Jair Bolsonaro, direita. José Dirceu, esquerda. Os dois fizeram recentes declarações que geraram polêmica política. O que se pode analisar das opiniões de ambos? O ex-presidente criticou, indiretamente, o seu partido – PL –, ao contestar o deputado Valdemar da Costa Neto, por ter afirmado, em entrevista, que Lula é “um camarada do povo”, mas “não tem o carisma que Bolsonaro tem”. José Dirceu advertiu o seu partido – o PT –, alertando a necessidade de “uma atualização política, teórica, de organização, para enfrentar os desafios”.
O ex-ministro criticou com veemência a postura de integrantes do partido, contrários a medidas defendidas pelo ministro da Fazenda. Qualificou como “uma covardia não dar apoio total a Haddad para aprovar todas as medidas que ele queria"
O bolsonarismo é um fenômeno político que transcende a própria figura de Jair Bolsonaro. Caracteriza-se por visão ultraconservadora. Defende os ‘valores tradicionais’ e a retórica “nacionalista” e “patriótica”. Por isso, assume posições inflexíveis contra tudo aquilo que considere próximo à esquerda e ao progressismo.
O PT, fundado em fevereiro de 1980, identifica-se com as ideias da ultraesquerda. Defende bandeiras como a participação política dos trabalhadores, a construção de um partido voltado às massas, maior presença do estado e a luta contra o sistema econômico e político vigente.
O traço comum às duas siglas são posições internas autoritárias e intolerantes. O PT, por exemplo, puniu os deputados Luiz Bassuma e Henrique Afonso, por se posicionarem contra o aborto.
Já o PSL, partido pelo qual Bolsonaro foi eleito, expulsou o deputado Alexandre Frota (SP) da legenda, por ele não poupar críticas ao ex-presidente. Posteriormente, irrompeu crise entre Bolsonaro, seus filhos e Luciano Bivar, então presidente do PSL, que culminou com a saída dos bolsonaristas do partido. A disputa envolvia o controle das verbas milionárias do fundo partidário.
Com esses precedentes, Bolsonaro agora insurge-se contra o presidente do seu partido, deputado Valdemar da Costa Neto. Já iniciado o processo das eleições municipais, sair do PL e filiar-se a outro partido seria operação perigosa. O imperador Tang Taizong, um dos maiores líderes da história, dizia que é necessário ao líder ter a humildade suficiente para ouvir sugestões e reclamações. Com a reação do ex-presidente fica em risco o seu próprio projeto político.
O ex-deputado José Dirceu, tido como a “cabeça pensante do petismo”, contesta a postura de lideranças do PT, incluindo a presidente da legenda, deputada Gleisi Hoffmann, questionando publicamente propostas de Haddad para a área fiscal, consideradas por eles uma "política dura de austeridade".
Vê-se esquerda e direita em situações idênticas. Dirceu, com razão, chamando a atenção para as consequências negativas de posições partidárias fora da realidade. Bolsonaro, por simples declaração do presidente do seu partido, abre dissidência interna, sem a noção de que o seu próprio barco poderá naufragar.
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