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Postado às 11h15 | 28 Mar 2021 | Redação Há um ano era registrada a primeira morte por Covid no RN: professor da Uern foi a vítima

O professor doutor Luiz di Souza, 61, do Departamento de Química, da Faculdade de Ciências Exatas e Naturais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), tinha 61 anos. A morte ocorreu em Mossoró. Veja o avanço da pandemia em um ano

Crédito da foto: Reprodução Professor doutor Luiz di Souza morreu aos 61 anos

Por César Santos - JORNAL DE FATO

Há exato um ano era confirmada a primeira morte pelo novo coronavírus no Rio Grande Norte. A vítima: professor doutor Luiz di Souza, 61, do Departamento de Química, da Faculdade de Ciências Exatas e Naturais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). A morte ocorreu em Mossoró, segunda maior cidade do RN, distante 265 quilômetros da capital Natal, no dia 28 de março de 2020.

Di Souza era diabético, doença crônica que aumenta os riscos diante da Covid-19. Ele não havia viajado ao exterior nem a nenhum estado com maior circulação do vírus. A desconfiança foi de que a transmissão ocorreu dentro do ambiente de trabalho, uma vez que uma professora também se infectou com o novo coronavírus, após reunião que Di Souza participou.

A confirmação da primeira vítima fatal abalou e, ao mesmo tempo, assustou Mossoró e o Rio Grande do Norte. Naquele momento, ainda era tudo muito recente sobre a doença. Fazia apenas 17 dias que a Organização Mundial de Saúde (OMS) havia elevado o estado da contaminação à pandemia da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2).

Naquele 28 de março, a cidade de Mossoró tinha apenas cinco casos confirmados da doença, dos 28 pacientes em todo o estado. O RN contava 1.176 casos suspeitos distribuídos em 94 municípios, e 282 casos descartados.

A situação ainda estava sob controle, embora o Governo do Estado já tivesse editado o primeiro decreto com medidas restritivas. Foi o decreto 29.524, de 17 de março de 2020, que suspendeu as aulas presenciais nas redes pública e privada, além de atividades coletivas como eventos de massa, shows, atividades desportivas e congêneres, com a presença de público superior a 100 (cem) pessoas, sejam públicos ou privados, ainda que previamente autorizados.

A partir daí, a situação foi se agravando em velocidade assustadora. No dia 28 de abril, um mês após a morte do professor Di Souza, o JORNAL DE FATO noticiou em sua capa que o Rio Grande do Norte registrava 45 óbitos pela Covid-19, 832 casos confirmados e 4.122 casos suspeitos. Mossoró, nesses 30 dias, subiu de uma para 11 mortes. E o Brasil registrava naquele dia 338 mortes em 24 horas, subindo para 4.543 óbitos.

Um ano depois, o inimigo invisível se apresenta ainda mais agressiva e o Brasil vive o pior momento desde o início da pandemia. Nesta sexta-feira, 26, quando a reportagem estava sendo editada, o País bateu novo recorde e registrou 3.650 mortes por Covid-19 em 24 horas, de acordo com o levantamento do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS).

Com a atualização, o Brasil chegou a 307.112 vítimas da doença na sexta-feira. Também foram confirmados mais 84.245 casos, totalizando 12.404.414 desde o início da pandemia.

No Rio Grande do Norte, até sexta-feira, já eram 4.354 mortes, com mais de 340 em Mossoró. O número de pessoas infectadas chegou a 191.752 caos confirmados, sendo15.942 mil em Mossoró.

 

CONFINAMENTO

A pandemia afetou a vida das pessoas de todas as formas. Mudou hábitos, comportamentos, está levando empresas à falência e jogando famílias inteiras à pobreza, por força de medidas restritivas que fecham todas as atividades coletivas consideradas “não essenciais”.

O Rio Grande do Norte vive a segunda fase de confinamento social radical. Desde o dia 20, todas as atividades coletivas estão suspensas, exceto as que são consideradas essenciais. Os segmentos produtivos funcionam parcialmente, com prejuízos enormes principalmente ao comércio, serviços e turismo. Por gravidade, a escalada do desemprego e da miséria tornou-se crescente.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), a taxa de desocupação no RN subiu degraus em 2020, chegando a 15,8%, acima da média nacional que foi de 13,5%. A perspectiva não é das melhores para 2021, embora o governo brasileiro acredite que a economia vai retomar o seu rumo a partir do segundo semestre do ano, quando considerável parcela dos brasileiros estará vacinada contra a Covid-19.

