No Cafezinho com César Santos, o ex-deputado diz que o eleitor vai comparar a atual gestão estadual com o governo passado, que será representado nas eleições pelo ex-vice-governador Fábio Dantas. Mineiro faz duras criticas ao candidato a oposição
Todas as pesquisas divulgadas até aqui, dos mais diferentes institutos, apontam para o favoritismo da governadora Fátima Bezerra (PT), inclusive, com a possibilidade de ser reeleita já no primeiro turno. Para o ex-deputado Fernando Mineiro (PT), no entanto, as boas perspectivas não devem incentivar o salto alto dentro da campanha.
“Estamos na pré-campanha, o jogo ainda não começou, então, temos que trabalhar muito para que essa perspectiva de vitória seja confirmada nas urnas”, afirma durante longa entrevista ao “Cafezinho com César Santos”.
Ele diz que o eleitor vai comparar a atual gestão estadual com o governo passado, que será representado nas eleições pelo ex-vice-governador Fábio Dantas (Solidariedade). “Ele é o pai ou mãe do caos administrativo”, atacou. Mineiro, que é pré-candidato a deputado federal, acredita que o PT do Rio Grande do Norte ampliará a sua presença na Câmara dos Deputados, com a força da federação partidária que tem PCdoB e PV.
O petista também analisa a disputa para o Senado, onde a base política da governadora Fátima está dividida entre Carlos Eduardo (PDT) e Rafael Motta (PSB).
O PT formou federação com PCdoB e PV, o que teoricamente pode ser uma vantagem em relação aos concorrentes na disputa proporcional. O senhor, que tentará se eleger deputado federal, quais são as perspectivas?
Nós estamos trabalhando com a perspectiva não só de manter o mandato que o PT tem na Câmara dos Deputados, de Natália Bonavides, mas ampliar para pelo menos duas cadeiras. Tem uma novidade nessas eleições que é relacionada à questão das nominatas. Houve uma mudança de regra que proibiu as coligações proporcionais, criou as federações, e a consequência disso é que teremos várias nominatas, o que significa que nós vamos ter os votos muito pulverizados. Essa experiência já tivemos nas eleições municipais, mas agora será de caráter estadual com as disputas para Assembleia Legislativa e para a Câmara dos Deputados. Penso que vai abrir uma perspectiva muito boa pra nós, que estamos fazendo uma pré-campanha de muita aceitação. Estamos preparando o pessoal para as eleições e para a campanha propriamente dita, que começa depois de 16 de agosto.
O fato de o PT fortalecer a sua nominata com PCdoB e PV, amparado pela federação, representa uma vantagem em relação aos outros partidos?
Eu acho que em parte, sim, porque nós somos a única federação que vai disputar as eleições, os outros partidos vão de carreira solo, ou seja, mais individualizados. Também tem dois aspectos importantes: enquanto o bloco da oposição disputa com muitas nominatas, o nosso bloco é mais restrito, mais coeso. É um único bloco identificado com a candidatura do Lula e com a chapa da governadora Fátima, o que significa que as pessoas estão compreendendo que é necessário não só eleger o Lula, não só eleger a Fátima, mas também colocar ao lado do Lula e da Fátima pessoas que possam dar suporte à reconstrução do Brasil.
O seu projeto eleitoral se fortalece nesse contexto?
A minha pré-campanha é baseada em dois eixos. Primeiro, as propostas que eu tenho para o Estado, nas áreas que eu trabalho como educação, agricultura familiar, saúde, cultura, juventude, direitos humanos, enfim, todas as áreas que eu trabalho historicamente como parlamentar. Segundo, a nossa pré-campanha está afirmando que eu quero ser uma ponte entre o Rio Grande do Norte e o Governo Federal. O Rio Grande do Norte e Brasília. Quero ajudar o próximo governo da professora Fátima junto ao próximo governo do Brasil, que eu não tenho dúvida nenhuma que será Lula. A minha relação com Lula não é de agora, minha relação com o Lula não é de campanha eleitoral, ela vem do nascedouro do PT. Isso é importante para a gente estar mais próximo, dialogar olho no olho, chamar o pessoal para junto de nós, abraçar essa caminhada de uma maneira mais forte.
