Por Amina Costa / Repórter do JORNAL DE FATO
Desde o mês de setembro, os consumidores brasileiros estão sentindo no bolso o aumento da energia elétrica. Esse aumento ocorreu porque a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) criou um novo patamar de bandeira tarifária para as contas de luz de todo o país. A "bandeira tarifária escassez hídrica" custa R$ 14,20 para cada 100 kW/h consumidos.
Na prática, o brasileiro está pagando quase 7% a mais pela conta de luz, e a previsão é de que a nova bandeira permaneça em vigor até 30 de abril de 2022. O reajuste representa um peso ainda maior no orçamento dos brasileiros, que estão tenho que lidar com aumento de outros produtos, como alimentos e combustíveis.
Diante dessa situação, muitas pessoas estão tentando, ao máximo, economizar energia, na tentativa de diminuir o valor da conta, no final do mês. Entre os artifícios utilizados para essa redução, estão ações simples, como trocar lâmpadas comuns por lâmpadas de LED, retirar equipamentos da tomada e reduzir o número de luzes acesas.
A reportagem do JORNAL DE FATO conversou com Daniel Pablo Dantas, professor de Engenharia Elétrica da UnP, engenheiro eletricista e Mestre em Engenharia Elétrica. O professor informa que, muitas dessas atitudes que são feitas pela população na tentativa de reduzir o consumo são eficazes.
“As lâmpadas leds têm, em geral, uma potência menor que as fluorescentes, reduzindo assim o consumo e sendo eficaz realizar a sua troca. Alguns aparelhos como televisões possuem um consumo, mesmo estando desligados, e ao tirar da tomada esse consumo fica zerado. Porém, vale destacar que o consumo, nesses casos, não é equivalente ao da TV ligada”, informa o professor.
O professor Daniel Pablo Dantas falou também que os condicionadores de ar e os chuveiros elétricos são os principais vilões, quando o assunto é consumo de energia. “Uma medida básica de economia é reduzir as horas de uso dos equipamentos, porém é preciso destacar que alguns são mais propensos ao alto consumo. A recomendação é usar o ar condicionado apenas em horários onde o calor seja excessivo, ou para dormir, limitando o uso em 8h diárias. No caso do chuveiro elétrico tomar o banho quente apenas 2 vezes ao dia e evitando a potência máxima do aparelho”, informa.
O aumento da conta de luz é justificado pelo Governo Federal pela crise hídrica que o país vive, uma vez que a grande matriz energética do Brasil são as hidrelétricas. Com a escassez de chuvas, os rios acabam ficando com nível abaixo do recomendado e, consequentemente, maior a crise hídrica. O professor do curso de Engenharia Elétrica informou à reportagem que este problema poderia ter sido evitado, caso tivessem sido adotadas políticas públicas e planejamento em curto prazo.
“Essa crise poderia ser evitada desde o início da década passada, quando o Brasil passou a mudar sua matriz elétrica, que era composta em grande maioria por hidrelétrica, para fontes menos dependentes de fatores climáticos, com foco na eólica e solar, nos últimos anos, contrariando a tendência mundial. O Brasil não buscou um planejamento para os anos seguintes ou considerou as crises climáticas que viessem a afetar a geração de energia, como consequência, um ano ruim de chuvas compromete o abastecimento, faltou planejamento e mais investimento no setor”, relata.
A nova tarifa, que começou a ser aplicada em setembro, já assusta os brasileiros. Com poucos dias de aplicação, consumidores viram a conta de luz aumentar em 50%, fato que está sendo preocupante, principalmente para pessoas que não têm como diminuir o consumo. Este é o caso de Maria Eduarda, proprietária de um restaurante, em Mossoró.
Ela comenta que, após o reajuste da tarifa, a sua conta de luz chegou em R$ 1.500. Esse valor se deve ao grande número de freezers que tem no seu restaurante e nos equipamentos elétricos utilizados para a preparação dos alimentos. “Tenho quatro freezers que funcionam todos os dias, além da fritadeira elétrica e de outros utensílios que usamos diariamente. É um valor muito alto de energia, mas diante da nossa demanda, é impossível reduzir o consumo, já que precisamos funcionar diariamente”, informa Maria Eduarda.
Energias renováveis são boas opções para geração de energia auxiliar
No Rio Grande do Norte, 56,3% das cidades contam com sistemas fotovoltaicos para a captação de energia. Esse percentual é o terceiro maior do Nordeste, ficando somente atrás do Ceará, com 76,6%, e de Pernambuco, com 68,5%, conforme dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Números repassados pela Companhia Energética do Rio Grande do Norte (Cosern) mostram o avanço no número de unidades geradoras dessa matriz energética no Estado.
O Rio Grande do Norte é também o estado brasileiro com maior capacidade instalada de energia gerada por parques eólicos. Os números da ANEEL apontam o estado com 736,7 MW de capacidade instalada nos 29 parques em operação. Daniel Pablo Dantas, professor de Engenharia Elétrica da UnP, informa que tanto a energia solar quanto a energia eólica são boas opções de geração auxiliar de energia elétrica.
“É preciso destacar que um país não pode ser dependente de uma única fonte de geração, seja hidrelétrica, solar ou eólica. É preciso dinamizar a matriz de geração, onde cada fonte possa se complementar e cobrir as demais em momentos ruins. No caso da energia solar e eólica, o potencial a ser explorado ainda é enorme, poderíamos estar utilizando essas fontes como um suprimento alternativo ao hidrelétrico”, informa o professor.
Segundo o professor, as bandeiras tarifárias decorrem da utilização das usinas termelétricas, que além de poluentes têm custo alto de operação. “Infelizmente no Brasil quando temos crise hídrica ligam-se as termelétricas e o custo da conta aumenta. Explorando mais as fontes alternativas seria reduzida essa dependência e consequentemente o custo da conta de energia em tempos de seca”, explica.
O uso dessas energias renováveis vem sendo adotado pela própria população. No dia a dia, está sem crescimento o uso da energia solar em residências e empresas. Muitas casas já utilizam essa forma de energia para compensar o que é consumido. “Futuramente, a energia solar será usada não só como suporte para energia residencial, mas para o abastecimento de carros elétricos, que serão a regra no futuro. Já a energia eólica ainda possui pouco uso em residência, sendo mais focada na alimentação de cidades ou instalações de grande porte”, conclui o professor.
Tags: