Para fazer propaganda que o município estava batendo 'recorde' de imunização, o prefeito mandou a Secretaria de Saúde usar o estoque da segunda dose da CoronaVac na primeira fase. Neste fim de semana, faltou a segunda dose para centenas de idosos
Filas, reclamações, revolta, humilhação.
Este foi o cenário nos locais de vacinação contra a Covid-19 no fim de semana. O município não tinha estoque para aplicar a segunda dose do imunizante CoronaVac.
O quadro se agravou ainda mais no domingo (25), quando os idosos que saíram de casa às 3h, madrugaram em filas, e retornaram sem a segunda dose.
A partir daí, começou o jogo de empurra. O município transferiu a culpa para o Governo do RN, sendo devidamente combatido em nota oficial divulgada pela Secretaria de Saúde Pública do Estado (SESAP/RN).
Afinal de contas, o que aconteceu para faltar a segunda dose da CoronaVac?
Resposta simples e direta: faltou planejamento da gestão municipal.
Veja o que aconteceu: o município utilizou as reservas para a segunda dose para aplicar a primeira dose em outros grupos de menor idade e, por gravidade, passar a mensagem que a campanha de vacinação em Mossoró estava mais avançada do que no restante do Rio Grande do Norte. E, consequentemente, apostava em maiores quantidades de repasses das vacinas pelo Ministério da Saúde, o que não ocorreu em razão do Instituto Butantan ter atrasado a produção da CoronaVac por falta de insumos.
O prefeito Allyson Bezerra (Solidariedade) fez live, propaganda, usou as redes sociais, para dizer que a sua gestão era competente por avançar a vacinação, Incusive, visitando os locais de imunização, de onde fazia as gravações de vídeo e pousava para foto.
Neste fim de semana, o prefeito não apareceu nas UBSs. Optou pela zona rural, bem distante das filas, do castigo e da humilhação aos idosos. Ele sabia do grave problema, por isso, a fuga para bem longe.
Poderia ter evitado com planejamento, uma vez que o alerta surgiu no início de abril, quando a Sesap/RN fez repassou de imunizante orientando para a manutenção do estoque para a segunda dose da CoronaVa, mas o município ignorou.
Veja essa sequência:
- No dia 1º de abril, Sexta-feira Santa, não tinha mais vacinas para a primeira dose;
- No mesmo dia, 1º de abril, chegaram 13.400 doses, mas segundo nota técnica da Sesap/RN, apenas 440 vacinas para primeira dose;
- No final de semana da Semana Santa, 02 e 03 de abril, a Prefeitura de Mossoró aplicou 2.960 doses na primeira fase, inclusive, com publicidade nos endereços eletrônicos e nas redes sociais do município. Veja abaixo:
A gestão municipal errou quando usou na primeira fase da vacinação 2.296 doses destinadas à segunda fase. A mesma falha que a Prefeitura de Natal cometeu e também teve que suspender a aplicação da segunda dose por falta de imunizantes.
Não é justo, portanto, o município transferir responsabilidade para o Governo do Estado. Aliás, a gestão estadual está cumprindo o que determina o Plano Nacional de imunização (PNI), repassando os lotes de vacinas para os municípios dentro das regras estabelecidas.
O fato é que a gestão de Allyson Bezerra tem cometido seguidos erros na campanha de vacinação. Veja:
- O prefeito resistiu abrir as unidades de saúde para vacinar nos fins de semana, só o fez por cobrança e pressão da imprensa livre;
- Teve o furto de 20 doses de vacinas da UBs do bairro Belo Horizonte, que está prestes a completar um mês, sem uma explicação ou resposta oficial;
- O município de Mossoró ainda aparece com grande número de “perda técnica” de doses de vacinas, conforme mostra a plataforma RN + Vacina. São mais de 1.100 doses perdidas. Veja reprodução abaixo:
- Logo no início da campanha de vacinação contra a Covid-19, em fevereiro, a gestão municipal castigou os idosos, quando anunciou a vacinação sem ter como atender a demanda. O que se viu foi filas imensas, aglomerações, pessoas de 80 anos ou mais sentadas no chão (veja foto abaixo) e a maioria voltando para casa sem receber a dose da vacina.
São erros que expõem a gestão municipal, por inexperiência, despreparo ou incompetência mesmo.
O fato é que a população mossoroense, notadamente as pessoas idosas, estão pagando uma conta que não é deles, e neste momento não sabem como e quando vão estar imunizados contra a Covid-19.
Infelizmente.
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