Todas as pesquisas divulgadas até aqui apontam para a reeleição da governadora Fátima Bezerra já no primeiro turno das eleições. Internamente, essa é a perspectiva do PT?
Estamos trabalhando com essa perspectiva, mas fundamentalmente trabalhamos no sentido da aprovação da sociedade para um novo governo da professora Fátima, que a vitória venha no primeiro ou no segundo turno. Eu sou do time que defende que nós precisamos conter o salto alto. Todos os adversários são duros, independente de quem quer que seja. A disputa vai começar ainda, mas nós estamos trabalhando para ganhar as eleições. Eu prefiro trabalhar dessa maneira para a gente combater uma coisa que é ruim, que é o já ganhou. Em disputa eleitoral não existe o já ganhou, nem a nível nacional nem estadual. Precisamos trabalhar e muito para consolidarmos as vitórias de Lula e da governadora Fátima.
O senhor tem levado essa mensagem para a discussão interna do PT?
Sou coerente em tudo que falo, inclusive, dentro do PT. Tenho dito aos companheiros que precisamos trabalhar, precisamos avançar ainda mais a nossa campanha que está bem. Acho que a população reconhece o trabalho que governadora Fátima tem feito, reconhece que ela e sua equipe reorganizaram o nosso estado, mas tem uma disputa política eleitoral, então a gente não pode menosprezar adversário, a gente não pode achar que o adversário não está se mexendo. O jogo tem vários atores, a gente não joga sozinho nas eleições, tem uma disputa que será muito acirrada, e também muito suja porque a carga de misoginia, a carga de ódio, a carga de preconceito que os adversários fazem contra o nosso governo e, principalmente, contra Fátima por ser uma mulher lutadora, de firmeza e com a história que ela tem. Eu vejo coisas nas redes sociais contra Fátima que eu tenho certeza que se fosse um homem, eles não tratariam dessa maneira. Fazem isso porque é uma mulher. É absurda e condenável essa carga conservadora de preconceito contra a mulher, de desrespeito contra a mulher, e principalmente contra a mulher na política. Tudo isso aí me leva a seguinte posição: vamos vencer as eleições, mas precisa ser mais e mais conquistada.
O principal pré-candidato da oposição, Fábio Dantas, foi vice-governador da gestão passada. Isso sugere que na campanha eleitoral o cidadão eleitor será chamado para comparar o governo Fátima com a gestão do ex-governador Robinson Faria?
Será uma comparação inevitável, porque a própria população já faz essa comparação. Isso não depende de nós, não depende de mim ou da governadora Fátima. É natural que o cidadão ou a cidadã olhe o que está acontecendo agora e se lembre como era no governo passado. Isso é inevitável. A população olha, por exemplo, para o ex-vice-governador e compara o que ele está falando agora e o que ele fazia quando foi vice-governador, isso é inevitável. Não somos nós que vamos dizer isso, não somos nós que vamos comparar, é o povo que compara. Não ver essa atitude do povo é tratar o povo como se fosse besta, como se fosse bobo e o povo não é bobo. O povo sabe quem é o ex-vice-governador, sabe o que ele fez nas eleições passadas, sabe o que ele fez no verão passado, como diz. Então sabe o que ele representa.
Mas, Fábio Dantas tem culpa pela gestão passada do ex-governador Robinson Faria, que terminou com uma desaprovação popular de mais de 80%?
Eu digo que ele é responsável pelo caos administrativo porque, como vice-governador, fez parte diretamente das ações do governo passado. Aliás, temos dito que ele, o ex-vice-governador, se aliou com o padrasto da reforma trabalhista (ex-ministro e pré-candidato a senador Rogério Marinho). Nós temos a dupla perfeita para a tragédia. Você tem o ex-vice-governador comandando o barco, meio escondido pelos bolsonaristas, diga-se de passagem, junto com o candidato a senador do bolsonarismo. É o casamento de ‘Tomé com Bebé’, ou o casamento do padrasto da reforma trabalhista com o pai ou a mãe do caos administrativo no estado.
