Deputada estadual e pré-candidata a prefeita de Mossoró, Isolda Dantas defende a construção de uma frente ampla para as eleições do próximo ano. Entrevistada no Cafezinho com César Santos, a parlamentar faz críticas contundentes ao atual prefeito
Por César Santos / Jornal de Fato
Deputada estadual de segundo mandato e pré-candidata à prefeita de Mossoró, Isolda Dantas (PT) defende a construção de uma frente ampla, reunindo todos os grupos de oposição, inclusive a ex-prefeita Rosalba Ciarlini (Progressistas), para livrar o que ela considera Mossoró do atraso.
Na tarde de sexta-feira, 17, a parlamentar tomou o “Cafezinho com César Santos”, na sede do Jornal de Fato, quando falou de suas possibilidades eleitorais para 2024 e afirmou, sem tergiversar, que o seu nome está aberto para dialogar com todos os segmentos de oposição.
Isolda considera o prefeito Allyson Bezerra (União Brasil) uma “fraude” e faz duras críticas ao gestor municipal. Leia:
A senhora foi aclamada pela militância do PT para disputar a Prefeitura de Mossoró nas próximas eleições. O seu partido hipotecou a sua pré-candidatura?
Sim. Esta semana fizemos reunião da executiva do partido para encaminhar um calendário de atividades para fortalecimento do projeto. O PT, inclusive, tem nos cobrado para fazer mais atividades de pré-campanha e vamos avançar nisso. A reunião desta semana foi muito proveitosa. A vereadora Marleide Cunha, que faz uma oposição muito firme na Câmara, colocou a importância de a gente intensificar as questões do partido sobre as eleições do próximo ano e nós vamos fazer isso. Nós não queremos fazer isso sozinhos e o diálogo que nós temos tido com a federação é muito importante. Antes do PT apresentar o meu nome como pré-candidata à prefeita, tivemos reunião muito boa com o PCdoB, que sempre foi o nosso grande parceiro de lutas. Nós ampliamos o diálogo e encaminhamos pontos importantes. Um fato que nos motiva bastante é que o PT hoje está mais unido do que nunca. O PT é um partido extremamente democrático, inclusive, tem a possibilidade de prévia se existir mais de uma candidatura, mas, não é o caso, uma vez que há uma unidade muito forte em torno do nosso nome.
Quando a senhora fala que o PT vive hoje um momento muito importante, faz referência ao fato de o partido ter voltado ao Poder central com o presidente Lula e renovar o mandato da governadora Fátima Bezerra no RN?
A gente está vivendo um momento muito importante. O PT hoje está no Governo do Estado, está no Governo Federal e isso nos proporciona a possibilidade de estabelecer o debate sobre Mossoró. Estamos prontos para isso. E essa unidade em torno do meu nome demonstra a maturidade do PT. O partido em Mossoró teve uma renovação de lideranças muito forte, eu, Marleide, Plúvia (primeira suplente de vereadora), entre outros nomes, e traz em si todo um processo de amadurecimento que passamos. Tem uma coisa para nós da esquerda muito importante que foi o que nós vivenciamos nos últimos anos. Todos sabem que o que aconteceu com o Brasil não foi uma coisa simples. Isso exigiu do PT e das lideranças uma postura de muita firmeza, mas também de muita confiança, porque a gente tinha a obrigação de fazer a leitura das dificuldades da conjuntura, mas manter a esperança da militância. Isso não foi fácil. Quem acompanha a história do Brasil sabe, e a gente também achava isso, de que não seria em pouco tempo que a gente traria a democracia de volta. Imaginava-se que isso demoraria 20 anos, a exemplo de outros períodos que a política registrou. Mas, felizmente, a mudança veio mais cedo do que imaginávamos.
Mas, deputada, o país ainda vivencia uma polarização muito forte, que certamente vai persistir por mais tempo, a senhora não acha?
