Segunda-Feira, 20 de janeiro de 2025

Postado às 08h45 | 18 Out 2022 | redação Candidatos com votação inexpressiva receberam R$ 18 milhões do Pros

Crédito da foto: Ilustração Fundo Eleitoral distribuiu muito dinheiro na campanha 2022

Por Gabriel Hirabahasi - Da CNN Brasil

O Partido Republicano da Ordem Social (Pros) repassou mais de R$ 18 milhões do fundo eleitoral para candidatos que tiveram resultado inexpressivo nas eleições deste ano. O valor corresponde a cerca de 20% do total que o Pros recebeu de sua cota do fundo eleitoral neste ano (aproximadamente R$ 90 milhões).

Esses candidatos não conseguiram atingir nem 500 votos nas disputas para a Câmara dos Deputados, em Brasília, ou por uma vaga em suas Assembleias estaduais. A baixa votação e os repasses vultosos que alguns dos candidatos receberam levantam suspeitas de que não tenha havido empenho por parte de alguns deles e que suas candidaturas tenham sido de fachada.

O cenário político partidário do Pros engloba, ainda, denúncias de corrupção de dirigentes partidários e disputa pelo comando da legenda, levantando ainda mais suspeitas sobre esses repasses.

A CNN apurou que integrantes da Polícia Federal que analisam casos envolvendo o Pros já receberam denúncias sobre alguns desses candidatos que serão descritos a seguir e analisam as acusações feitas contra a cúpula do Pros. O inquérito tramita em sigilo, segundo três fontes ouvidas pela reportagem.

O levantamento a seguir foi feito pela CNN cruzando dados da prestação de contas apresentada pelos candidatos à Justiça Eleitoral e o resultado eleitoral de cada um deles. Também foram analisados os históricos eleitorais de alguns desses candidatos.

Foram identificados casos de candidatos com recursos públicos e votações inexpressivas em 13 Estados (Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Roraima e São Paulo) e no Distrito Federal.

Desde o dia 10 de outubro, a CNN tem tentado entrar em contato com os citados nesta reportagem. Alguns não se manifestaram. Outros apresentaram explicações parciais, sem falar sobre a relação entre os grandes recursos públicos e o fraco resultado eleitoral que tiveram.

A CNN também entrou em contato com o advogado Bruno Pena, que defende o diretório nacional do Pros, comandado por Eurípedes Júnior. Pena alegou que o “partido não tem como prever” a votação que cada candidato terá e que os candidatos que disputaram as eleições saíram de chapas montadas por Marcus Holanda, ex-presidente da legenda contra quem Eurípedes disputa uma batalha judicial.

Nas eleições presidenciais, o Pros se aliou ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), depois que uma batalha judicial pelo comando da legenda retirou a candidatura de Pablo Marçal à presidência.

Candidata “reincidente” no Amazonas

Um dos quadros mais representativos é o de Adriana Moura de Mendonça, candidata à deputada federal no Amazonas. Ela recebeu R$ 3 milhões – quantia que os grandes partidos repassaram a candidatos competitivos e próxima ao teto de gastos que a campanha a deputado federal permite, de R$ 3 milhões.

Para efeito de comparação, o valor a que Adriana teve direito foi quase o mesmo valor que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, recebeu do PP para sua campanha à reeleição: R$ 3,1 milhões.

Apesar desses recursos dignos de candidatos puxadores de voto ou de “caciques” partidários, Adriana teve apenas 240 votos nas eleições deste ano, apesar de sua candidatura estar indeferida e em fase de recurso.

Além disso, a candidata é “reincidente” em receber recursos públicos e atingir votações irrelevantes. Em 2018, ela foi candidata à deputada estadual pelo mesmo Pros no Amazonas, tendo recebido 41 votos. À época, o partido repassou a ela R$ 177 mil que foram gastos, majoritariamente, com “atividades de militância e mobilização de rua”, segundo sua declaração de contas.

Nas eleições deste ano, a candidata declarou à Justiça Eleitoral já ter gastado R$ 1,5 milhão desse total, tendo sido R$ 750 mil com uma agência de publicidade, R$ 503 mil com uma gráfica e R$ 250 mil com a produção de programa partidário.

A CNN entrou em contato com as três empresas que prestaram serviços para sua campanha. Duas delas confirmaram a contratação, mas não forneceram exemplares dos produtos entregues (material de campanha impresso e programa partidário). A agência de marketing não respondeu aos questionamentos da reportagem.

A CNN também tentou entrar em contato com Adriana Mendonça. Os números de telefone registrados na Justiça Eleitoral, porém, não são da própria candidata, mas do presidente do diretório estadual do partido no Amazonas, Edward Malta. O político, que, neste ano, se apresentou como candidato a deputado federal –mas acabou renunciando–, também não respondeu aos questionamentos da reportagem.

 

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