Edinaldo Moreno/Da Redação
O professor da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) e pesquisador da área da salinicultura, Rogério Taygra, lançou o livro “O fantástico mundo do SAL”, que conta a história de um garoto de 10 anos que se mostra curioso em saber como é feito o sal. A obra é direcionada para o público de 08 a 12 anos.
A história infantil retrata para a garotada a importância de uma das atividades econômicas mais importantes do Rio Grande do Norte. A salinicultura é secular no estado e sempre foi vista como algo de “gente grande”.
O JORNAL DE FATO conversou com o autor do livro sobre a importância de destacar a produção salineira para um público que está iniciando a leitura. Rogério Taygra ressalta que desde a graduação desenvolve atividades relacionadas à produção de sal e que o que chama a atenção dele é o desconhecimento da atividade na região.
“Uma coisa que sempre me chamou a atenção nesse aspecto é o quão desconhecida essa atividade pelas próprias pessoas da região, embora nós tenhamos a totalidade das áreas produtivas do país aqui. Isso me chamava a atenção. Eu trabalhei um tempo com o setor salineiro e era muito comum receber visita de pessoas de fora, desde escolas até turistas que estavam pela região e queriam conhecer a atividade e quase nunca eu via as pessoas do próprio estado indo e isso me chamou muita atenção. Desde criança que eu entro de salina em salina e sempre me causou encantamento a produção do sal. Esse foi o ponto de partida para se pensar nessa divulgação”.
O professor da Ufersa disse que costuma levar sua filha que tem sete anos e seu irmão bem mais novo para acompanhar de perto a produção. Rogério revela que gosta da reação da filha e do irmão quando estão no local.
“Venho trabalhando com essa parte de divulgar a atividade e a cultura salineira. Sou pai também. Tenho uma filha de sete anos e um irmão bem mais novo e sempre que tenho a oportunidade os levo para conhecerem a salina. Sempre gostei de ver a reação deles quando estavam naquele local, deles entenderem aquilo, como funciona, vê aquelas pilhas de sal gigantes, vê o sistema que se forma ali, lagoas gigantes onde se tem peixe, crustáceos, uma infinidade de vida”.
Para ele, a valorização da cultura do sal na nossa região passa necessariamente em abordar o assunto com as crianças para que elas obtenham o hábito de procurar estar mais próximo e valorizar o produto que é fabricado em terras potiguares.
“Se a gente quer mudar essa realidade de valorizar nossa própria atividade, nossa cultura eu não posso ficar só na produção de artigos científicos, livros técnicos que são importantes sim, obviamente, mas que a gente tem de começar isso desde a base. Nós temos que começar a criar nas nossas crianças a ideia de valorização da atividade, porque isso faz parte da nossa cultura. Estamos falando de uma atividade que se desenvolve aqui na região desde o período da colonização portuguesa”.
Para ajudar nessa missão, o menino vai contar com a ajuda de uma garça branca. A ave será a guia do garoto nessa aventura “salgada”. Segundo o autor, o livro tem o objetivo de fazer um resgate histórico da atividade salineira e passar lições de educação ambiental para as crianças a partir deste setor.
“A história gira em torno de uma criança curiosa por volta dos seus dez anos. Ela fica curiosa para entender o que é aquilo dentro do saleiro e fica curiosa para entender como se produz o sal. Esse é o ponto de partida dessa jornada. Ela encontra o dia que vai entender de onde surge o sal, seu aspecto natural e como é que o sal entra dentro da água e depois como ele é retirado de lá. Esse guia vai levando ele por uma viagem, tanto no espaço por várias regiões do mundo mostrando essa atividade e também no tempo. É uma viagem mágica trazendo todas as informações importantes dessa atividade”.
Rogério Taygra disse também que foi um desafio escrever pela primeira vez uma história infantil sem perder a contextualização da produção de sal. Ele diz ainda que tem desejo que a obra seja adotada pela rede pública de ensino.
“Foi um desafio de escrever pela primeira vez na forma mais lúdica, mais fantasiosa, mas sem perder a fundamentação dos aspectos históricos e técnicos da atividade. Esse foi o cerne, aliado obviamente a uma ilustração muito bem feita e bela que prende a atenção do leitor. Meu desejo é que esse livro seja adotado pelas escolas da rede pública e privada do estado, e que isso sirva como ponto de partida para o reconhecimento dessa atividade”, destaca.
O livro “O fantástico mundo do SAL” ficará disponível em breve nas livrarias de toda a região. “A nossa proposta é que este livro chegue às crianças de nosso estado para que elas entendam dessa atividade de forma lúdica e didática”, comentou Taygra. A assinatura da obra é da Editora Timbú com ilustrações de Carlos Varejão.
Professor é coordenador de projeto que pretende regularizar salinas artesanais
O professor Rogério Taygra é coordenador do projeto Ekosal. A iniciativa objetiva promover a regularização ambiental das salinas artesanais do Rio Grande do Norte. De acordo com Taygra, atualmente existem menos de 200 salinas artesanais no Rio Grande do Norte, localizadas, em sua quase totalidade, no município de Grossos. A produção artesanal de sal marinho é uma das atividades mais antigas e tradicionais do Brasil.
“Essas salinas preservam a forma tradicional de produção do sal marinho, tal qual era realizada há mais de 400 anos, usando cata-ventos para captação de água do mar e colhendo o sal com pás e carros de mão. A produção artesanal de sal é um patrimônio histórico e cultural do estado e do país”, comentou Taygra.
O pesquisador destaca que o projeto tem o objeto semelhante ao próprio livro direcionado ao público infantil, que é sempre pela valorização da atividade salineira, mas com uma abordagem um pouco diferente. Ele destaca que uma das formas de produzir sal que existe aqui na região é a produção artesanal de sal.
“A gente conhece muita produção de sal mecanizada e pouca gente sabe também que existe ainda parte da produção que é feita da maneira que se fazia no período da colonização portuguesa, que é aquela produção de carro de mão. Essa atividade corre um sério risco de desaparecer e dentre os desafios dessa atividade está a regularização ambiental. Como qualquer outra atividade econômica que utilize recursos naturais, a produção artesanal de sal também necessita de licenciamento ambiental”.
Os salineiros artesanais encontram cada vez menos estímulos para continuar com a atividade. Além das dificuldades econômicas, a atividade sofre ainda com a insegurança jurídica advinda da falta de licenciamento ambiental das unidades produtivas, a qual pode, inclusive, provocar seu fechamento. Rodrigo Taygra revela que o licenciamento é um processo complexo e muitas vezes caro para o produtor fazer e que o pequeno salineiro não tem condições de fazer isso por diversos motivos.
O licenciamento ambiental é o primeiro passo para garantir a continuidade da atividade, uma vez que a partir do licenciamento ambiental, os salineiros artesanais, além de poderem continuar o ofício de forma legal, sem o risco de embargo das áreas, poderão acessar mercados mais exigentes (com melhor retorno econômico) e ter acesso a linhas de crédito junto às instituições financeiras, reivindicação antiga dos produtores.
A salinicultura nacional está concentrada majoritariamente no litoral setentrional do Rio Grande do Norte, resultado da combinação de condições climáticas, geográficas e ambientais dessa região, as quais favorecem a formação de salinas naturais.
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