É verdade. O Brasil vive uma polarização muito forte, mas, repito, o restabelecimento da democracia veio mais cedo do que imaginávamos. Isso tornou o PT ainda mais forte, as lideranças estão mais concentradas, com mais foco, e acho que isso terá uma influência positiva para o processo político em Mossoró. O partido amadureceu, as novas lideranças sabem da importância de construir um projeto para a cidade e isso, estamos certos, vai acontecer com abertura de novos diálogos com o conjunto da oposição.
Na plenária do PT, a senhora defendeu a união de forças para enfrentar o prefeito Allyson Bezerra em 2024. A senhora se referiu à formação de uma frente ampla de oposição?
Sim, defendemos a construção de uma frente ampla para as eleições do próximo ano, porque precisamos tirar Mossoró do caos que vive hoje. Eu nunca vi uma gestão tão desorganizada, uma gestão que vive de conflito, de gerar fatos na mídia, sem foco, e isso é um atraso muito grande. Eu digo isso porque Mossoró é a cidade que escolhi para viver. Eu não sou daquelas pessoas do quanto pior melhor, mas o que temos visto em nossa cidade é muito grave. Estamos falando da segunda maior cidade do estado, com muitas possibilidades para se desenvolver, mas a gente vê uma gestão totalmente incapaz de conduzir esse processo. O cavalo está passando selado e o prefeito está apenas preocupado com o seu ego. Isso é tão triste, porque ele não debate sobre o que é melhor para a cidade, mas, sim, fica disputando gestos, pulinhos, punho fechado, e isso é muito pequeno para Mossoró. Veja que o prefeito decidiu fazer enfrentamento permanente aos servidores públicos, ignorando a importância que as categorias têm para o funcionamento da máquina pública. Eu comparo Allyson a Rogério Marinho (senador da República), que escolheu os trabalhadores como inimigos. Rogério foi o “pai” da reforma trabalhista, fez questão de atingir os servidores públicos com a retirada de direitos. É o que está acontecendo em Mossoró.
Como assim, deputada?
Veja que o prefeito de Mossoró se negou a cumprir direitos dos servidores, como a não implantação do novo piso salarial dos professores e professoras. Depois, teve aquele episódio na Câmara Municipal, onde os servidores foram massacrados com retirada de direitos. E, mais recentemente, de forma absurda, o prefeito está perseguindo a guarda municipal. Nós temos informações de perseguições cruéis, que beiram à desumanidade, contra os guardas que ousaram protestar contra o prefeito. Determinados guardas foram colocados em lugares muito perigosos, sem ter porte de arma, como se fosse vingança. São relatos que a gente escuta e é muito importante que essas denúncias sejam averiguadas pelas autoridades competentes. Os servidores não podem enfrentar esse tipo de absurdo. Por isso, que eu defendo que temos que montar uma frente ampla para livrar Mossoró do atraso.
Essa união de forças, que a senhora fala, cabe agentes políticos que o PT resistia no passado, por exemplo, a ex-prefeita Rosalba Ciarlini?
Eu não vou falar de nomes, mas vou falar de visão para cidade de Mossoró. Nós estamos dialogando com todos. Eu já disse ao PT que o meu nome é o nome do diálogo, ou seja, está aberto para dialogar com todos os outros grupos de oposição. Nós precisamos levar em conta o que é mais importante nesse momento. Aqui não é retórica, nós não podemos deixar Mossoró parada no tempo. A nossa cidade tem muito potencial e isso pode ser perdido por uma gestão incompetente, sem projeto, sem rumo. Hoje nós temos um Governo Federal que olha para os municípios, mas o prefeito é alguém nada republicano, é deselegante e, por consequência, ignora outras instâncias. É inadmissível a cidade receber a sede do Governo do Estado por três dias e o chefe do Executivo municipal não ir receber a chefe do Executivo estadual. Ele não tem a obrigação de concordar com a governadora Fátima, mas tem a obrigação de representar a cidade de Mossoró. Então, quando eu falo de uma frente ampla, estou defendendo a construção de um projeto para a cidade, que essa frente possa oferecer uma nova oportunidade a Mossoró. É importante ressaltar que numa frente ampla nem todos pensam iguais, existem divergências sobre várias questões, mas tem algo que nos une que é exatamente Mossoró. A cidade não pode continuar governada por redes sociais. Ficamos tristes por tudo que Mossoró está passando, e questionamos: como a cidade poderia ser melhor, quantas possibilidades poderiam ser agarradas.
