Quarta-Feira, 22 de janeiro de 2025

Postado às 10h45 | 02 Dez 2021 | redação Mesmo com adoecimento de servidores da saúde, Prefeitura de Mossoró retira direitos

Categoria protesta contra decisão do prefeito Allyson Bezerra de retirar 40% de adicional de insalubridade dos profissionais da saúde. Sindicato afirma que município continua recebendo recursos do Governo Federal para combater à pandemia da Covid-19

Crédito da foto: Cedida Servidores ocuparam a frente da UPA do bairro Belo Horizonte

Por César Santos / JORNAL DE FATO

Os servidores da saúde pública em Mossoró, principalmente os que continuam na linha de frente de combate à pandemia da Covid-19, estão sofrendo as consequências psicológicas de um trabalho diário árduo e que exige muito. Os profissionais estão esgotados e essa exaustão advém não só da proximidade com o elevado número de casos e mortes de pacientes, colegas de profissão e familiares, como também das alterações significativas que a pandemia vem provocando em seu bem-estar pessoal e vida profissional.

Uma pesquisa recente sobre as condições de trabalho dos profissionais da saúde no contexto da Covid-19, realizada pela Fiocruz em todo o Brasil, revela que a pandemia alterou de modo significativo a vida de 95% desses trabalhadores, principalmente nos aspectos físicos, emocionais e psíquicos.

Graves e prejudiciais consequências à saúde mental daqueles que atuam na assistência aos pacientes infectados foram também detectadas. As alterações mais comuns em seu cotidiano, citadas pelos profissionais, foram perturbação do sono (15,8%), irritabilidade/choro frequente/distúrbios em geral (13,6%), incapacidade de relaxar/estresse (11,7%), dificuldade de concentração ou pensamento lento (9,2%), perda de satisfação na carreira ou na vida/tristeza/apatia (9,1%), sensação negativa do futuro/pensamento negativo, suicida (8,3%) e alteração no apetite/alteração do peso (8,1%).

Mesmo diante de tudo isso, o prefeito Allyson Bezerra (Solidariedade) decidiu cortar direitos dos trabalhadores em saúde. Por meio de portaria, assinada em novembro, ele retirou 40% de adicional da insalubridade dos profissionais que trabalham diretamente no combate à Covid-19.

O prefeito alegou “falta de incentivo” do Governo Federal e que os servidores estão todos vacinados, versão que foi combatida pela vereadora Marleide Cunha (PT) e pelo Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Mossoró (SINDISERPUM). A vereadora cobrou, no plenário da Câmara, que Allyson apresentasse prova de que o Governo Federal havia cortado verba da insalubridade dos servidores da saúde.

O sindicato constatou que não é verdadeira a informação divulgada pelo prefeito de Mossoró, no que diz respeito à suspensão das verbas federais para o combate à Covid-19. “Se verificarmos no site do Fundo Nacional da Saúde veremos repasses a Mossoró somente nesse ano na ordem de R$ 15.305.397,00 unicamente para o combate à pandemia, entre manutenção e investimentos. Esses recursos não são somente para pagar prestadores não, são também para a rede própria se manter”, afirma a presidente do Sindiserpum, Elite Vieira.

De acordo com as informações do sindicato, somente com a Medida Provisória nº 1062, de agosto 2021, Mossoró recebeu mais de 8 milhões até outubro. Além disso, não caíram todos os repasses de novembro. As informações foram repassadas para o sindicato por meio de uma fonte segura, que não foi identificada no texto emitido pela assessoria do Sindiserpum.

 

Crueldade

No protesto realizado na terça-feira, 30, em frente à Unidade de Pronto-Atendimento (UPA), do bairro Belo Horizonte, os servidores da saúde chamaram a atenção para as vidas perdidas de profissionais que atuam naquela unidade e as consequências psicológicas ainda vividas.

A categoria considera a suspensão do adicional de insalubridade um ataque ao servidor, levando em consideração que a pandemia não acabou e que, recentemente, o estado registrou aumento no número de casos. “Os servidores estão vacinados, mas a pandemia não acabou. Os servidores continuam correndo risco”, afirma Elite Vieira.

“É uma insensibilidade e uma crueldade o que o prefeito Allyson Bezerra está fazendo ao retirar este direito aos trabalhadores que ainda estão no enfrentamento à pandemia, pois ela ainda não acabou e não cabe este discurso que esta ação se dá pelo fato deles já terem sido vacinados, pois a vacina não impede a infecção pelo vírus, apenas diminui as chances de morte”, desabafa a presidente do Sindiserpum.

 

Saúde do município vive o caos

Além da retirada dos direitos pelo prefeito Allyson Bezerra, os servidores da saúde também protestam contra a falta de estrutura nas unidades básicas (UBS) e de pronto atendimento (UPA) do município. Segundo eles, faltam medicamentos simples, como dipirona, itens de limpeza e de higiene pessoal.

Relatos feitos pelos servidores, com a falta de material básico no ambiente de trabalho, muitos levam de casa para garantir o bem-estar deles e dos pacientes.

A categoria aponta que uma máscara descartável é usada por 15 dias, falta de materiais básicos como papel-toalha e higiênico, gelo aos serviços de fisioterapia, falta de material odontológico e os ambientes são insalubres.

A ex-vereadora Aline Couto (PSDB), que diariamente faz um trabalho de fiscalização e recebe muitas reclamações da população, tem noticiado em suas redes sociais que o sistema de saúde pública do município vive um caos. A situação piorou muito, segundo ela, e não há sinalização por parte da gestão municipal se vai melhorar.

 

Pesquisa da Fiocruz no Brasil

- 43,2% dos profissionais de saúde não se sentem protegidos no trabalho de enfrentamento da Covid-19

- Para 23% deles, está relacionado à falta, à escassez e à inadequação do uso de EPIs 

- 18% relataram o medo generalizado de se contaminar no trabalho

- 10,4% denunciaram a insensibilidade de gestores para suas necessidades profissionais

- 15% reclamaram a ausência de estrutura adequada para realização da atividade

- 11% apontaram despreparo técnico dos profissionais para atuar na pandemia

 

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