Segunda-Feira, 20 de janeiro de 2025

Postado às 05h15 | 27 Nov 2022 | Deputada trans eleita espera ambiente hostil na Câmara Federal

Crédito da foto: Reprodução Duda Salabert: “Nós vamos enfrentar uma grande resistência”

Por Lucas Leiva - Congresso em Foco

Pela primeira vez na história, pessoas trans assumirão mandato na Câmara em fevereiro de 2023: as deputadas Duda Salabert, do PDT de Minas Gerais, e Erika Hilton, do Psol de São Paulo. Eleita com uma pauta voltada para a defesa dos direitos humanos e de combate à homofobia e transfobia, a nova parlamentar do Psol espera encontrar um ambiente hostil no Congresso por ser LGBTI+. Ela esteve em Brasília, onde circulou pela Câmara e pelo Centro Cultural Banco do Brasil (CBB), onde funciona o governo de transição.

Apesar da vitória eleitoral de Lula (PT), de perfil progressista, o Congresso que entra na próxima legislatura é majoritariamente conservador: o PL, principal partido de direita, terá 98 deputados. O Republicanos, de pauta conservadora, terá 39. O PP, principal sucessor do antigo Arena e ponto de encontro de diversos quadros conservadores desde a redemocratização, terá 47 parlamentares.

Esse cenário, para Erika Hilton, é de desvantagem para o avanço de pautas ligadas à defesa da população trans, ainda mais diante da resistência provocada pela derrota de Jair Bolsonaro nas urnas. “Nós vamos enfrentar uma grande resistência. Precisamos entender que a derrubada do Bolsonaro faz com que as esferas bolsonaristas fiquem ainda mais eufóricas, mais nervosas, mais afrontosas, então provavelmente vão atacar essa pauta”, disse a deputada eleita ao Congresso em Foco.

Além da dificuldade provocada por conta do próprio efeito das eleições, a deputada eleita também aponta para o histórico do próprio Congresso Nacional. “Será um Congresso hostil. Se olharmos a configuração de toda a história do Congresso Nacional, ele sempre foi omisso às pautas da população LGBTI+, então teremos, sim, uma hostilidade porque faz parte da própria característica do legislativo”.

Dois fatores já pendem em favor de Erika e demais parlamentares com interesse na defesa de projetos ligados à comunidade LGBTI+: o aumento da representatividade dessa população no Congresso e a própria eleição de um presidente amigável às suas pautas. “É um cenário diferente, com um governo de esquerda que pode ajudar a levar adiante algumas pautas muito importantes para nós”.

O terreno hostil, porém, não é novo para a deputada eleita, que já atuou tanto na Assembleia Legislativa de São Paulo quanto na Câmara Municipal da capital paulista. Erika diz que pretende se aproximar gradualmente dos demais deputados antes de decidir em quais projetos avançar. “É preciso ter contato com os pares para saber quais são as políticas que nós teremos fôlego e condição de levar adiante”, explicou.

Em sua experiência anterior, a escolha criteriosa de projetos acompanhada do reconhecimento de potenciais parceiros para a pauta LGBTI+ já garantiu resultado. “Na Câmara Municipal nós conseguimos avançar com projetos e contando ainda com apoio de pessoas da direita, até mesmo de bancada religiosa”, relatou.

Além de Erika Hilton e Duda Salabert, outras 18 pessoas LGBTI+ se elegeram nas eleições para cargos estaduais ou federais.

 

Pleito deste ano elegeu 20 candidatos LGBT

Por Caio Matos - Congresso em Foco

Levantamento do Programa Voto com Orgulho, da Aliança Nacional LGBTI+, apontou que 20 candidatos da comunidade LGBT foram eleitos no último dia 2 de outubro. A aliança monitorou o processo eleitoral deste ano e levantou 356 candidaturas LGBTI+; dessas, 233 (65%) acabaram como suplentes.

Foram eleitos 13 deputados estaduais, um deputado distrital, cinco deputados federais e uma governadora. Dos eleitos, seis são lésbicas; cinco mulheres bissexuais; quatro mulheres trans; dois gays; um homem bissexual e duas candidaturas sem registro quanto à identidade de gênero ou orientação sexual.