A base de apoio político da governadora Fátima Bezerra vai dividida para a disputa ao Senado, com as candidaturas de Carlos Eduardo (PDT) e Rafael Motta (PSB). Esse enfrentamento é um problema para a campanha eleitoral?
A nossa campanha vai se desenvolver normalmente, não vejo como essa disputa possa trazer algum dano. Cabe a cada uma dessas candidaturas apresentar as suas propostas e conquistar os apoios que elas julgam necessários, como já estão fazendo. A gente gostaria de ter uma unidade maior, mas entendemos que é um direito do Rafael Motta apresentar o seu nome como pré-candidato a senador. O partido do Rafael, o PSB, não está na nossa federação, tem uma posição já debatida, definida, que será referendada nas convenções. Agora, respeitamos o direito de outros partidos, que apoiam Lula e Fátima, ter os seus candidatos que não estão na nossa federação, como é o caso do Rafael. Esse é um debate que vai ter o seu curso, digamos assim, melhor e mais definido, durante a campanha eleitoral. Nós estamos em pré-campanha ainda, é bom lembrar isso, nós não estamos no jogo principal. Eu fico brincando, dizendo que as pessoas que estão achando que as coisas já estão resolvidas, deviam lembrar que nós estamos no treino; a partida não começou ainda, ela só vai começar no dia 16 de agosto. Não estamos aquecendo os tamborins.
Isso é mais um alerta para evitar o que o senhor rotula de “já ganhou”?
Toda vez que é divulgada uma pesquisa que diz que a governadora Fátima ganha no primeiro turno, Lula ganha no primeiro turno, eu recebo essa pesquisa como incentivo para a gente continuar fazendo o trabalho. Não se ganha campanha de forma antecipada, é preciso trabalhar muito porque do outro lado tem candidatos que também estão trabalhando. Portanto, todas as pesquisas precisam ser vistas como elemento incentivador para continuar o trabalho e não o contrário. A gente não pode ver uma pesquisa positiva e ficar de braços cruzados porque estamos na frente; as coisas não funcionam assim.
O fato de Carlos Eduardo ter se aliado a Jair Bolsonaro em 2018, durante campanha contra Fátima Bezerra, não será um peso no discurso para convencer a militância e o eleitor do PT a votar nele para o Senado?
Acho que não. Teve muita gente que votou no Bolsonaro em 2018 e hoje não vota mais, como é o caso do Carlos Eduardo. O trabalho nosso é trazer pessoas que votaram no Bolsonaro na campanha passada para o nosso lado. Carlos Eduardo vir para somar conosco é o reconhecimento que o caminho que ele escolheu em 2018 estava errado. Muita gente, assim como ele, votou no Bolsonaro achando que o Brasil ia melhorar, e o que aconteceu? O Brasil piorou. Então, essas pessoas que votaram no Bolsonaro e que reconhecem que erraram e sabem que o Brasil piorou, nós queremos que elas venham para o lado de cá. Agora, tem gente que votou no Bolsonaro, continua votando no Bolsonaro, continua fazendo as ruindades do Bolsonaro, que devem ficar do lado de lá. Tem gente que é ruim por natureza, tem gente que é perverso político por natureza; esse está do outro lado.
Mas, como ficam as diferenças políticas e ideológicas? O senhor acha que o eleitor vai entender?
Temos diferenças, sim, elas existem, é fato. Temos a diferença, por exemplo, no caso do (Geraldo) Alckmin. Ele também ficou do outro lado em 2018 e hoje está conosco (é o vice na chapa de Lula). O que Lula tem nos ensinado? A gente precisa fazer um amplo palanque para reconstruir o Brasil. Nós podemos até ganhar as eleições, mas governamos sozinhos. Por isso nós estamos trazendo gente que estava do lado de lá. Eu quero que outros Carlos Eduardos venham para o nosso lado. Votou no Bolsonaro, está arrependido, viu que estava errado, viu que o Brasil piorou, então venha para o lado de cá. Esse agora é o lado de Carlos Eduardo, é o lado do Walter (deputado federal Walter Alves, do MDB, que será o vice na chapa da governadora Fátima Bezerra).
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