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Postado às 08h21 | 03 Mai 2017 | Edinaldo Moreno Silveira Júnior e Jório Nogueira tiveram ligações telefônicas interceptadas pela PF

Interceptações mostram o ex-prefeito Silveira Júnior agindo junto a vereadores e empresários

Crédito da foto:

Edilson Damasceno/Da Redação
 
A ação judicial que tramita na 3.ª Vara Criminal de Mossoró e que versa sobre o desencadeamento da Operação Vulcano foi iniciada a partir da necessidade que a polícia teve, juntamente com o Ministério Público, de averiguar indícios de corrupção envolvendo a Câmara Municipal de Mossoró e a classe empresarial do segmento de venda de combustíveis na segunda maior cidade do Rio Grande do Norte. Em março, surgiram os primeiros indícios de que o então presidente da Câmara Municipal de Mossoró, vereador Silveira Júnior (PSD) – que em 2014 se tornaria prefeito em eleição suplementar –, estaria envolvido no que o Ministério Público viu como sendo corrupção ativa e peculato e que envolveria aprovação de lei para alterar o Código de Postura para atender interesses comerciais.
 
Em 8 de março de 2012, com autorização judicial, o Ministério Público conseguiu escutar conversa entre Silveira Júnior e o empresário Sérgio Leite, do Posto Olinda. Naquele dia, Silveira estava em Porto Alegre (RS), mas adiantou quais seriam os procedimentos. No dia 13 do mesmo mês, Sérgio Leite entrou em contato com o também empresário Otávio Augusto Ferreira, do grupo Fan, para combinar horário em que o grupo de empresários teria de se reunir com Silveira na Câmara Municipal para discutir como seria a alteração no Código de Postura.
 
Foto: Carlos Costa
 
 
No dia 9 de abril, em conversa com o também então vereador Claudionor dos Santos, com alguém identificado como HNI, adiantou como deve ser a alteração da lei que contemplaria os empresários. HNI, nesse caso, é Silveira Júnior. Na conversa telefônica dele com Claudionor dos Santos, Silveira afirmou que o também então vereador Genivan Vale estaria “fechado” com a ideia e citou abertamente o Atacadão, que tinha interesse em construir posto de combustível em sua área e que desagradou à classe empresarial da cidade.
 
Em 30 de abril, um diálogo curioso entre Silveira Júnior e o empresário Otávio Augusto Ferreira foi interceptado. Nele, Silveira fez a cobrança de algo que é atribuído como sendo o pagamento pelo acordo feito entre ele e a classe empresarial à aprovação da alteração do Código de Postura. Nessa conversa, ficou evidenciado.
 
Os diálogos telefônicos captados pela Polícia Federal mostram que caberia ao então presidente da Câmara Municipal atender os interesses da classe empresarial do ramo do setor de combustíveis com pagamento de propina aos vereadores em troca de votos favoráveis ao projeto que, à época, estava em discussão na Câmara Municipal. Em 2 de maio de 2012, conversa entre Silveira Júnior e o vereador Jório Nogueira evidenciou bem o esquema.
 
 
Conversa de Silveira com Jório Nogueira
 
 
SILVEIRA – Jório?
JÓRIO – Rapaz, estou aqui na Câmara. Não vai ter sessão não, né?
SILVEIRA – Rapaz, eu não sei não. Eu sei que eu não vou não porque eu estou organizando aqui o evento de hoje à noite. Eu estou mobilizando.
JÓRIO – E qual o cheque que ia entrar hoje que você disse?
SILVEIRA – Não. Não vai entrar hoje não. Vai ser na terça. Mas eu já tive uma conversa com o menino lá... Foi muito boa, viu? Depois eu lhe digo a você... Porque feriado não teve como vir nada. Olavo viajando, todo mundo... vai ser tudo na próxima semana. Os dois.
SILVEIRA – Deixa eu dizer a você. Eu marquei com Júlio dez horas aqui em casa. Se você puder vir com ele aqui no meu apartamento.
JÓRIO – Vou.
SILVEIRA – Pra gente ver o negócio do evento, dessas coisas e eu explicar a você isso aí, viu?
JÓRIO – Tá bom. Vai ser aonde?
SILVEIRA – No Hotel Sabino.
JÓRIO – Hein?
SILVEIRA – No Hotel Sabino. O outro não teve jeito não. Eu paguei lá R$ 180,00 na sala lá. Tem que ser lá, viu?
JÓRIO – Tá bom. Tá certo.
SILVEIRA – Viu? Aí você venha de dez horas pra cá, mas venha só. Não traga ninguém daí não.
JÓRIO – A nossa reunião vai ser aonde? Lá no Sabino, né?
SILVEIRA – É. A nossa vai ser lá no Sabino, viu?
JÓRIO – Pronto.
SILVEIRA – Se Doca de... tiver aí, avise que eu não tô conseguindo falar com ele não.
JÓRIO – Como é?
SILVEIRA – Doca de Saci não tá aí não, né?
JÓRIO – Tô vendo ele aqui não.
SILVEIRA – Não, tudo bem. Eu localizo ele aqui. Pode deixar. Tchau!
 