No Rio Grande do Norte, a governadora Fátima Bezerra (PT), reeleita no primeiro turno, foi a única pessoa da comunidade LGBT eleita para o governo estadual. A governadora sempre foi abertamente lésbica e já afirmou que em sua “vida pública ou privada nunca existiram armários”.

Pela primeira vez, a Câmara dos Deputados terá duas deputadas trans. Duda Salabert (PDT-MG) e Erika Hilton (Psol-SP) serão a primeira bancada trans na história da Casa legislativa. Também foram eleitas para as assembleias estaduais as candidatas trans Dani Balbi (PCdoB-RJ) e Linda Brasil (Psol-SE).

Pelos próximos quatro anos, a Câmara dos Deputados também terá a presença de Clodoaldo Magalhães (PV-PE), gay; Daiana Santos (PCdoB-RS), lésbica; e Dandara (PT-MG), bissexual. No entanto, nomes consolidados como os dos deputados federais Professor Israel Batista (PSB-DF) e David Miranda (PDT-RJ), ambos assumidamente gays, não estarão na Casa na próxima legislatura. Israel não obteve votos os suficientes para se reeleger, enquanto David está internado por conta de um problema de saúde e teve a candidatura retirada pela família.

Nas assembleias legislativas, outras vitórias para a comunidade LGBT. Reeleito para um segundo mandato, o deputado distrital gay Fábio Felix (Psol) foi o mais votado no Distrito Federal, com mais de 51 mil votos. É a votação mais expressiva que um deputado distrital já alcançou na história.

 

São Paulo é o estado com mais políticos LGBTs eleitos

São Paulo foi o estado com mais candidatos LGBTs eleitos, somando seis candidaturas. Além de dois mandatos coletivos LGBTI+ do Psol, foram eleitos Leci Brandão (PCdoB), lésbica; Thainara Faria (PT) e Ediane Maria do Nascimento (Psol), mulheres bissexuais; e Guilherme Cortez (Psol), homem bissexual.

Além de defender as pautas LGBTs, Guilherme Cortez é também é defensor do meio ambiente. Cortex ganhou destaque ao confrontar o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, durante um ato de campanha na cidade de Franca (SP), chamando o ex-ministro de “ecocida” e afirmando que ele promoveu um desmonte na legislação ambiental do país.

“Essa é uma bandeira muito cara para mim, essa geração tem o seu futuro tolhido por conta de atitudes contra o meio ambiente. Se nada for feito para reverter isso, a gente vai ter graves consequências no futuro. Isso é uma urgência para toda a população”, afirmou Guilherme ao Congresso em Foco.

Também foram eleitos para as assembleias legislativas Bella Gonçalves (Psol-MG), lésbica; Dani Monteiro (Psol-RJ), bissexual; Dra. Michelle Melo (PDT-AC), bissexual; Rosa Amoria (PT-PE), lésbica; e Verônica Lima (PT-RJ), lésbica.

A maioria dos eleitos são do Psol, com nove candidaturas; seguido pelo PT, com cinco eleitos.

“A votação deste ano trouxe um fato novo muito importante, que foi de eleger, pela primeira vez, pessoas trans para deputada federal num país que mais mata pessoas trans no mundo e o aumento da eleição de pessoas LGBTI+, com destaque para as mulheres lésbicas, bissexuais e trans para o legislativo estadual possibilitando maior representação nesses espaços”, afirmou Cláudio Nascimento, diretor de políticas públicas da Aliança Nacional LGBTI+ e integrante da equipe do Programa Voto com Orgulho.

Nascimento ressaltou que o número de candidatos LGBTI+ eleitos ainda é desproporcional em relação ao de candidaturas e que ainda há um grande caminho para se percorrer. “Temos uma grande dificuldade em obter apoio, recursos e tratamentos adequados dentro dos partidos políticos o que retrai a capacidade de representação política das agendas por direitos de nossa comunidade”, destacou.

Para o presidente da Aliança Nacional LGBTI+, Toni Reis, é preciso que os partidos valorizem e apoiem as candidaturas de membros da comunidade LGBT, que ainda sofrem com o preconceito por parte da sociedade.

“É fundamental ter uma cota de recursos e tempo de televisão para que essa representação política LGBTI+ seja maior no processo eleitoral e nos partidos políticos. Trabalharemos com as pessoas eleitas para que construamos estratégias de visibilidade e organização política para que nos próximos pleitos tenhamos uma maior representação”, destacou.

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