Por Edinaldo Moreno/Repórter o JORNA DE FATO
Doença comum é silenciosa e frequentemente diagnosticada tardiamente, o câncer de ovário é o que tem a taxa de sobrevivência mais baixa entre todos os tipos de cânceres em mulheres.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a doença é a segunda neoplasia ginecológica mais comum, atrás apenas do câncer do colo do útero. A quase totalidade das neoplasias ovarianas (95%) é derivada das células epiteliais (que revestem o ovário). O restante provém de células germinativas (que formam os óvulos) e células estromais (que produzem a maior parte dos hormônios femininos).
Dados estatísticos indicam que apenas 45% das mulheres com câncer de ovário têm probabilidades de sobreviver por cinco anos, em comparação com 89% das mulheres com câncer de mama. Diagnosticado anualmente em quase 250 mil mulheres em todo o mundo, o câncer de ovário é responsável por 140 mil óbitos por ano.
Valdemir Ferreira, cirurgião geral e oncológico, explica que infelizmente o câncer de ovário não tem exames de rastreamento e destaca que a ausência desse rastreamento prejudica o diagnóstico precoce da doença.
“O câncer de ovário é frequentemente diagnosticado tardiamente porque infelizmente é um câncer que não tem exames de rastreamento como tem, por exemplo, outros cânceres como o de útero, mama e próstata. Quando você tem um tipo de câncer que não tem exames de rastreamento, é prejudicial para um diagnóstico precoce da doença na paciente”, disse o graduado em Medicina pela Universidade Federal da Paraíba.
O especialista também ressalta que o crescimento da lesão não causa dor e, por isso, o diagnóstico é tardio. A doença só começa a causar dor quando causa compressões e lesões em outros órgãos. Na fase inicial, o câncer de ovário não causa sintomas específicos. À medida que o tumor cresce, pode causar pressão, dor ou inchaço no abdômen, pelve, costas ou pernas; náusea, indigestão, gases, prisão de ventre ou diarreia e cansaço constante.
“Ele só começa a causar dor quando está causando compressões e lesões em outros órgãos: na bexiga, no intestino, na parte do aparelho digestivo e quando começa a ter líquido em grande quantidade. Neste caso começa a produzir líquido na cavidade abdominal lento e quando a paciente vai descobrir já e bem tardio porque o surgimento desse líquido não causa dor”, detalha.
O INCA, em sua página oficial, destaca que não há evidência científica de que o rastreamento do câncer de ovário traga mais benefícios do que riscos e, portanto, até o momento, ele não é recomendado.
Já o diagnóstico precoce desse tipo de câncer é possível em apenas parte dos casos, pois a maioria só apresenta sinais e sintomas em fases mais avançadas da doença. Os sinais e sintomas mais comuns e que devem ser investigados são: inchaço abdominal; dor abdominal; perda de apetite e de peso, fadiga; e mudanças no hábito intestinal e/ou urinário.
“Infelizmente, na maioria das vezes ele não tem sintomas e quando começam os sintomas são vagos, específicos. Muitas vezes são dores abdominais, aumento do volume abdominal, líquido na barriga”, falou Valdemar Ferreira.
“Quando ele só cresce geralmente só dar algum desconforto aumentando o volume abdominal. Às vezes, realmente também tem dor, o que causa falta de apetite. Na medida em que a doença vai evoluindo, ela tem complicações maiores como líquido nos pulmões, na cavidade abdominal, perda de peso, anemia grave”, acrescenta.
TRATAMENTO
A doença pode ser tratada com cirurgia ou quimioterapia. A escolha vai depender, principalmente, do tipo histológico do tumor, do estadiamento (extensão da doença), da idade e das condições clínicas da paciente e se o tumor é inicial ou recorrente. O médico explica que o tratamento mais adequado para o câncer de ovário é o cirúrgico.
“O ideal para o tratamento do câncer de ovário é sempre o cirúrgico. Dependendo em que fase se encontra a patologia, também é aconselhada a quimioterapia. Pode também começar pela quimioterapia e depois realizar o procedimento cirúrgico. Em alguns casos, na fase bastante inicial só o tratamento cirúrgico é o suficiente, mas infelizmente são poucos casos. Na maioria das vezes, para câncer de ovário o tratamento é quimioterapia e cirurgia, nesta sequência”, enfatiza.
O médico ressalta ainda que o câncer de ovário é uma doença que na fase inicial é praticamente assintomática. Segundo ele, são sintomas bem discretos. “Se tem um paciente que não faz consultas anuais regulares ou se não presta atenção na sua mudança de bexiga, passa despercebido”, alerta.
Fatores reprodutivos, hormonais e idade aumentam riscos de câncer de ovário
O Instituto Nacional do Câncer (INCA) elenca alguns fatores de riscos para o câncer de ovário. Idade, histórico familiar, reprodutivos, hormonais, genéticos e excesso de gordura corporal são os principais que podem causar a patologia em mulheres.
A incidência de carcinoma epitelial de ovário aumenta com o avanço da idade. O risco de câncer de ovário é aumentado em mulheres com infertilidade e reduzido naquelas que tomam contraceptivos orais (pílula anticoncepcional) ou que tiveram vários filhos. Por outro lado, mulheres que nunca tiveram filhos parecem ter risco aumentado para câncer de ovário.
“Um terço dos casos nas mulheres acima dos 65 anos é de câncer no ovário. Ou seja, um a cada três casos é maligno. Mulheres mais jovens, de menos de 45 anos, a cada 15 casos um é maligno. Em torno de 75% dos casos tem um diagnóstico tardio. Tem uma coisa boa. Algo próximo de 85% dos tumores das massas nos ovários são benignos. Só que esta situação de ser benigno ou maligno depende da idade”, disse Valdemar Ferreira.
A menarca (primeira menstruação) precoce (antes dos 12 anos) e a idade tardia na menopausa (após os 52 anos) podem estar associadas a risco aumentado de câncer de ovário. “A primeira vez que a mulher menstrua e a menopausa tardia também são fatores que podem estar associados ao câncer de ovário”.
A infertilidade é fator de risco para o câncer de ovário, mas a indução da ovulação para o tratamento da infertilidade não parece aumentar o risco de desenvolver a doença. O histórico familiar de cânceres de ovário, colorretal e de mama está associado a risco aumentado de câncer de ovário. Mutações em genes, como BRCA1 e BRCA2, estão relacionadas a risco elevado de câncer de mama e de ovário.
“A gente sabe que o câncer em sua base é uma doença genética, de histórico familiar, mas história de ausência de gestação, seja de nuliparidade, que a gente fala de infertilidade, ausência de gravidez, existe a mutação de genes bem conhecida BRCA, BRCA 1, BRCA 2; a mutação desses genes é fator de risco importante para o surgimento do câncer do ovário”.
Por fim, o excesso de gordura corporal aumenta o risco de desenvolvimento de câncer de ovário.
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