Deputada, essas críticas não são de quem já vive um clima de campanha eleitoral?
Não. Nós temos responsabilidade com Mossoró. O que falamos aqui é a realidade que a cidade enfrenta. Estamos falando aqui sobre um prefeito que não entendeu a importância do cargo que ocupa. Para se ter uma ideia, o prefeito negou a doação de um terreno para o Governo do Estado construir a unidade do IERN de Mossoró. Todos os IERNs já estão com obras em fase de acabamento, mas na nossa cidade sequer foi iniciado. O Governo do Estado teve que comprar um terreno (bairro Santo Antônio), mas houve um questionamento da Justiça sobre o valor e, por isso, o IERN daqui ainda não teve a construção iniciada. Tem também o Caic do bairro Carnaubal, que está abandonado, e o Governo do Estado tem um projeto para implantar um centro de esportes e arte, mas o prefeito Allyson não abre mão. Isso é tão pequeno que nós temos que fazer esse enfrentamento e isso justifica a união da oposição em uma frente ampla. Então, vamos partir da ideia do que nos une, e não do que nos separa. E o que nos une é uma visão para Mossoró, uma cidade que pode e deve, como diz a nossa governadora Fátima, entrar nos trilhos do desenvolvimento. Basta de picuinha, de murrinhos, de pulinhos, de chapéu de couro na cabeça, que isso é ridículo para um gestor público de uma cidade da importância de Mossoró. Quando eu falo de uma frente ampla, é esse fio condutor que vai nos conduzir até 2024.
O atraso de quase três anos para aquisição de um castramóvel para Mossoró, mesmo com dinheiro em caixa, de uma emenda parlamentar de autoria do seu mandato, é um recorte dessa avaliação negativa que a senhora faz da gestão Allyson?
Sobre isso, eu entrei com uma ação no Ministério Público Estadual para fazer com que o prefeito utilize os recursos e compre o castramóvel, e não deixar acontecer o que fizeram com a emenda do ex-deputado Beto Rosado, no valor de 200 mil reais, que utilizaram para contratação de clínica. Nós tivemos uma audiência no Ministério Público na quinta-feira (16) e a secretária de Saúde do município (Morgana Dantas) assumiu o compromisso de a Prefeitura comprar o castramóvel. Nós afirmamos que não abriríamos mão desse investimento. Foi um compromisso que assumimos com o movimento da causa animal. Agora, esse processo para aquisição do castramóvel é muito absurdo. Os recursos estão na conta da Prefeitura desde dezembro de 2020. Em abril de 2021, eu me reuni com o prefeito Allyson e ele garantiu que em quatro meses resolveria a compra. Seis meses depois, eles suspenderam a licitação porque discordaram dos valores apresentados por uma empresa vencedora do processo e, por pura falta de responsabilidade do prefeito, até hoje a cidade de Mossoró continua sem um castramóvel. Isso demonstra a pequenez do prefeito. Se ele pensasse grande na política, observaria que o castramóvel seria da prefeitura e não da deputada Isolda, e isso é uma coisa boa para a cidade. Mas, a questão de Allyson é que ele não quer reconhecer o mérito de quem trabalha e faz em prol de Mossoró.
A senhora quer dizer que o ego do prefeito está acima dos interesses coletivos?