No entanto, as incertezas castigam a população, sob os aspectos da saúde e da economia. Há uma esperança de que a imunização ganhará ritmo acelerado na medida em que os lotes de vacinas estão sendo repassados com maior frequência pelos laboratórios, a partir da produção nacional do Instituto Butantan (CoronaVac) e Fiocruz (Oxford/AstraZeneca). Por consequência, acredita-se que o avanço da vacinação permitirá a reabertura completa da economia.

Enquanto isso não acontece, a população está presa dentro de casa, esperando por um milagre de Deus.

Doutor da Educação e homem generoso

Luiz di Souza tinha 61 anos, casado com Dona Margareth, e dois filhos: Maria Paula e Kassyo; e uma neta. Homem de rara inteligência, um cientista nato. As qualidades de doutor da Educação eram inegáveis. Mas também era um homem bondoso, de coração enorme, disposto a ajudar a quem precisasse. Do próprio bolso, Di Souza pagava cursos e eventos de seus alunos mais carentes.

Di Souza nasceu em Alagoas, mas dias depois se mudou com a família para Aparecida, em São Paulo. Tinha graduação em Engenharia Industrial Química pela Faculdade de Engenharia Química de Lorena (1987), Mestrado (1992) e Doutorado (1996) em Ciência e Engenharia dos Materiais pela Universidade Federal de São Carlos e Pós-doutorado em Catálise Bioquímica pela EEL-USP.  Ele viveu intensamente a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) por 20 anos, lotado no Departamento de Química, e fazia parte do corpo efetivo do Programa de Pós-graduação em Ciências Naturais (PPGCN/Uern).

A sua paixão por Química ganhou vida na comunidade acadêmica. Ele coordenava um grupo de alunos de diversos anos da faculdade que se apresentava com histórias teatrais em escolas públicas, o “Fanático da Química”, numa forma lúdica de apresentar a disciplina para crianças.

Di Souza estava sempre à disposição em seu laboratório para ajudar na disciplina dele ou de outros. “No decorrer do curso, foi se tornando um pai para todos nós”, afirmou a ex-estudante Ronale Azevedo, 30.

A professora doutora Kelânia Mesquita, também do departamento de química da Uern, conta que, para ajudar os alunos pobres do curso, Souza inventava uma bolsa que o aluno receberia, mas que, na verdade, era paga por ele, muitas vezes, secretamente. “Era um profissional competente e exigente, ao mesmo tempo que era acolhedor”, diz.

 

Uern reconhece Luiz di Souza com Título Doutor Honoris Causa

O professor doutor Luiz di Souza recebeu o Título Honorífico Doutor Honoris Causa, o mais importante concedido pela Universidade. A homenagem póstuma foi entregue na tradicional Assembleia Universitária, em setembro de 2020, dentro da celebração de aniversário da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

A indicação foi do Gabinete da Reitoria. Em sua defesa, o reitor Pedro Fernandes destacou a dedicação de Luiz di Souza à Universidade, à Ciência e a seus alunos. “Luiz foi um gigante. Sua vaidade era publicar, trabalhar, ensinar, ajudar e orientar seus alunos. Já fazia experimentos e publicava suas pesquisas em uma época em que não tínhamos um só reagente”, destacou Fernandes. “Seu trabalho extrapolou a Universidade, que rende suas homenagens a este grande educador”, reconheceu, emocionado, durante a votação do nome do professor para a concessão do título.

O diretor da Faculdade de Ciências Exatas e Naturais, Lima Júnior, também foi tomado pela emoção, assim como outros professores e técnicos administrativos que conviveram com o professor Luiz di Souza. Para Lima, uma homenagem cheia de simbolismo neste ano marcado pela tragédia da pandemia do novo coronavírus.

“O professor Luiz tem um histórico impactante tanto na pesquisa como no ensino à arte, no seu papel como professor e como pessoa. Ele tinha sido indicado em várias categorias, por outras unidades, e os colegas reconheceram a necessidade e a importância de homenageá-lo neste ano. Ficamos muito felizes e emocionados com esta homenagem”, afirmou.

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