Por César Santos / JORNAL DE FATO
Os servidores públicos municipais de Mossoró decidiram deflagrar greve por tempo indeterminado. Decisão aprovada em assembleia geral nesta terça-feira, 29, com presença das mais diversas categorias do serviço público como agentes administrativos, merendeiras, agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias, assistentes sociais, técnicos em enfermagem, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, psicólogos, dentistas, auxiliares de serviços gerais, agentes de trânsito e da Guarda Municipal, motoristas, dentre outros.
As categorias não tiveram saída, segundo a presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (SINDISERPUM), Eliete Vieira, porque esperaram um ano e três meses por uma reunião frustrada, uma vez que a gestão municipal não apresentou qualquer proposta às reivindicações das categorias.
Eliete ressalta que a greve é a última instância no processo de luta pela valorização dos servidores, mas a gestão municipal não acreditava que as categorias tivessem a coragem de paralisar as atividades. Em melhor português, a gestão testou a paciência dos servidores.
O fato de a gestão municipal não apresentar uma proposta que seja suficiente aos servidores, não se justifica nesse momento. O Executivo acabou de receber da Câmara Municipal a autorização de crédito suplementar da ordem de R$ 183 milhões, além dos 25% previstos na própria lei orçamentária de 2022. Soma-se aí uma redução de mais de R$ 1 milhão/mês ou mais de R$ 12 milhões/ano no repasse à previdência municipal após a renegociação da dívida da Previ em 240 meses, também autorizada pela Câmara Municipal.
Como convencer aos servidores que o município não tem condições financeiras de reajustar os salários, diante da montanha de recursos que a gestão municipal vai mexer este ano? Para se ter ideia, somando o “cheque em branco” de R$ 183 milhões com os 25% de suplementação previamente autorizado, o prefeito Allyson Bezerra poderá mexer com 50% do orçamento geral de 2022. É muita grana.
O fato é que, além da falta de proposta ou de vontade política de atender as necessidades salariais dos servidores, a relação entre o prefeito e o sindicato que representa as categorias é muito ruim. E se deteriorou a partir da audiência que definiu a proposta de reajuste salarial dos professores, com base no novo piso do magistério. O prefeito fez propaganda que havia concedido o maior reajuste da história de Mossoró, quando os 33,67% diluídos em sete parcelas durante 19 meses não representam ganho no contracheque dos mestres.
Para piorar, na audiência da segunda-feira, 28, em que a gestão municipal não apresentou nenhuma proposta ao Sindiserpum, o prefeito mandou o seu time da mídia espalhar que estava autorizando reajuste de até 32% aos servidores, sem observar que a “bondade” é para quem, hoje, ganha menos de um salário mínimo, sem alcançar, claro, a maioria dos servidores municipais. Ainda por cima, a “bondade” será aplicada em forma de “abono”, um penduricalho que castiga ainda mais os menos favorecidos.
Pois bem.
A crise entre gestão e servidores descortina a personalidade do gestor municipal que estava acobertada pela estrutura midiática. O prefeito de diálogo, que respeita o servidor público, que trabalha para humanizar a máquina, nunca existiu. O que ocorre agora é que a máscara caiu. Allyson de cara limpa é assustador.
Mossoró paga o preço.
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