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Postado às 12h30 | 28 Fev 2021 | Redação Professores tendem a enfrentar problemas psicológicos durante a pandemia

Crédito da foto: Ilustração Professores tiveram que se adaptar ao trabalho híbrido

Por Amina Costa - Repórter do JORNAL DE FATO

A pandemia impôs muitas mudanças na rotina dos trabalhadores, uma vez que muitos tiveram que se adaptar ao formato home office, como forma de prevenção do contágio. Os professores, além de terem a rotina totalmente alterada, ainda tiveram que lidar com uma produção de conteúdos completamente diferente do que era praticado em sala de aula.

As aulas remotas foram um verdadeiro desafio para os professores, que tiveram pouco tempo para se adaptar ao meio on-line como forma de propagação do conteúdo. Com o retorno presencial em muitas escolas e a adoção do formato híbrido (aulas presenciais e remotas), os professores tendem a ter a elevação da carga horária, diante do planejamento e execução de duas modalidades de ensino, prejudicando-se bastante no aspecto físico e psicológico.

A psicóloga Carla Janaína explica que as mudanças impostas pela pandemia na rotina dos professores podem afetar a saúde mental desses profissionais. Ela informa ainda que é necessário que os gestores das escolas estejam atentos aos efeitos desse período de pandemia junto ao corpo docente, uma vez que são grandes os impactos do ensino remoto no dia a dia das aulas e a nova dinâmica pedagógica que o formato híbrido exige.

“A rotina diária de um professor é bastante desafiadora, e por vezes, exaustiva. Quem pensa que o trabalho do professor se encerra quando ele termina o seu turno de trabalho está bastante equivocado. Este e outros fatores podem afetar a saúde mental dos professores que se sentem extremamente exigidos pela sociedade, pela escola, pelas famílias de seus alunos, pelos próprios alunos e por eles mesmos, que querem realizar um trabalho de qualidade. Caso esses excessos não venham acompanhados de um suporte consistente da escola podem tornar-se extremamente pesados, acarretando problemas de saúde como estresse e depressão, para citar apenas dois”, informa a psicóloga.

O fato é que, com a mudança repentina para as aulas remotas e a necessidade de lidar com um cenário totalmente novo e com novas tecnologias, muitos professores sentiram piora na saúde mental. De acordo com a psicóloga Carla Janaína, tudo que é novo desacomoda e inquieta até se tornar conhecido. E devido à pandemia tudo teve que acontecer sem muito planejamento, o que gera ainda mais desconforto.

Somada a todas as questões desafiadoras já sabidas, os professores tiveram que dar conta também de uma mudança drástica na sua prática de sala de aula. A maioria sequer havia recebido formação para trabalhar remotamente, muitos nem acesso à internet de qualidade tinham e outros nem as ferramentas necessárias. Tudo isso contribuiu para o aumento do estresse. A sala de aula passou a acontecer na casa de cada um, com muitas diferenças quanto à recepção e à percepção de cada aluno quanto ao novo modo de trabalho.

Assim como ocorreu em muitos locais, em Mossoró, diversas escolas adotaram o ensino híbrido, com aulas remotas e presenciais. Esta mudança também afetou bastante os professores, principalmente da rede privada (que já retomaram as aulas neste formato), a ponto deles temerem não apenas pela contaminação do vírus, mas também pelo aumento da carga de trabalho.

Todas essas mudanças são ainda muito recentes. Mas, uma vez que nem todos os alunos estarão presentes na escola, é possível que o professor precise elaborar um planejamento diferenciado para o grupo que estiver em casa. De uma maneira ou de outra, existe uma mudança radical em relação à proposta de ensino tradicional e tudo caminha cada vez mais para que o ensino seja personalizado. Como toda e qualquer mudança é preciso tempo, paciência e investimento na formação do professor para que ele possa abraçar esse novo lugar com propriedade e confiança”, conclui a psicóloga.

Formato híbrido tem causado exaustão em professores

O retorno gradativo das aulas presenciais vem ocorrendo desde o ano passado, quando escolas da rede privada foram autorizadas a retomar com suas atividades. Desde então, os pais e responsáveis puderam optar por voltar a inserir seus filhos nas escolas ou continuar mantendo-os no ensino remoto. Com isso, professores, que já tinham se adaptado ao ensino remoto, acabaram tendo que acumular funções para manter o planejamento e execução dos dois formatos de aula.

Ana Clara é professora em duas escolas da rede privada e informa que tem encontrado dificuldade para manter a rotina de aulas, uma vez que precisa ministrar os conteúdos nas duas modalidades de ensino. “Já foi muito difícil me adaptar ao ensino remoto, porque tudo ocorreu de forma rápida, só tivemos que iniciar as aulas e pronto. Agora, com o retorno presencial, a gente continua mantendo os conteúdos das aulas on-line e também temos que planejar a aula presencial, que são duas formas de ministrar o conteúdo totalmente diferentes uma da outra”, informou.

Ela disse ainda que, além da exaustão física, porque trabalha todos os expedientes do dia (manhã e tarde nas escolas e à noite no planejamento de aulas e elaboração de vídeos), está com o psicológico abalado demais, por não ter descanso, nem nos dias que deveria ter. “Os trabalhadores formais descansam aos finais de semana, mas não tenho esse privilegio porque é nos finais de semana que eu aproveito para organizar os vídeos, separar conteúdos e adiantar os planejamentos. Ou seja, eu não estou tendo descanso”, informou.

De acordo com a psicóloga Carla Janaína, os professores precisam ficar atentos aos sinais de estresse que o corpo dá, diante da sobrecarga de trabalho. Ela entende que os professores ocupam um lugar de extremo valor dentro da sociedade que, apesar de pouco reconhecido e valorizado atualmente, é de bastante responsabilidade e extremamente exigido.

“Vivemos um momento em que todos os olhares se voltam para eles, como se estivesse apenas nas suas mãos a solução para os problemas gerados pela pandemia. Para não cair na cilada do herói, é importante que os professores entendam que são primeiramente humanos e que por isso, podem direcionar para si mesmos o olhar generoso que direcionam para os seus alunos, respeitando assim, os seus próprios limites”, informa.

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