Por César Santos – Jornal de Fato
A primeira mulher reitora da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Ludimilla Amorim, pode escrever outro capítulo na história da instituição como a primeira dirigente da instituição a ter o cargo cassado, sob acusação de plágio em sua tese do doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
O futuro de Ludimilla começa a ser traçado nesta terça-feira, 27, pelo Conselho Universitário (CONSUNI). Uma reunião, marcada para as 14h, apreciará o pedido de sua destituição do cargo, feito pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) e pela Associação dos Docentes (ADUFERSA). O pedido está previsto nos termos do art. 61 do Regimento Geral da Ufersa, que exige o diploma de Doutorado para o cargo de Reitor (a), ou que esteja nos dois níveis mais elevados da carreira.
A reitora perdeu o título de doutorado no início deste mês, após da Reitoria da UFRN ter acatado uma denúncia, feita em 2020, de plágio em 44% de sua tese. Ludimilla apresentou defesa no processo administrativo na UFRN, mas não obteve sucesso. Também tentou reverter a decisão na 1ª Vara da Justiça Federal no Rio Grande do Norte, sem êxito.
Na semana passada, após ter recurso rejeitado pela Justiça Federal do RN, Ludimilla anunciou que recorrerá da decisão em todas as instâncias. O próximo passo será no Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5), com sede em Recife-PE. Se não lograr êxito, vai ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Nesta segunda-feira, 26, a reitora usou as suas redes sociais para afirmar que só sai de sua cadeira e de sua missão quando a última palavra for dada, e ela ainda não chegou. “Temos instâncias a serem vencidas e toda a mentira, armação, tentativa de assassinato moral e intelectual irão ser esclarecidos, na justiça dos homens e na de Deus. Calma! As tentativas para me sucumbir só me fazem mais forte. O que está comigo é o maior: e Ele é Deus, tudo só irá até onde Ele permitir.”
E mais: “O final dessa história será mais claro que a luz do sol. Ninguém e nada consegue ser superior à verdade. Então, é aguardar tudo acontecer, enfrentarei tudo e todos de cabeça erguida. Não estou ilegal, cumpro um mandato e, quanto ao meu título, ainda tenho defesa e ela vai me livrar dessa tortura psicológica, muito semelhante a um campo de concentração nazista.”
Próximo passo
O jornalista Saulo Vale, que acompanha os bastidores da crise na Ufersa, noticiou nesta segunda-feira, 26, que a tendência é de que na reunião de hoje, o Consuni oficialize uma comissão para conduzir o processo legal. A comissão será formada por cinco professores doutores, um estudante e um técnico administrativo.
O grupo terá prazo de 30 dias para coletar materiais sobre a denúncia feita pelo DCE e Adufersa, que foi aceita pela UFRN. A partir daí, o Consuni decidirá com base no relatório produzido pela comissão.
A decisão final sobre possível mudança na Reitoria da Ufersa será do Ministério da Educação (MEC), com base no relatório que será construído pelo Consuni, caso acate o pedido de destituição da reitoria.
Se em caso da cassação do mandato da reitora, o cargo será ocupado pelo professor e doutor mais velho dos quadros da Ufersa, conforme previsto no Regimento Geral. Por consequência, será antecipado o processo eleitoral para escolha do novo reitor ou reitora da instituição.
Crise política e ideológica afeta a Ufersa
A crise que vive a Universidade Federal Rural do Semi-Árido é de ideologia política e se estabeleceu a partir da nomeação de Ludimilla Carvalho Serafim de Oliveira pelo então presidente da República, Jair Messias Bolsonaro (PL). O anúncio da nomeação ocorreu no dia 21 de agosto de 2020, durante passagem de Bolsonaro por Mossoró.
O que seria um marco na história, já que o presidente estava nomeando a primeira mulher reitora da Ufersa, transformou-se em uma ”bomba” dentro da instituição. A esquerda universitária reagiu com rigor, justificando que Ludimilla foi apenas a terceira colocada na consulta à comunidade acadêmica, logo, não representava a vontade democrática da maioria dos docentes, técnicos e estudantes.
A esquerda queria a nomeação do professor doutor Rodrigo Codes, o mais votado com 37,55%. Codes é um ativista político e lidera o movimento dentro da instituição. Ele ficou à frente do professor Jean Berg, que recebeu 24,84% dos votos e de Ludimilla Oliveira, que recebeu apenas 18,33%.
A nomeação de Ludimilla não foi um ato ilegal, afinal, ela compôs a lista tríplice e o presidente da República pode escolher um dos três nomes, mas, politicamente, ela não conseguiu estabelecer um cenário positivo. Pelo contrário. Desde que assumiu o cargo, trava luta política dentro da instituição, principalmente com dirigentes do DCE.
Foi o DCE que levou a acusação de plágio da tese de doutorado da reitora e apresentou a denúncia à UFRN, que tem em seu comando dirigentes com militância na esquerda. A reitora, inclusive, afirma que o julgamento na UFRN foi político, garantindo que não cometeu qualquer irregularidade na construção de sua tese de doutorado.
Tags: