Terça-Feira, 25 de fevereiro de 2025

Postado às 09h45 | 14 Out 2018 | Redação César Santos: eleição tomada pelo ódio fere a democracia verde e amarela

Crédito da foto: Ilustração Brasil está dividido

Por César Santos/JORNAL DE FATO

O segundo turno das eleições começou no rádio e na televisão com os programas de Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) bem agressivos. Um tentando desconstruir o outro. Corrupção e homofobia foram as faixas de destaque – negativo – no conteúdo levado ao ar na sexta-feira, 12. Os dois lados sequer respeitaram a data que os brasileiros prestam homenagem a Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil.

Assim deve caminhar a disputa presidencial porque não há, de lado a lado, nenhum sinal de que as armas – sujas – serão retiradas da campanha. Pelo contrário. A previsão é de agravamento do confronto. Quem está atrás, tenta aniquilar o adversário, visto e tratado como inimigo de morte, e quem está na liderança, usa as armas letais para não deixar o inimigo se aproximar.

O acirramento marginal das eleições faz lembrar a primeira disputa presidencial pós-redemocratização, em 1989, entre Lula e Fernando Collor. Os dois insultaram-se em rede nacional, transformando os programas que deveriam ser de propostas em agressões de toda ordem. Quem não se lembra de Lula acusando Collor de ser filho de uma família que “mata trabalhador rural”; e Collor acusando Lula de planejar “luta armada”, inspirado em “Hitler e Khomeini”?

Hoje, três décadas depois, Bolsonaro trata Haddad como um “filho” da corrupção, doutrinado do Foro de São Paulo, que fará do Brasil uma Cuba ou uma Venezuela. Haddad responde que Bolsonaro mergulhará o país na barbárie.

Até as igrejas de todos os santos, mas que têm só um Deus, são peças de joguetes no campo da batalha eleitoral. No feriado da padroeira do Brasil, Haddad acusou um “eleitor de Bolsonaro” de chamar a Igreja Católica de “comunista” e de igreja “gay”. Bolsonaro rebateu, afirmando que “O PT agora tenta jogar católicos e evangélicos uns contra os outros.” Essa estratégia é tão agressiva quanto idiota: em um país laico, como o nosso, envolver igrejas na campanha eleitoral é completamente inapropriado, não rende absolutamente nada em termos de simpatia e voto.

O discurso de ódio levado ao ar pelo postulante verde-oliva e pelo candidato petista é refletido nas redes sociais e nas ruas. Segundo levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), a violência por motivação política gera 2,7 milhões de postagens desde que o segundo turno começou, contra 1,1 milhão nos 30 dias anteriores à eleição.

Nas ruas, eleitores de lado a lado sofrem agressões verbais e físicas e ameaças de morte. Um capoeirista eleitor do PT foi morto por um eleitor do Bolsonaro, embora o assassino confesso tenha negado motivação política; e o próprio Bolsonaro sofreu uma facada deferida por um militante político, que confessou ter tido motivação política para enfiar a faca na barriga no candidato do PSL.

Diante de tal cenário, que supera a batalha chula e violenta entre Collor x Lula de 1989, deve ser dito, de forma bem preocupante, que Bolsonaro e Haddad, incentivando a intolerância política em seus programas de rádio e televisão, criaram uma atmosfera tóxica sem precedente e ameaçadora. O país está em risco. A massa gente precisa ser protegida. São os candidatos que têm essa responsabilidade. Bolsonaro e Haddad precisam ser enfáticos contra a violência.

Chega de intolerância, chega de violência, chega da divisão, chega de guerra. Escolher os governantes, através da decisão livre pelo voto, é um exercício de democracia; e as eleições são o meio em que o povo reflete sobre o estado do país e escolhe pacificamente o futuro que quer.

É inaceitável que saia das urnas um presidente eleito que tenha transformado a campanha eleitoral em campo de guerra. E nesse jogo sujo, não há inocente. Nem Bolsonaro nem Haddad.

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