Por Amina Costa / repórter do JORNAL DE FATO
Atualmente, o Brasil tem o maior sistema público de transplantes de órgãos no mundo, no qual aproximadamente 95% dos procedimentos e cirurgias são feitos com recursos do SUS. No entanto, para que mais transplantes ocorram e um número maior de vidas sejam salvas, é necessário conscientizar a população sobre a importância de ser um doador e, sobretudo, informar esta decisão à família.
O Setembro Verde vem atuar neste objetivo, por meio de ações informativas e de conscientizações que ocorrem durante todo o mês. As ações seguem até o final do mês, mas nesta segunda-feira, 27, quando é celebrado o Dia Nacional da Doação de Órgãos, haverá uma programação especial, promovida pela Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) do Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM).
Em todo o ano de 2021, o Hospital Tarcísio Maia realizou quatro captações de órgãos. A última ocorreu nesta semana, após ser confirmada a morte encefálica de um homem, residente da cidade de Grossos. Após a autorização da doação de órgãos, feita pela família, foram retirados os rins e o fígado, que foram encaminhados para Natal e Recife, para serem transplantados em pacientes que aguardavam na fila de espera.
O trabalho desenvolvido pela CIHDOTT é voltado para a conscientização e para o acolhimento e orientação da família sobre a doação de órgãos. “O HRTM possui uma CIHDOTT, a qual foi reconstituída em 02 de julho de 2016. É composta por uma equipe multidisciplinar e seus membros são responsáveis por fazer busca ativa de pacientes graves, que possam ser potenciais doadores, bem como articular-se com os profissionais do Hospital e demais Órgãos competentes, além de acompanhar, orientar os familiares e realizar abordagem sobre doação de órgãos (após a conclusão do diagnóstico de Morte Encefálica); organizar toda a logística para a realização de captação de órgãos dentro da Instituição. A CIHDOTT ainda desenvolve atividades educativas para a comunidade sobre a temática”, explica Telma Belém.
A assistente social esclarece que a morte encefálica é fundamental no processo de doação de órgãos e representa a parada de todas as funções do cérebro, sendo assim, é um diagnóstico permanente e irreversível. Ela informa ainda que a morte encefálica é comprovada por meio de três testes, realizados em intervalos de tempo determinados pela faixa etária do paciente.
“Alguns órgãos necessitam ser retirados antes da parada cardíaca para poder viabilizar o transplante. Para que não ocorram dúvidas, o diagnóstico somente é confirmado após a realização do Protocolo Nacional de Morte Encefálica, composto por 03 exames, dos quais, 02 exames clínicos, feitos por médicos diferentes, em intervalos de tempo determinados de acordo com a faixa etária do paciente e 01 exame complementar (no HRTM é realizado um Eletroencefalograma), que confirme a inexistência total de atividade cerebral”, explica.
Após a confirmação da perda das funções do cérebro, a equipe capacitada da CIHDOTT realiza uma entrevista com a família, para saber se os seus membros são favoráveis à doação dos órgãos do seu ente querido. A assistente social enfatiza que autonomia da família é totalmente respeitada.
“Desde 2001, no Brasil, a doação de órgãos somente é possível com o consentimento familiar, então é importante que as pessoas conversem sobre o assunto em família, informando sobre o seu desejo em ser doador. Infelizmente, esse assunto ainda é pouco discutido, por esse motivo enfatizamos a importância de campanhas educativas que esclareçam e estimulem a população a discutir a temática doação de órgãos, excluindo alguns tabus ainda existentes”, informa a assistente social.
Atualmente, no HRTM podem ser captados até seis órgãos, dependendo das boas condições deles. São eles: 2 rins, 2 córneas, 1 fígado, 1 coração, podendo beneficiar até seis pessoas, que aguardam em uma fila de espera, por um órgão para sobreviver. Telma Belém informou ainda que toda a logística para a realização dos transplantes é feita pela Central de Transplantes, juntamente com as equipes captadoras e receptoras.
Dia Nacional da Doação de Órgãos terá programação especial
Dentro das ações que são desenvolvidas durante o Setembro Verde, é celebrado neste dia 27 de setembro o Dia nacional da Doação de Órgãos. A data estabelece um dia especial para intensificar as ações e abordar esse assunto, que ainda não é amplamente discutido.
Telma Belém, assistente social da Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) do Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM), informa que, para celebrar a data, será realizada uma panfletagem em frente ao hospital, com o intuito de informar sobre a doação de órgãos e debater sobre o assunto.
“Devido à pandemia, não faremos um evento grande, apenas uma panfletagem no hospital, teremos a presença do coral do hospital e de alguns transplantados. Será um momento de discussão sobre a importância da doação de órgãos”, informou a assistente social.
Durante o mês de setembro, são debatidas com frequência as atividades de incentivo à doação de órgãos. Telma Belém enfatiza sobre a importância de informar à família sobre o desejo de ser um doador de órgãos, uma vez que, ao ser comprovada a morte encefálica, a decisão da doação caberá, exclusivamente aos familiares.
“Destacamos a importância em ampliar o debate sobre o assunto, com o intuito de contribuir para o aumento das doações, através de campanhas que esclareçam e estimulem a população. Além disso, é de extrema relevância que as pessoas manifestem o seu desejo em ser doador de órgãos, discutindo em família a decisão tomada. Portanto, se você tem o desejo de ser doador de órgãos, avise a sua família, pois uma simples conversa pode salvar muitas vidas. Doar órgãos é doar vida. Doe órgãos. Salve vidas!”, conclui.
Entenda como funciona a doação de órgãos no Brasil
Muitas vezes, o transplante de órgãos pode ser única esperança de vida ou a oportunidade de um recomeço para pessoas que precisam de doação. É preciso que a população se conscientize da importância do ato de doar um órgão e informar à sua família que é um doador.
O Brasil é referência mundial na área de transplantes e possui o maior sistema público de transplantes do mundo. Atualmente, cerca de 96% dos procedimentos de todo o País são financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em números absolutos, o Brasil é o 2º maior transplantador do mundo, atrás apenas dos EUA.
Os pacientes recebem assistência integral e gratuita, incluindo exames preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos pós-transplante, pela rede pública de saúde. A doação só poderá ser realizada, no caso de paciente em morte encefálica, se houver autorização de um familiar, como previsto em lei. Se os familiares não autorizarem, a doação não poderá ser realizada.
A morte encefálica é definida como a parada total e irreversível das funções encefálicas, mas que mantêm os batimentos cardíacos e a pressão sanguínea de forma artificial (por meio de aparelhos) e temporária. Nesta condição podem ser doados múltiplos órgãos (coração, pulmão, rins, fígado, pâncreas e intestino) e tecidos (pele, córnea e osso).
Com o consentimento familiar, procede-se a retirada dos órgãos e tecidos doados, que é realizada por equipes treinadas e habilitadas pelo Sistema Nacional de Transplantes. é feita entre os pacientes previamente inscritos por meio de um programa informatizado do Ministério da Saúde (Sistema de Gerenciamento de Lista).
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