Por César Santos – Jornal de Fato
Nesta segunda-feira, 8, completa-se um ano da realização dos atos antidemocráticos que resultaram na invasão criminosa e na depredação dos prédios do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF), localizados na Praça dos Três Poderes, em Brasília (DF).
Uma cerimônia será realizada no Salão Negro do Congresso Nacional, a partir das 14h, para relembrar o episódio. Estarão presentes os chefes dos Três Poderes, com falas previstas os presidentes da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT); do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG); do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso; da Câmara, Arthur Lira (PP-AL); e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.
A governadora Fátima Bezerra (PT), chefe do Executivo do Rio Grande do Norte, representará os governadores dos 26 estados e do Distrito Federal.
Nos últimos dias, líderes dos Poderes Executivo, Legislativo e do Judiciário falaram sobre os atos antidemocráticos e, alguns fizeram declarações graves que precisam ser apuradas. Confira:
Alexandre de Moraes: “Não seria uma prisão, seria um homicídio”
O ministro Alexandre de Moraes, do STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), afirmou, em entrevista ao jornal O Globo, que o episódio não foi vandalismo, mas, sim, “uma tentativa de golpe”. Moraes revelou que havia um plano para enforcá-lo:
"O primeiro [plano] previa que as Forças Especiais [do Exército] me prenderiam em um domingo e me levariam para Goiânia. No segundo, se livrariam do corpo no meio do caminho para Goiânia. Aí, não seria propriamente uma prisão, mas um homicídio. E, o terceiro, de uns mais exaltados, defendia que, após o golpe, eu deveria ser preso e enforcado na Praça dos Três Poderes. Para sentir o nível de agressividade e ódio dessas pessoas, que não sabem diferenciar a pessoa física da instituição", contou.
Moraes admitiu que as investidas violentas eram "algo que já esperava". "Não poderia esperar de golpistas criminosos que não tivessem pretendendo algo nesse sentido. Mantive a tranquilidade. Tenho muito processo para perder tempo com isso. E nada disso ocorreu, então, está tudo bem".
O ministro ainda disparou: "Esses golpistas são extremamente corajosos virtualmente e muito covardes pessoalmente. Chegam muitas ameaças, principalmente contra minhas filhas, porque até nisso são misóginos. Preferem ameaçar as meninas e sempre com mensagens de cunho sexual. É um povo doente".
Por fim, de "lição" do episódio, o ministro disse que fica a necessidade de "impedir a continuidade dessa terra sem lei das redes sociais". "Sem elas, dificilmente [os atos golpistas] teriam ocorrido de forma tão massiva", acredita.
Lula responsabiliza o ex-presidente Jair Bolsonaro
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse, em entrevista à CNN, que não imaginava que algo como os ataques de 8 de janeiro pudesse acontecer no Brasil e responsabilizou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo ocorrido.
“Eu não imaginava que a ignorância tivesse chegado a tal ponto, sabe, de um presidente sem controle emocional, desmoralizado pela quantidade de mentiras contadas durante toda a campanha, tivesse inventado uma coisa daquela”, disse. “E o que é vergonhoso é que inventou e fugiu. Não teve coragem de participar”.
Na ocasião, Bolsonaro não estava no Brasil, mas nos Estados Unidos, onde ficou do fim de dezembro de 2022 até o fim de março de 2023. Apoiadores do ex-presidente, porém, estavam, desde o fim da disputa presidencial de 2022, na frente de quartéis pelo Brasil, questionando o processo eleitoral. O próprio ex-presidente não chegou a dizer que aceitava o resultado da eleição após a divulgação da vitória de Lula no segundo turno.
Lula disse que não imaginava que a invasão pudesse ocorrer também porque já havia disputado “muitas eleições”. “Eu perdi três eleições seguidas”, lembrou. “Ou seja, quando a gente perdia, a gente voltava pra casa e ia chorar as mágoas”.
À CNN, Lula lembrou que, em 8 de janeiro de 2023, estava em Araraquara, cidade no interior de São Paulo, para ver “a destruição de um córrego por causa de uma tempestade que tinha acontecido”.
"Aí eu fui avisando, porque tinha gente vendo televisão na prefeitura, que estavam invadindo os prédios. Aí eu fui para a sala de televisão e fiquei vendo a invasão aqui no Palácio (do Planalto), fiquei vendo a invasão, fiquei vendo as manifestações. Liguei para algumas pessoas aqui. Liguei para o Flávio Dino (ministro da Justiça). Outras pessoas me ligaram. E foi um momento de tensão. Ou seja, era uma coisa, eu diria… que eu não imaginei que poderia acontecer no Brasil novamente."
Luís Roberto Barroso: “mistura de religião com ódio”
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, fala de uma nova “patologia”, percebida por ele, que é a “mistura de religião com ódio”, a partir dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.
Com base no depoimento dos policiais judiciais, Barroso declarou que os manifestantes que invadiram a sede do STF naquela data, quebraram os itens e, depois, ajoelharam-se e rezaram.
“O que mais me impressionou no relato dos seguranças da Polícia Judicial é que as pessoas misturavam ódio com religiosidade. Elas quebravam tudo com uma violência e depois se ajoelharam e rezaram. Essa foi uma novidade, uma patologia, a mistura de religião com ódio”, disse Barroso.
Antes disso, o ministro falou, sem citar o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro, que lideranças importantes faziam ataques ao Supremo para abalar a credibilidade da instituição e de seus integrantes.
“Nós vivemos um período em que lideranças importantes do país atacavam regularmente as instituições e procuravam abalar a sua credibilidade. E ofendiam pessoalmente os seus integrantes. Então acho que isso foi uma parte do processo.”
E continuou:
“A outra parte do processo foi a difusão do ódio. E aí as plataformas digitais, as redes sociais, tiveram um papel misto de campanhas de desinformação com discursos de ódio e frequentemente com mentiras para tirar a credibilidade das pessoas.”
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