Por César Santos – Jornal de Fato
Os Abéis, a mais antiga oligarquia política em atividade da região do Alto Oeste do Rio Grande do Norte, decidiram lançar duas candidaturas à Câmara dos Deputados nas eleições deste ano: Kaline Amorim (MDB) e Lawrence Amorim (Solidariedade), que são esposa e sobrinho do líder da família, deputado estadual e candidato à reeleição Dr. Bernardo Amorim (PSDB). Kaline é tia afim de Lawrence.
A tradicional família controla, há décadas, os municípios de Almino Afonso e Rafael Godeiro. São irmãos, tios e sobrinhos que se revezam nas duas prefeituras.
Em 2018, Dr. Bernardo decidiu que era hora de os Abéis ocuparem maior espaço na política do RN, com a sua bem sucedida candidatura a deputado estadual. Ele foi eleito com 42.049, a terceira maior votação à Assembleia Legislativa. Na mesma eleição, Lawrence saiu candidato a deputado federal, ficando na primeira suplência de sua coligação.
Dois anos depois, a família avançou em Mossoró com a eleição de Lawrence à Câmara Municipal, que lhe deu, em seguida, a presidência do Legislativo no segundo maior e mais importante colégio eleitoral do estado.
Agora, em 2022, os Abéis vão tentar subir novos degraus com as três candidaturas e possibilidade de a partir de 2022 terem representantes na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados.
Não resta dúvida que a liderança política de Dr. Bernardo é inquestionável na condução da tradicional família. Agora, há um capítulo que precisa ser passado a limpo, sob pena de a opinião pública continuar comprando uma falsa ideia.
Lawrence Amorim, quando transferiu seu domicílio eleitoral para Mossoró, se elegeu vereador com o discurso que é preciso acabar com as oligarquias. Ele fez discurso forte contra conglomerados familiares em cargos públicos, mesmo que eletivos. O alvo era a tradicional família Rosado, que acabou perdendo o poder municipal.
O discurso de Lawrence deu certo, mas ele teve que esconder dos mossoroense sobre a sua origem político-familiar. Lawrence começou a carreira política ainda muito jovem, sendo eleito prefeito de Almino Afonso para suceder o tio Dr. Bernardo, e quando concluiu o seu segundo mandato transferiu o poder para outro tio, Waldênio Amorim (PSB), que foi sucedido por uma sobrinha, atual prefeita Jéssica Amorim (DEM), filha de Dr. Bernardo e prima de Lawrence.
Nesse mesmo período, em Rafael Godeiro, distante pouco mais de 10 quilômetros de Almino Afonso, a irmã de Lawrence, Ludmila Amorim (MDB), alternou no poder com outro tio, Dr. Abel filho, e mais recentemente, foi sucedida na Prefeitura pela tia afim Keké, esposa de Abel.
São quatro décadas de hegemonia política dos Abéis nos dois municípios alto-oestanos, com o carimbo de oligarquia política mais antiga e em atividade na região.
Pois bem.
A manutenção do poder é um direito legítimo de qualquer família e/ou conglomerado político, desde que eleitos, como de fato são, pela vontade do povo com o voto direto. Isso é democracia. Agora, não cabe se beneficiar da velha política e fazer de conta que é radicalmente contra a perpetuação de famílias no poder, como discursa Lawrence em Mossoró.
Fica o registro.
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