Terça-Feira, 21 de janeiro de 2025

Postado às 09h00 | 24 Jan 2022 | redação Primeira pessoa vacinada em Mossoró: ‘único caminho para vencer essa doença é a vacinação’

Crédito da foto: Reprodução Enfermeira Clézia Cavalcanti recebeu a vacina aplicada pela secretária Morgana Dantas

Por Edinaldo Moreno/Repórter do JORNAL DE FATO

“Ser a primeira pessoa de Mossoró a receber a vacina, para mim, foi um mix de emoções. Era como se fosse uma coroação após uma intensa luta, uma subida em um pódio após uma grande corrida. Era esse o sentimento que me invadia naquele momento”.

Foi com essa frase que a enfermeira Clézia Cavalcante iniciou a conversa com JORNAL DE FATO. No dia 19 de janeiro de 2021, a profissional de saúde foi a primeira pessoa na segunda maior cidade do Rio Grande do Norte a receber a primeira dose da vacina contra o novo coronavírus.

Na última quarta-feira (19) completou um ano desse momento histórico no município. Clézia contou esse mix de emoções que sentiu naquele final de tarde e início de noite da terça-feira, dia 19 de janeiro de 2021.

“Eu estava alegre por garantir a minha imunização e saber que existia uma esperança para o fim desta pandemia, mas também muito triste por saber que meu irmão e outras milhares de pessoas não tiveram a mesma oportunidade que eu de tomar a vacina, ficar imune e protegida contra o vírus”, disse.

“Fiquei muito agradecida a Deus e a todos aqueles que me oportunizaram aquele momento único, de alívio, esperança e reconhecimento aos profissionais de saúde, que de forma tão delicada, lutam incansavelmente contra esse vírus”, acrescentou.

Clézia Cavalcante é irmã do médico Raimundo Clodovil Cavalcante da Silva. Ele foi vítima da Covid-19 e morreu atuando no combate à doença antes da chegada das vacinas ao município.

“Meu irmão morreu pouco tempo antes da vacina chegar; para ele, não deu tempo. Ao ter a oportunidade de tomar a vacina representou para mim naquele momento a esperança de sairmos dessa pandemia. Quando ele se contaminou e faleceu não tinha vacina, eram só mortes. Aquilo era terrível. Saber que podíamos pegar o vírus e morrer”, lembrou.

A profissional da saúde frisa o trabalho que está sendo realizado por todos os trabalhadores do segmento durante todo esse período de pandemia. São quase dois anos de medo e temor de uma contaminação e desenvolver a forma mais grave da doença, que pode levar à hospitalização ou até a óbito, em muitos casos.

“É um trabalho árduo, difícil, sobretudo, porque no início, tudo era novo, desconhecido. Ninguém tinha ideia de quanto tempo ia ou via durar e como ia ser. No início trabalhávamos com medo de nos contaminar e víamos tantos de nós perdendo a vida. Eu passei por isso, senti a dor de perder um ente querido”.

Clézia também comentou que, ao mesmo tempo, era visível as pessoas se aglomerando, sem usar máscaras, negando o perigo. “Isso dava um sentimento de dor, de revolta por saber que estávamos arriscando a vida enquanto outros debochavam, a começar pela autoridade máxima do país. Era com esse clima que tínhamos que encarar o trabalho e lutar”, comentou.

A enfermeira contou à reportagem do JORNAL DE FATO que não foi infectada pelo SARS-CoV-2, vírus causador da Covid-19, durante todo esse período de pandemia. Ela comenta que a chegada da vacina foi um divisor de águas.

“Graças a Deus não me contaminei, mas enfrentei, como falei a incerteza, o medo, a dor das perdas, a sensação de impotência de ver as pessoas doentes e não ter muito o que fazer, pois estávamos lutando contra um inimigo poderoso sem termos as armas necessárias para derrotá-lo. A chegada da vacina foi um divisor de águas, uma luz no fim do túnel para combater o inimigo. Com a vacina as coisas começaram a mudar”.

Ela disse que tomou as três doses da vacina contra o novo coronavírus e sente bem tranquila no momento, mesmo sabendo que ainda é necessário continuar tomando as medidas para diminuir a transmissão e contaminação como o uso de máscara, lavagem das mãos e distanciamento social.

No entanto, ela alerta que no momento os casos confirmados e as hospitalizações são, em seu maior número, de pessoas não vacinadas com nenhuma das doses ou com o ciclo de vacinação incompleto, neste caso sem tomar a segunda dose ou a dose de reforço. “Os dados vêm mostrando que os casos de internações e casos graves são de pessoas que não tomaram ou não completaram seu esquema vacinal”.

Clézia Cavalcante também contou que viu profissionais da área da saúde resistindo à vacina no início do processo de imunização contra a doença. Ela disse que chegou a chorar por diversas vezes por presenciar trabalhadores da área zombando da vacina. A enfermeira deixa um recado bem claro.

“Se vacinem! É a mensagem que eu deixo. Vi profissionais de saúde que no início resistiu à vacina. Vi também pessoas zombando das vacinas. Eu, às vezes, chorava e dizia: ‘se soubessem o que é perder um ente querido que amamos para esse vírus”, lamentou. “E o pior é que alguns retornaram após ter Covid e disseram que na realidade a doença não é brincadeira”, frisou.

Mossoró passou das 500 mil doses aplicadas nesta semana (foto: Allan Phablo/PMM)

Mossoró ultrapassou nesta semana a marca das 500 mil doses aplicadas contra a Covid-19. Os dados constam no sistema RN Mais Vacina, portal que acompanha em tempo real a vacinação em todo o Rio Grande do Norte contra o novo coronavírus. Até o fechamento desta edição, o número de doses aplicadas na segunda maior cidade do Rio Grande do Norte passava das 510 mil.

A enfermeira Clézia Cavalcante ressaltou que a vacinação em massa da população diminui a letalidade da doença e que esse é o caminho para reduzir o número de casos e óbitos provocados pelo vírus.

“A vacina em massa diminui a letalidade do vírus. Mesmo com cepas diferentes, devemos nos vacinar. Esse é o caminho e não existe outro para diminuir e se Deus quiser acabar com essa pandemia”. Disse.

“É necessário que todos se envolvam e se vacinem, compreendam que é a vacina que vai nos proteger. Se vacinem, vacinem as crianças, vacinem todos que você ama para que ninguém chore mais a dor de perder alguém”, completou.

O monitoramento de vacinação do RN Mais Vacina apontava que 77% da população mossoroense tinha tomado ao menos a primeira dose contra a Covid-19. Eram mais de 230 mil pessoas que receberam a D1.

“Temos que pensar no próximo. Você se vacinando se protege e protege o outro. Perder alguém que a gente ama por causa desse vírus é muito cruel, só sabe quem perdeu. É uma dor insuportável, carrego essa dor para sempre, então cuidem-se, com vacinas, máscaras, lavagem das mãos e mantendo distanciamento. Precisamos lutar para derrotar o vírus”, finalizou.

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