gente não conseguiu passar isso para o cliente. E muitas vezes os caminhoneiros ficaram aqui presos porque não tinha frete de retorno, frete pra voltar. O sal é um produto de baixo valor agregado, não se conseguiu transportar para o consumidor, para o cliente essa majoração. Então, esse foi o grande dano causado por esse frete por tabelamento. E a coisa mais estranha, porque a gente sabe que tabelamento é ilegal”, indaga.

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