Allyson Bezerra foi deputado estadual dois anos comigo e ele nunca procurou um diálogo, uma parceria, em prol de Mossoró. Simplesmente ignorou. O que ele reproduz hoje em Mossoró, de certa forma, fez quando esteve na Assembleia Legislativa e lá ele passou por situações constrangedoras. Então, não é isso que Mossoró merece. Allyson foi uma fraude eleitoral, porque ele dizia que era um líder sindical, mas persegue os servidores; que faria uma gestão preparando Mossoró para o futuro, mas não tem qualquer projeto nesse sentido; prometeu implantar o processo democrático nas escolas do município, mas não faz eleição direta para escolha de diretores e vice-diretores. Tem mais: a cidade precisa de um hospital municipal para desafogar o Hospital Regional Tarcísio Maia e oferecer melhor assistência à população, mas o prefeito ignora. Por que ele não colocou a construção de um hospital na lista de obras desse empréstimo de 200 milhões de reais que fez junto à Caixa Econômica Federal? É inadmissível uma cidade como Mossoró não ter um hospital municipal. Ele é uma fraude, e Mossoró sofre com isso.
Deputada, vamos falar agora sobre o projeto de manutenção da alíquota do ICMS em 20% que tramita na Assembleia Legislativa. A senhora acredita que o plenário da Casa aprovará o projeto, mesmo com reação da oposição e de setores dos segmentos produtivos do estado?
Primeiro, é importante contextualizar esse debate. Em 2022, o ex-presidente Bolsonaro teve uma medida eleitoreira de desonerar o ICMS, sem pensar nas consequências para os estados e municípios. Só o Rio Grande do Norte teve um prejuízo de arrecadação do imposto de 80 milhões de reais por mês; por gravidade, os municípios perderam 25% desse valor. Isso foi um impacto muito grande nas contas públicas dos estados e municípios. Foi preciso, então, a aprovação de uma lei aumentando de 18% para 20%, que está em vigor desde o dia 1º de abril deste ano. Agora, o que está em debate não é o aumento do imposto, mas, sim, a manutenção no patamar de 20%, mas com outro foco bem mais importante para o futuro do Rio Grande do Norte, em consequência da reforma tributária que está em fase final de aprovação no Congresso Nacional.
A senhora está se referindo à criação do Imposto de Valor Agregado, o IVA, que vai substituir o ICMS e outros impostos?
Exatamente. O IVA vai concentrar vários impostos e, quando entrar em vigor, ele será baseado na arrecadação dos últimos quatro anos. Ou seja, será feita a média de arrecadação e, daí, definido o patamar de cada estado. Se o Rio Grande do Norte voltar o ICMS para o patamar de 18%, o estado perderá 750 milhões de arrecadação por ano e isso terá impacto negativo na hora de converter os impostos no IVA, e isso representará um prejuízo muito grande as contas públicas estaduais. Veja que os outros estados estão fazendo a sua parte; Pernambuco aumentou a alíquota do ICMS para 21,5%, Piauí subiu para 21%, Ceará, 20%, Paraíba, 20%. Todos já aumentaram, só o Rio Grande do Norte que ainda está dependendo da aprovação do projeto na Assembleia Legislativa.
Então, o que está acontecendo no Rio Grande do Norte é um debate político e não de interesse coletivo?
É exatamente isso. Agora, é preciso que todos tenham a consciência que se o projeto não for aprovado e o ICMS do nosso estado voltar para o patamar de 18%, o Rio Grande do Norte ficará numa situação de muita desvantagem em relação aos outros estados. Por isso, esse debate precisa ser feito com muita seriedade, não pode ser um debate meramente político. Nós não podemos abrir mão de nossa capacidade de representação popular que temos. Veja que estamos discutindo o Rio Grande do Norte depois de 2026, quando o IVA entrará em vigor, quando a governadora Fátima já terá, inclusive, concluído o seu mandato. Mas, quero dizer que, na minha opinião, a Assembleia Legislativa aprovará o projeto; o governo terá os votos necessários.
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