 
Conversa de Silveira com Otávio Augusto Ferreira
 
 
SILVEIRA –Amigo, tudo bom? Alô...
OTÁVIO – Fala, Silveira.
SILVEIRA - Tudo bom, amigo?
OTÁVIO – Tudo bem, irmão?
SILVEIRA – Ei, o carro nem foi hoje, viu?
OTÁVIO – Como é? Foi não, né?
SILVEIRA – Foi não. Você lembra lá pra quarta-feira, porque o dia era hoje, viu?
OTÁVIO – Não, tranquilo, cara.
SILVEIRA – Você podia tá esquecendo, aí eu tô lembrando a você (risos), viu?
OTÁVIO – (Risos). Quarta-feira, rapaz, eu mandei... Eu mandei, eu agendei lá hoje, viu?
SILVEIRA – Pronto. Não, tudo bem, aí não tem pressa não...
OTÁVIO - Eu mandei pra lá hoje, aí eu acho que quarta-feira já tá ok.
SILVEIRA – Não, beleza então, sabe que... Como não deu certo aí, não entrou lá, sabe... Pra consertar na oficina.
OTÁVIO – Entendi!!
SILVEIRA – Aí o cara ligou pra mim: Rapaz, você nem mandou lá pro cara da oficina. Eu disse: Não, eu vou ligar pra saber o que foi que houve.
OTÁVIO – (Risos).
SILVEIRA - Pois é, só isso mesmo. Um abraço.
 
 
Conversa de Silveira com Claudionor
 
 
CLAUDIONOR – Diga aí, meu chefe.
HNI (Silveira) – Dizer a você, eu tô pegando aqui projeto, lá, certo?
CLAUDIONOR – Certo.
HNI – Aí é o que a gente achou melhor. A gente aprovar, amanhã, tudo amanhã. Aprovar aquele projeto que a Prefeitura mandou por segundo. 250 metros, que era de 50 metros para 250 metros?
CLAUDIONOR – Hum.
HNI – Certo? Aprovar esse projeto e já outro em seguida, certo? Incluindo uma emenda que a... Com o nome condomínios, entendeu?
CLAUDIONOR – Hum!
HNI – Por quê? Porque em relação ao Atacadão, tem o Alphaville ali de lado, né? E tem o Sunvile (fonético) nas costas, entendeu?
CLAUDIONOR – Ham!
HNI – Então, entendeu? Até por questão de segurança mesmo da população, entendeu? Ficava 250 metros matava. Agente aprovava só isso aí, aprovava aquele outro, com supermercados 250 metros, aquele primeiro da Prefeitura, sabe?
CLAUDIONOR – Hum!
HNI – Aprovava aquele e já em seguida a comissão já tava apresentando uma emenda incluindo o condomínio. Aí se você quiser eu tiro, dou uma cópia a você pra ver se a gente aprovava isso amanhã.
CLAUDIONOR – Quero, quero, eu quero uma cópia.
HNI – Olha, Layrinho já concordou. Genivan já concordou. Jório já concordou, certo? Então...
CLAUDIONOR - Certo.
HNI - Viu? Pronto, valeu.
CLAUDIONOR – Eu tô aqui no gabinete. Se você quiser mandar deixar uma copiazinha aqui.
HNI – Rapaz, Genivan tá fechando... Eu tô com ele aqui, tá até no meu carro, aí ele vai imprimir aqui. Quando ele entregar, eu lhe entrego.
CLAUDIONOR – Combinado.
HNI – Viu, pois valeu. Mas é pra votar amanhã, viu?
CLAUDIONOR – Tá certo, pois, combinado.

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